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CNBB enfatiza ''dimensão afetiva''

Documento aprovado em assembleia de bispos reforça o celibato e que homossexuais não devem ser padres

Por José Maria Mayrink
Atualização:

O documento Diretrizes para a Formação dos Presbíteros , aprovado ontem na 47ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que termina amanhã em Indaiatuba, enfatiza a dimensão humano-afetiva dos seminaristas, ressalta que o celibato é uma exigência e que homossexuais não devem ser ordenados padres. Leia a cobertura na íntegra da reunião dos bispos e do novo documento O texto final será divulgado após autorização do papa Bento XVI. Sem grandes novidades conceituais em comparação com as diretrizes aprovadas na assembleia de 1994, o documento é mais extenso e dá mais espaço a questões como formação intelectual, prática pastoral e amadurecimento psicológico. Ao enumerar os desafios que o presbítero enfrenta, os bispos alertam que a Igreja está vivendo "uma mudança de época que, além de alterar paradigmas estabelecidos, questiona, prescinde ou nega os valores de muitas instituições". No campo afetivo, "percebem-se mudanças no modo de as pessoas se relacionarem, com a reinvenção dos vínculos amorosos e da transformação da intimidade." Com 388 artigos e 97 páginas, antes dos acertos finais, o documento divide-se em três partes: Coordenadas da Formação Presbiteral, Formação Inicial e Formação Permanente. A segunda parte, mais extensa, aponta critérios de discernimento que os formadores devem adotar para saber se o candidato tem vocação. Além da maturidade sexual, condição indispensável para o celibato, o texto dá importância à motivação, pois é necessário descobrir se o candidato não resolve ser padre, por exemplo, por causa de problemas de identidade sexual, desilusões amorosas ou fuga de compromissos estáveis. O documento consagra o modelo de seminários atualmente adotado: um ano de propedêutico (preparatório), dois de Filosofia e quatro de Teologia. Após acompanhamento vocacional, os alunos devem morar em seminários ou casas de formação, sob a orientação de formadores que ensinem a doutrina da Igreja, sem prejuízo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Na grade curricular, os estudos filosóficos introduzem Estética ou Filosofia da Arte e Introdução à Economia. No curso de Teologia, a novidade é Administração Paroquial. O latim segue obrigatório. Os seminários são aconselhados a ensinar grego e hebraico, além de alguma língua moderna. Os futuros padres devem estudar, de preferência, em instituições católicas. Antes do diaconato, mas após o curso de Teologia, os seminaristas podem fazer o Ano Pastoral, em que passam a viver numa paróquia ou outro tipo de comunidade. Na terceira parte, são destacados novos desafios pastorais, como a evangelização de grandes centros urbanos, favelas, grupos de espiritualidades diferentes e os meios de comunicação social. Entre os cursos de especialização, mestrado e doutorado, o episcopado dá preferência àqueles que refletem "o contexto social e a vida pastoral" da Igreja. A seguir, trechos do documento. VOCAÇÃO "A vocação é condição para assumir o ministério presbiteral. Isto significa que ninguém pode arrogar-se o direito de escolher o ministério de presbítero com base unicamente em suas aspirações. A avaliação da autêntica vocação deve levar em consideração as aptidões objetivas do candidato, a livre determinação da vontade na opção vocacional e as motivações conscientes e inconscientes. (...) Considere-se igualmente o descompasso entre as motivações declaradas e suas motivações inconsistentes, tais como: fuga de compromissos estáveis com o casamento e a família; problemas de identidade sexual; desilusões amorosas, despreparo pra enfrentar a dura realidade do mundo do trabalho e do mercado; busca ilusória de segurança e bem-estar na vida de padre; fascínio pela figura social do padre; busca de honras presumidas na função de padre." HOMOSSEXUALIDADE "Os vocacionados, de modo geral, encontram-se na fase de construção de sua personalidade, que abarca a sexualidade. Eles podem apresentar uma identidade sexual desintegrada que fragmenta a sua personalidade e a sua vida psíquica como sujeito humano, seja ele hetero ou homossexual, religioso ou não. No campo da sexualidade há possíveis "distúrbios incompatíveis com o sacerdócio". (...) Os candidatos devem ser ajudados a alcançar a experiência positiva e estável da própria identidade viril e a capacidade de relacionar-se de modo amadurecido com outras pessoas ou grupo de pessoas." CELIBATO "Sempre que um formando, não obstante a ajuda recebida, manifestar atitudes não condizentes com o compromisso da castidade, ou lhe faltarem aptidões para a vida celibatária, não deverá continuar no processo formativo. (...) O celibato é uma escolha de amor que nasce do fascínio por Cristo." Mais informações na pág. C6

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