Coisas que eu queria saber aos 21

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Por Redação
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Aos 21 anos eu estava na metade do curso de Biologia da USP. Ainda não tinha descoberto que não sabia como o mundo funciona. Imaginava que era bom em matemática. Dominava matrizes e polinômios, mas não tinha a menor ideia de como calcular a melhor forma de pagamento de uma calça. Comparar uma oferta à vista com uma a prazo? Esse era um problema menor, que não merecia a atenção de um futuro cientista. Nessa época eu acreditava que o ensino na USP era gratuito. Demorou anos para perceber que era pago. Toda a população de São Paulo estava pagando pela minha educação. Sabia calcular a velocidade com que uma maçã cai no vácuo, mas não sabia traçar o caminho percorrido pelo dinheiro que sai do nosso bolso e termina no de um funcionário público ou no cofre do fabricante do motor de um barco. Nunca me explicaram que a maior parte do que aprendemos na escola jamais será usada de forma direta. Não imaginava que a função de grande parte do que estudei era treinar o pensamento lógico, a capacidade de aprender sozinho e de me expressar. Quantas vezes, depois de sair da escola, você vai calcular uma raiz quadrada? Nenhuma. Tinha uma visão determinista do mundo, achava que tudo era movido por leis e regras, como a ciência mecanicista das aulas de química, física e biologia. Levei anos para aprender que a vida é muitas vezes regida pelo acaso. São tantos os caminhos determinados pelas relações pessoais, por sentimentos, processos randômicos, pela aleatoriedade dos eventos da rotina... A vida é muito mais interessante do que podemos prever com base no que sabemos aos 21."

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