Cingapura une tradição a método progressista de ensino

Desempenho da educação impressiona professores britânicos visitantes

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Por Mike Baker
Atualização:

A chave do sucesso do sistema educacional de Cingapura, considerado um dos melhores do mundo, talvez seja a rara combinação entre ensino e disciplina tradicionais e uma abordagem holística, baseada na criança, concluíram professores britânicos que visitaram o país. Atualmente, Cingapura figura entre os três melhores sistemas educacionais do mundo em matemática e ciências, é o quarto melhor país em leitura e, segundo especialistas, está na dianteira do mundo em qualidade de ensino. O detalhe é que um índice de 80% dos alunos cumprem o período mínimo de escolaridade, de 16 anos, mesmo assistindo as aulas na sua segunda língua e em salas com 35 alunos. No país, a educação é a maior prioridade do governo, e não é apenas retórica, até porque Cingapura é desprovida de recursos naturais (tem até de importar água) e sabe que só pode sobreviver pela sua capacidade intelectual coletiva. Após a visita, organizada pela instituição beneficente CFBT Education Trust, uma diretora assistente de uma escola do centro da Inglaterra disse que esperava encontrar "um currículo bastante tradicional, alunos sentados em fileiras, o professor na frente, estudantes ali prontos para aprender". Na verdade, foi o que ocorreu, afirmou. Mas havia muito mais, relatou a profissional britânica: métodos tradicionais combinados com ideias mais progressistas, um ensino com o foco na criança como um todo e não apenas nos resultados dos exames. Comparações internacionais sempre são difíceis, pois é fácil esquecer que aquilo que funciona num país não vai prosperar em outro. Mas Cingapura tem muitas semelhanças com o Reino Unido. A língua oficial nas escolas é o inglês, há um currículo único e os exames nacionais são iguais aos realizados aos 16 anos e aos 18 e 19 na Inglaterra, administrados pelo Cambridge Assessment. Logo ficou muito claro para os professores britânicos que os desafios também eram similares. Até porque Cingapura também é uma sociedade multicultural e os alunos são obcecados por celulares e jogos de computador. Durante a visita, professores de Cingapura disseram aprovar a maneira como o ministério apoia as iniciativas direcionando fundos para elas. Como disse um ex-diretor de uma escola do país, o sistema se baseia no "apoio de cima para baixo para iniciativas que vêm de baixo para cima". Todos os profissionais de ensino e diretores são contratados do Ministério da Educação e regularmente transferidos de escolas. O governo de Cingapura também estimula o aprendizado fora da sala de aula custeando as visitas escolares, os clubes e as atividades extracurriculares, o que permite que elas se tornem compulsórias, explicaram. E os alunos normalmente recebem notas pela participação. Na última reforma, o Ministério da Educação anunciou que todas as escolas do ensino básico passariam a funcionar da mesma maneira: os alunos do fundamental teriam aulas pela manhã e as escolas de educação infantil abririam na parte da tarde. Isso significou salas de aula com menos alunos, uma melhor proporção entre estudantes e professores e permitiu um programa de atividades extracurriculares compulsório para as crianças do ensino fundamental, à tarde. Além disto, como a Inglaterra, Cingapura está implementando um grande programa de construção de escolas. Mas as aulas não são interrompidas por causa disso. Todos os alunos são transferidos para uma escola vazia vizinha. Por fim, no chamado Programa Integrado, escolas com alunos mais capacitados são encorajadas a não exigir exames aos 16 anos, permitindo uma maior flexibilidade do currículo, levando direto o aluno para o nível mais avançado, o que também chamou a atenção dos professores visitantes do Reino Unido.

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