''''Cento e dezenove árvores? Não vai caber''''

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Por Redação
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Estudante do Colégio Vértice, um dos melhores da capital, Bruno Amaral, de 15 anos, ouve falar desde a 7ª série sobre o aquecimento global e comprou recentemente o filme Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore. Ele até já calculou na internet sua pegada ecológica: se todos os habitantes da Terra tivessem um estilo de vida como o seu, seriam necessários 2,6 planetas para absorver a quantidade de carbono emitida. Um resultado surpreendente. "Tenho amigos que precisam de mais de dez planetas." O discurso sobre o aquecimento global não afeta muito seu dia-a-dia. Ele não gosta de andar a pé e ainda é vítima das brincadeiras dos pais: "Você nunca pegou ônibus, né?"Bruno retruca prontamente. "Claro que sim! Três vezes." Bruno mora com o pai, a mãe e o irmão em uma residência de 300 m² no Alto da Boa Vista, zona sul de São Paulo. "Só dá para chegar em casa de carro", conta seu pai, o engenheiro Milton Amaral. Mas o caminhão da coleta seletiva não entra no condomínio. "Separo papel, garrafas pet e vidro, só que depois o caminhão do lixo mistura tudo", diz sua mãe, Márcia. Não foi isso que o irmão, Caio, de 8 anos, aprendeu na escola. Para ele, reciclar é transformar garrafas pet em brinquedos, e respeitar é não jogar lixo no chão. Mas esse assunto de meio ambiente é coisa de escola. "Estou de férias, não quero falar disso." Após a insistência dos pais, ele recita as cores da reciclagem e lembra com um sorriso que, apesar das cinco aulas dedicadas ao tema, o assunto não caiu na prova. No fim, tímido, pergunta no ouvido da mãe: "Fui bem na entrevista?" O jogo de perguntas e respostas continua e a família conta que, além da separação do lixo, tem outras preocupações ambientais. Optou por instalar aquecimento solar para economizar energia. "E a Márcia fica sempre em cima das crianças para apagar a luz e desligar a televisão", conta Milton. A família também está cortando nas viagens de avião. Costumava ir todos os anos para o Nordeste. Desanimou. Não pela quantidade de CO2 que o vôo emite, mas porque "os aeroportos estão uma confusão". É mais confortável, então, passar as férias na casa que compraram neste ano no Guarujá. Quem não consegue fugir do aeroporto é Milton, que viaja de três a quatro vezes por ano a trabalho para o Rio. Sempre de avião. Apesar dos esforços, a família emite 23,73 t de CO2 equivalente ao ano. "Sério? É muito!", diz Márcia. Eles até pensaram em plantar as árvores necessárias para neutralizar suas emissões. Não na casa de São Paulo, porque cimentaram o quintal, mas no Guarujá, onde caberia meia dúzia no jardim. Mas é preciso mais. "Cento e dezenove árvores? Não vai caber", diz Márcia. Na falta de espaço, a solução é diminuir o consumo.

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