PUBLICIDADE

Cientista montou escritório dentro de banheiro

Por Herton Escobar
Atualização:

Depois de cinco anos como pós-doutorando e pesquisador associado de duas grandes instituições americanas (Universidade da Califórnia em San Diego e Instituto Scripps), o brasileiro Stevens Rehen voltou ao Brasil em 2006 para trabalhar dentro de um banheiro. Era o único espaço que tinha para montar sua sala no laboratório de 65 m2 do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, onde criou uma das primeiras linhagem de células iPS do País. Chamou uns pedreiros e transformou o banheiro em um minúsculo escritório. "Não me arrependo nem por um minuto", afirma Rehen, feliz em contribuir com a ciência brasileira. {HEADLINE} Fragmentação da mata atlântica afeta biodiversidade {HEADLINE} ECOLOGIA {HEADLINE} Diminuição do hábitat de anfíbios e répteis aumenta risco de extinção Alexandre Gonçalves Estudos do Laboratório de Ecologia de Paisagens e Conservação (LEPaC) da Universidade de São Paulo (USP) comprovam o impacto do processo de fragmentação da mata atlântica na biodiversidade de anfíbios e répteis. Uma pesquisa publicada este mês na revista científica Biological Conservation comparou a diversidade genética dos sapos Rhinella ornata - uma das espécies mais comuns no Estado - encontrados em 15 fragmentos do bioma localizados no entorno da Reserva Florestal de Morro Grande, em Cotia (SP), a 35 quilômetros de São Paulo. A pesquisadora Marianna Dixo instalou armadilhas na mata para capturar cerca de 270 animais e extrair amostras do seu material genético. Depois cruzou os dados com características do lugar onde foram encontrados: tamanho do fragmento florestal e existência de corredores de vegetação ligando a outros trechos de mata. O trabalho demonstrou que a diversidade genética está relacionada ao tamanho dos fragmentos. "Quanto maior é o hábitat, maior é a população (de animais) e, como consequência, há maior diversidade genética", explica Marianna. O empobrecimento na diversidade dos genes pode aumentar o risco de extinção de uma espécie, pois diminui sua capacidade de adaptação a fatores ambientais adversos. A presença de corredores de vegetação com mais de 25 metros de largura, ligando os fragmentos de mata, não exerceu uma influência significativa sobre a diversidade genética desta espécie de sapo. Mas Marianna afirma que constatou uma relação direta entre a existência dos corredores e a estabilidade populacional dos sapos no decorrer dos anos. "Populações de fragmentos isolados são mais vulneráveis a uma diminuição repentina." O lagarto Enyalius perditus é ainda mais sensível à fragmentação das florestas. Um trabalho semelhante ao realizado com o sapo R. ornata mostrou que o réptil só consegue sobreviver em grandes porções de mata atlântica preservadas. Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, considera muito importante a publicação de estudos sobre os impactos concretos da fragmentação na biodiversidade. "Sem dúvida, esse é o problema mais sério que a mata atlântica enfrenta", aponta Márcia. Ela recorda que há cerca de 234 mil fragmentos com mais de 0,03 km², mas apenas 17 mil com mais de 1 km². Márcia salienta que a pesquisa da USP foi realizada em uma das regiões mais preservadas do bioma - um braço da mata que começa no Rio e desce para o Vale do Ribeira. "O impacto observado poderia ser ainda maior em regiões mais degradadas", afirma. "As pessoas precisam reconhecer a importância da mata atlântica para o fornecimento de água e o equilíbrio climático nas cidades." {TEXT} Marcos Sá Corrêa* {HEADLINE} O silêncio de Stephanes {HEADLINE} Artigo Ser ministro deve ser muito bom. Ou não daria para entender por que dois homens metidos num debate sério, com opiniões tão divergentes que, se um deles provasse que está certo, o outro teria de sair do governo, aceitem calar a boca. O ministro do Meio Ambiente, pelo menos, defendia a lei. O da Agricultura, Reinhold Stephanes, abriu a conversa. Antes que o pusessem de castigo, estava em campanha para alterar o Código Florestal, alegando que ele sufoca os agricultores. Falava em nome dos pequenos agricultores que considera incapazes de produzir sem cumprirem o que está escrito sobre reservas legais e áreas de proteção. Até onde deu para entender, ele está convencido de que os 20% das pequenas propriedades são maiores que os 20% das grandes. Também não teve tempo de esclarecer como o Código Florestal caiu sobre esses produtores sem aviso prévio. Pode ser uma lei tardia, mas data de 1934. Sofreu remendos, mas suas cláusulas estão de pé há quase 75 anos. Vêm do tempo em que o Paraná, Estado de Stephanes, tinha florestas contínuas. Só pode ter surpreendido quem desmatou. Seriam hoje setentões. Quantos, nessa idade, cultivam o campo, talvez nem o ministro saiba. Devem ser muitos, pois ele esperava aumentar a produtividade agrícola desagravando esses braços. Ou não era bem assim. Tanto faz. O custo de calar um debate como esse é que todo mundo fica autorizado a tirar suas conclusões. Por exemplo: o ministro não deveria abandonar seus septuagenários, sob risco de que os 20% de reserva cresçam e tomem suas lavouras. Quem desmatou em plena vigência do código não merece tanta consideração. Mas os velhinhos do ministro precisam que ele reaja. Stephanes não poderia entregar uma causa dessas sem luta, porque o Planalto o amordaçou com o artigo 12 do Código de Conduta da Alta Administração. Este parece um dispositivo mais traiçoeiro: veda às autoridades "opinar publicamente a respeito da honorabilidade e do desempenho funcional" das outras. E isso não estava acontecendo no bate-boca. O artigo 12 se contorceu para enquadrá-los. E Stephanes deveria reformar o Código de Conduta antes do Código Florestal. E proibir que os próceres da Alta Administração se submetam a disciplinadores arbitrários e crimes de opinião. Se os ministros querem se desmoralizar, tudo bem. Mas os septuagenários de Stephanes não podem esperar. * É jornalista e editor do site O Eco (www.oeco.com.br)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.