Check-up neles

Seja por comodismo ou medo de descobrir algum problema, muitos homens evitam as consultas médicas

PUBLICIDADE

Por Fabiana Caso
Atualização:

As novas gerações já estão mudando de comportamento. Mas os homens mais velhos costumam ter repulsa à medicina preventiva, o que inclui exames e consultas de rotina. Diferentemente das mulheres, procuram atendimento médico motivados pela urgência, ou seja, quando algum problema de saúde já veio à tona. "Uma vez por ano, a mulher vai ao ginecologista, que já costuma pedir os exames de sangue. Já o homem não tem o costume de ir ao médico", fala o clínico geral Paulo Olzon, chefe da disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No entanto, acredita que o comportamento das novas gerações masculinas está mudando e que preconceitos estão caindo por terra. De toda forma, deixa o alerta: "o homem deve se preocupar com a obesidade, diabete e hipertensão arterial." De maneira geral, o clínico diz que os exames de rotina masculinos mais importantes são o hemograma completo, colesterol, triglicérides, ácido úrico, glicemia, uréia e creatinina. Para os que costumam ingerir álcool, recomenda monitorar o fígado com exames como o transaminases e de atividade de protombina. Os sedentários têm de ficar de olho também no coração, fazendo o teste ergométrico. Da mesma forma, os fumantes devem recorrer à radiografia dos pulmões e investigar sinais de arteriosclerose (problema de circulação). Segundo Olzon, quando se tem boa saúde e tudo está bem, esses exames podem ser repetidos a cada três anos; dos 40 aos 50, a cada dois anos, e a partir daí, anualmente. "A mulher sente outras coisas porque tem mudanças hormonais, os ciclos de menstruação. Ela tem uma ligação mais forte com o médico e vai se acostumando a fazer os exames", fala o clínico, sobre o hábito feminino de ir ao médico. "A freqüência dos exames masculinos, porém, muda se existe predisposição familiar a certas doenças. Isso depende de cada paciente e dos fatores de risco." Centro do prazer Há inúmeras doenças que podem acometer o xodó masculino - sim, o órgão do prazer e da reprodução. Muitos ainda resistem às consultas com o urologista - o especialista que trata do sistema reprodutor masculino. "Existe uma resistência, que é fruto de um aspecto cultural, como se o homem não precisasse de ajuda, sofresse de um complexo de super homem", opina o urologista Paulo Egydio. "As mães costumam levar as filhas ainda adolescentes ao ginecologista. Na puberdade, os pais também deveriam levar seus filhos ao urologista. Geralmente são as mulheres ou namoradas que marcam a consulta." Nessa primeira visita, o especialista pode detectar problemas precocemente, e também costuma explicar sobre as características dos órgãos genitais, doenças venéreas e uso de camisinha. Segundo Egydio, 15% dos adolescentes têm varicocele (varizes na região do escroto), um problema que, mais tarde, interfere na fertilidade. "Seria muito mais fácil descobrir isso já na adolescência e tratar com uma microcirurgia. Mas, geralmente, os homens só vão descobrir o problema quando estão tentando ter filhos", lamenta. O médico acrescenta que é muito comum a ocorrência de um tumor maligno no testículo em idade jovem - até os 35 anos -, como o que acometeu o jogador de basquete brasileiro Nenê, da NBA. "Assim como a mulher é instruída a fazer o auto-exame na mama, o homem também deve apalpar os testículos para procurar caroços, pelo menos uma vez por mês", alerta. Outra doença comum no Brasil, em todas as idades, é o câncer de pênis, que é decorrente da falta de higiene. "Quando o homem tem fimose (a pele que encobre o pênis é excessiva), a boa higienização é dificultada, e a falta de tratamento pode resultar nesse tipo de problema." Na sua opinião, os homens deveriam também fazer exames pré-nupciais para avaliar questões como a fertilidade e a fimose. Outro problema comum, que muitas vezes o homem nem sabe que tem, é uma curvatura do pênis - o que, segundo Egydio, impede que 10% deles iniciem a vida sexual por constrangimento. Especialista na cirurgia de correção, o médico comenta: "como o homem não costuma ver outro pênis ereto além do seu, acha que é normal. Por isso, deve ir ao urologista para ter uma opinião profissional. Dificuldade na penetração é um sintoma." Para Egydio, a partir da adolescência, o ideal é que o homem retorne a cada cinco anos ao urologista, se não apresentar problemas. "Mas depende de cada caso. O médico vai determinar a freqüência." A partir dos 40 anos, porém, o ideal é uma consulta anual. Depois dessa idade, o câncer mais freqüente nos homens passa a ser o de próstata - e os sintomas da doença nesse órgão estão entre os mais desagradáveis, acrescenta o médico. O famoso exame de toque é aconselhado pelo urologista, que também se baseia no de sangue e ultra-som. Contrariando o que muitos acreditam, Egydio diz que os homens não têm resistência ao exame de próstata. "O mais difícil é marcarem a consulta. Quando estão aqui, já estão dispostos a serem examinados", conta. A chamada andropausa, queda da produção do hormônio masculino, também pode acontecer a partir dos 40, causando diminuição da libido e uma desmotivação geral, semelhante à depressão. Costuma ser tratada com reposição hormonal, cuidadosamente administrada pelo urologista. Mudança de atitude Casado, pai de três filhos e avô de dois netos, o publicitário Alberto Djinishian, de 71 anos, mudou seu comportamento com relação às idas ao médico. "Antes só ia a emergências", conta ele, que começou a se consultar regularmente com um clínico geral há cerca de quatro anos, para a felicidade de sua esposa. Depois de ter levado alguns sustos com problemas no coração, passou a ser acompanhado por um médico de sua confiança. Hoje, faz exames de sangue até três vezes por ano. "Tinha pavor de médico, ficava pensando: puxa, eu sou homem", lembra. "Mas percebi o preconceito: vi que estava me conduzindo para um problema grave por estupidez." De quebra, com a ajuda do clínico, conseguiu emagrecer 45 quilos. "Agora estou tentando me cuidar." O psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Plínio de Almeida Maciel Junior, levanta a tese do machismo para justificar a resistência masculina de ir ao médico. "A crença da masculinidade está ligada à idéia de que o corpo deve estar sempre pronto para enfrentar situações, e a educação reforça isso", afirma. "É como se, procurar o médico, fosse um reconhecimento de que é fraco. O grande medo é o de descobrir que está muito mal. As mulheres já são criadas com uma preocupação maior com o corpo." Há casos, porém, que indicam uma mudança de comportamento e mentalidade. O promotor de justiça Marco Marcondes, de 43 anos, casado e pai de um casal, leva o filho de 15 anos ao urologista. "O médico educa, explica e ajuda a evitar problemas. A consulta é uma aula." Acrescenta que os homens da sua geração não foram criados para entender o funcionamento do aparelho genitor. "É visto (o pênis) como um instrumento para o prazer, como se fosse sagrado. Não fomos acostumados a fazer exame de próstata." Além de acompanhar o filho ao urologista, Marco é prudente com a própria saúde. "Faço um check-up geral todo ano."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.