Casos de dengue no trimestre ultrapassam todo 2007 no Rio

Para secretaria, são 26.688 notificações e 31 mortes; hospital reúne pacientes em auditório

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Por Clarissa Thomé , Felipe Werneck , Pedro Dantas e RIO
Atualização:

O número de pessoas contaminadas pela dengue no município do Rio nos primeiros meses de 2008 ultrapassou o registrado em todo o ano passado. O site da Secretaria Municipal da Saúde informou que 26.688 casos foram notificados em 13 semanas deste ano. Nos 12 meses de 2007 foram 25.107 notificações. O número de mortos pela doença também subiu ontem para 31. Os dados do Estado serão atualizados hoje. O índice de letalidade da dengue hemorrágica no município é ainda maior do que aquele divulgado pelo ministro José Gomes Temporão, na segunda-feira (5%). No Rio, quase um terço (29,4%) das pessoas que desenvolveram a dengue na forma mais grave morreram da doença neste ano. Foram registrados 68 casos de dengue hemorrágica e 20 desses pacientes morreram. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aceitável índice de óbito até 1%. SUPERLOTAÇÃO Com média de 500 atendimentos diários de casos de dengue, o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, montou esquema especial para receber pacientes com suspeita de dengue. Eles são reunidos num auditório com ar-condicionado, onde é medida febre e pressão arterial. De lá, vão para o laboratório testar as plaquetas. Os casos mais graves seguem para hidratação ou até mesmo internação. A epidemia provocou um crescimento de 70% do público que procura a emergência da unidade. A maioria é de moradores de Jacarepaguá, com o maior número de focos do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. O sistema diminuiu o tempo de espera para atendimento, mas, mesmo assim, ontem ainda levava em média duas horas. Já a coordenadora da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) em Santa Cruz, também na zona oeste, a major do Corpo de Bombeiros Ana Ciarlini, comanda uma operação de guerra para dividir a pequena equipe de quatro clínicos gerais e três pediatras a fim de atender pacientes de rotina e vítimas da epidemia. "No mês passado diagnosticamos 500 casos de dengue e neste mês a tendência é de crescimento. Para piorar, um clínico e um pediatra entraram em licença médica hoje (ontem) porque estão com dengue", contou. Com a rede hospitalar precária, a zona oeste do Rio mostra que os esquemas montados por Estado e prefeitura talvez não suportem o aumento da demanda no caso de crescimento da epidemia. Na UPA de Campo Grande houve bate-boca entre pacientes e médicos. "Meu filho está com crise de asma e fui informada de que não há previsão de atendimento, pois a prioridade é para quem corre risco de morte. Vou me endividar, mas vou ter que ir a um hospital particular", reclamou a dona de casa Alessandra da Silva Assis, de 30 anos, que deixou a unidade após discutir com médicos, com o filho Cauã, de um ano, no colo. QUEDA-DE-BRAÇO A troca de críticas e acusações entre as três esferas de governo - municipal, estadual e federal - por causa da epidemia de dengue continuou ontem. O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), afirmou que o trabalho de prevenção da dengue na capital "não aconteceu" e que agora não vai "ficar chorando o leite derramado". "Isso já passou, não adianta ficar reclamando. Tudo que acontecer dentro do Estado nós também temos responsabilidade. Não adianta ficar buscando culpado neste momento. A hora é de trabalhar e resolver o problema", declarou. Em referência direta à prefeitura, ele criticou a falta de cobertura do Programa Saúde da Família na cidade. "Temos mais de 13 anos de crises consecutivas. Acho que é um trabalho de formiguinha que o município tem que fazer. Não pode ter ação de espasmo, tem que ser permanente." Cabral disse que recomendou ao secretário da Saúde, Sérgio Côrtes, que procure o secretário municipal da Saúde de Campo Grande. Apesar da epidemia do ano passado, a capital de Mato Grosso do Sul só registrou um óbito. Já o secretário da Saúde do município, Jacob Kligerman, insistiu que o número de casos vai cair. Kligerman reconheceu que "ninguém previa um volume tão grande de dengue hemorrágica" nem "uma situação tão grave em relação a crianças".

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