Catar ''importa'' universidades americanas

Petrodólares do Golfo Pérsico financiam instalação de câmpus e contratação de professores

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Por Doha e Catar
Atualização:

Ansioso para desenvolver o seu ensino superior, o Catar, país no Golfo Pérsico, vem procurando atrair universidades americanas para se instalarem em sua capital, Doha. Mas mesmo para os padrões surreais da cidade, a festa de formatura de 122 estudantes foi pouco palpitante. Embalada por árias interpretadas pelo tenor italiano Andrea Bocelli - cujo cachê teria sido de US$2 milhões - e um concerto da Real Filarmônica de Londres, a festa foi interrompida apenas pela chamada para a oração da tarde. O câmpus de palmeiras e grama sintética na capital do Catar abriga a Education City (Cidade do Ensino), um conjunto de universidades americanas atraídas pelos petrodólares do país e pela oportunidade de se expandir para o exterior depois que as restrições de visto impostas após o 11 de setembro refrearam o fluxo de estudantes estrangeiros para os Estados Unidos. Esses estudantes, na maioria jovens catarianos, formaram a primeira turma a se diplomar na Education City. Terceira maior fonte de gás natural do planeta, o Catar tem o PIB per capita mais alto do mundo depois de Luxemburgo e taxas zero de imposto de renda. O Catar tem seu próprio fundo soberano, que adquiriu o Chelsea Barracks em Londres e vem aumentando sua participação em empresas do Reino Unido e na bolsa de valores londrina. Mas a Fundação Catar é um fundo muito distinto. Presidido pela mulher do emir, Sheukha Mozah Bint Nasser al-Missned, a fundação não lucrativa pretende modernizar o ensino e preparar sua pequena população nativa para uma vida independente do gás e do petróleo. Uma tarefa de grande porte. Cerca de 80% dos 900 mil habitantes do país são trabalhadores estrangeiros com autorização de residência temporária, com nove a cada dez jovens catarianos aparentemente satisfeitos em exercer atividades administrativas no inchado setor público do país. O ensino superior é um assunto que vem despertando muito interesse em todo o Golfo Pérsico. A Universidade de Nova York está levando para Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos, um campus inteiro. Ao norte de Jeddah, cidade da Arábia Saudita na costa do Mar Vermelho, já começaram a ser contratados acadêmicos para o Kaust, versão local do MIT (Massachusetts Institute of Technology). Inversamente, o Catar adotou outro enfoque, multibilionário: contratar universidades diversas. A Virginia Commonwealth University trouxe seus cursos de design; a de Georgetown, seus cursos de letras e humanas; a Texas A&M, programas de engenharia; o Carnegie Mellon trouxe as aulas de ciências da computação e administração; e a Weill Cornell, seus cursos de medicina. No geral, as universidades assinam um contrato para administrar os câmpus por dez anos. Mas o custo - estimado em cerca de US$ 20 milhões ao ano - é bancado pela fundação. Os salários pagos aos acadêmicos que estão lecionando no Catar são comparáveis aos dos Estados Unidos, mas com as bonificações e o auxilio habitação, eles podem ficar seis vezes mais altos.

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