Cientista busca agora vacina contra o vírus causador da aids

Montagnier espera que prêmio sirva de estímulo à pesquisa na França

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Por Andrei Netto
Atualização:

O Prêmio Nobel de Medicina concedido ontem aos dois pesquisadores franceses pelo Instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia, não é a coroação de estudiosos em fim de carreira. Pelo contrário. Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi estavam, respectivamente, na África e na Ásia, discutindo e disseminando informações sobre a aids e o vírus que descobriram, o HIV. Veja o histórico do Prêmio Nobel e as descobertas ganhadoras de 2007 Ao longo do dia, jornalistas de todo o mundo tentaram contatá-los, em vão. Françoise, pesquisadora do Instituto Pasteur, o mais importante da França, só foi localizada no Camboja por uma agência de notícias e falou breves instantes. "É uma grande surpresa para mim", disse, ressaltando que desde 1983 dedica "inteiramente a carreira à pesquisa sobre o vírus". Ao Estado, funcionários do Instituto Pasteur se disseram "ansiosos" por não terem podido encontrá-la até o final da tarde. "Para mim é uma grande honra ter feito parte das pesquisas originais", disse Marie-Thérèse Nugeyre, ainda hoje ligada à instituição. Era noite em Abdjan, na Costa do Marfim, quando Luc Montagnier foi localizado pela emissora de TV pública France 2 para comentar a conquista. "Neste momento, quando a descoberta completa 25 anos, penso em todas as pessoas que nos ajudaram na pesquisa", disse o estudioso, rendendo homenagem também à equipe norte-americana de Robert Gallo, diretor do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland e pivô da controvérsia sobre a autoria da descoberta. "Não estivemos sós. Alguns meses depois, nossos colegas norte-americanos descobriram como o vírus se desenvolvia." Montagnier afirmou ainda que espera que o Nobel de Medicina sirva como estímulo para a pesquisa científica em seu país, e disse não concordar que a premiação seja uma distinção ao ápice de sua carreira, nos anos 80. "Não diria que é a consagração de uma carreira. É uma etapa. Ainda há tempo de buscar novas descobertas." Sua equipe trabalha hoje no desenvolvimento de uma vacina que permita o controle do vírus. A técnica, porém, foge às mais usadas no meio científico. Em vez de usar uma proteína situada na superfície de um vírus intacto, Montagnier tenta modificar a genética da proteína de forma a expor a estrutura do vírus ao sistema imunológico. Harald zur Hausen, de 72 anos, do Centro para Pesquisa do Câncer de Heidelberg, Alemanha, reagiu com modéstia: "Não estou preparado para isso", disse. "Estamos bebendo uma pequena taça de borbulhante."

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