Cidade do México volta à normalidade, mas as marcas da doença persistem

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Uma pergunta sobre beijos amenizou a fisionomia do prefeito Marcelo Ebrard. "Sim, já podem se beijar", respondeu, sorridente. Anteontem, o governo da Cidade do México anunciou o fim do estado de emergência sanitária e o regresso à normalidade, após quatro semanas de alerta. Ainda há 21 infectados internados no Distrito Federal, mas nos últimos sete dias não foram registrados novos casos de gripe suína, o que permite assegurar que a epidemia na capital mexicana "está controlada", segundo o prefeito. Contudo, quase ao mesmo tempo em que foi feito o anúncio, duas alunas do terceiro ano de uma escola secundária no município de Tlanepantla, próximo da capital, foram diagnosticadas com a gripe, o que provocou o envio de uma brigada para desinfetar o local, nova suspensão das aulas e a "quarentena" das meninas. Tlanepantla não faz parte do Distrito Federal, mas faz fronteira com bairros do norte da cidade e é um dos municípios mais populosos da área metropolitana. Segundo estimativas oficiais, até 21 de maio a gripe suína atingiu mais de 4 mil pessoas no país, com 78 mortes - 33 na capital. Mas na cidade há lares de luto por familiares que morreram de "insuficiência respiratória aguda" ou "pneumonia atípica" e que foram sepultadas ou cremadas sem análise laboratorial. Só na capital houve 108 mortes por doenças respiratórias "atípicas" antes de 13 de abril, data em que foi conhecida a primeira morte pelo H1N1. A epidemia não respeitou condições econômicas, profissão ou cargos públicos, mas se concentrou num setor da população: mais de 50% dos infectados oficialmente têm entre 20 e 39 anos e 25%, entre 40 e 54. Entre os que morreram estavam um alto funcionário público, que estava numa lista de espera de um leito; uma jovem que cursava o magistério e foi mandada para casa, medicada com xarope para tosse; um jovem de 25 anos recusado pelo Hospital Naval por não ter pago uma antecipação de 20 mil pesos; um camponês que passou suas últimas horas numa sala de urgência; um menino de 5 anos a quem foi negada a vacina da gripe invernal. E 21 dos 78 mortos eram donas de casa. A vida tornou-se bem diferente para Jessica Estrada, de 30 anos, que vive em Tultitlán, perto da capital, e há uma semana foi diagnostica com gripe suína, assim como seu filho de 10 anos. A família dela ficou confinada em sua casa desde 26 de abril, quando o menino ficou doente e a quarentena fez com que ela e o marido perdessem o emprego - e os vizinhos e os amigos se afastassem. "Isso mudou nossa vida de um modo horrível", disse Jessica.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.