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Candido e Chauí dão aula em apoio à greve na USP

Para crítico literário, presença da PM no câmpus viola ?direito sagrado de opinar?; filósofa aponta ?repetição interminável? do autoritarismo

Foto do author Renata Cafardo
Por Sergio Pompeu , Renata Cafardo e Elida Oliveira
Atualização:

Alunos, funcionários e docentes da USP tiveram ontem pela manhã uma "aula" em apoio à greve na universidade de dois intelectuais renomados da instituição, a filósofa Marilena Chauí e o crítico literário Antonio Candido. No auditório lotado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) - do lado de fora havia um telão, para que mais pessoas pudessem acompanhar os discursos -, ambos condenaram a presença da Polícia Militar no câmpus. "A ação imediata é apenas um episódio, o importante são as redefinições a partir disso", disse Antonio Candido. "Atuem, exagerem, sejam justos e injustos. Aproximem a faculdade da realidade social. Essa é uma luta constante, para transformar a sociedade." Os dois professores estavam no grupo de notáveis da USP que foi decisivo no desfecho da greve de estudantes da FFLCH em 2002. O movimento cobrava mais professores e melhor estrutura na unidade e durou mais de 100 dias. Depois de um apoio público de Candido, Marilena e outros, a reitoria passou a negociar com os alunos, o que culminou com o fim da greve. O crítico literário, de 91 anos, disse ter ficado preocupado com o "significado histórico e o valor simbólico" das medidas tomadas pela reitora Suely Vilela, que pediu à Justiça o envio da PM ao câmpus para impedir piquetes feitos pelos grevistas. "É a violação do direito sagrado de uma pessoa opinar." A polícia confrontou-se com estudantes no dia 9 de junho e seis pessoas saíram feridas. Antonio Candido disse que desconhece detalhes da mobilização. "Isso são os professores da ativa que podem explicar." "Posso contribuir com o que sei da história da universidade." A greve começou no dia 5 de maio e reivindica aumento de 16%, a não implementação de cursos a distância e a saída da reitora. O professor aposentado, que pertenceu à primeira turma da USP, na década de 30, disse que, antes da formação da universidade e, particularmente, da FFLCH, a formação universitária era apenas para elite e não se analisavam questões sociais. Ele falou durante 15 minutos e foi aplaudido de pé. Marilena Chauí fez uma retrospectiva pessoal, relembrando protestos dos quais participou em seus tempos de estudante. "É uma repetição interminável do autoritarismo e da repressão. Não fazemos outra coisa que defender a universidade e a democracia." A filósofa disse aos alunos que a mobilização precisa ir além das palavras de ordem contra a reitora. "Não é a eleição de um novo reitor que vai mudar a universidade, nós temos de pensar uma maneira de desestruturar essa gestão vertical. Temos que recuperar a universidade como espaço de discussão." Chauí afirmou que o ensino a distância desqualifica a formação universitária, mas cabe aos alunos explicar à sociedade o motivo do seu repúdio. Ela chamou o consórcio de universidades para ensino a distancia, intitulado Univesp, de "Univespa". "Eles servem para reforçar o nosso espírito de combate e mostram que a luta não é breve, é contínua", disse Marco Brinati, da diretoria da Associação dos Professores (Adusp). NOTÁVEL Antonio Candido Crítico literário "Atuem, exagerem, sejam justos e injustos. Aproximem a faculdade da realidade social" "(A presença da PM no câmpus) é a violação do direito sagrado de uma pessoa opinar"

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