Colisor de partículas será ligado hoje na Suíça

Para comemorar, cientistas do projeto LHC promoveram ?festa do fim do mundo? ontem; especialistas alertam para riscos do experimento

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Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

Um grupo de cientistas de todo o mundo organizou ontem em Genebra uma festa pouco comum: The End of the World Party (A festa do fim do mundo). No subsolo da fronteira da Suíça com a França, os mesmos cientistas que organizaram a balada realizam hoje, a partir das 4 horas (horário de Brasília), o maior experimento da história da física. Depois de 20 anos de preparação e mais de US$ 8 bilhões em investimentos, o Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo, vai entrar em funcionamento. O plano é arrojado, recriar as condições que existiam menos de 1 segundo após o Big Bang para tentar desvendar questões como: Do que é feita a matéria? Como funciona? Por que as partículas têm massa? O que é a matéria escura? Entenda como funciona e quais as respostas que o LHC procura Há quem desconfie, porém, que tanta ousadia científica vai dar mesmo é no fim do mundo. "Não há perigo nenhum", rebate Andrei Loginov, físico russo que participa do projeto e organizou a confraternização de ontem. "Sempre existem aqueles que acreditam em risco. Mas não tem nada disso, e a festa é só uma boa desculpa para comemorar." Dentro do túnel de 27 km, dois feixes de prótons serão acelerados em tubos de vácuo a 99,99% a velocidade da luz - suficiente para dar 11 mil voltas por segundo no anel. Um feixe correrá no sentido horário e outro, no anti-horário, sempre paralelamente, a não ser por quatro pontos onde se cruzam, dentro de gigantescos detectores. Cada feixe, com 2.808 aglomerados de prótons, vai viajar com uma energia equivalente à de um caminhão de 3.200 kg viajando a 1.700 km/h. A cada colisão, serão geradas as partículas que os detectores vão analisar. Hoje, os controladores da Organização Européia para Pesquisas Nucleares (Cern) injetarão o primeiro feixe no LHC, na expectativa de que ele dê uma volta completa no anel. Além do fascínio exercido pelas dimensões do experimento e por suas pretensões nada modestas, o LHC também suscitou muita polêmica. No início do ano, um grupo de cientistas entrou com processo nos EUA pedindo a interrupção do projeto, alegando que o choque de prótons criaria um buraco negro. Na semana passada, outro grupo apresentou denúncia ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos pedindo o embargo do experimento. A petição foi assinada por uma centena deles, entre os quais o professor de bioquímica alemão e teórico do caos Otto Rössler. Para eles, não houve um teste definitivo de segurança do LHC. O porta-voz do Cern, James Gillie, garante que não há motivo para preocupação. Na realidade, a maior dor de cabeça da entidade é legitimar os investimentos bilionários dos últimos anos. Para alguns, ninguém sabe se os resultados terão valor para a ciência.

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