Cai o número de alunos da rede pública inscritos na Fuvest 2008

No segundo ano de Inclusp, eles são apenas 32,8% dos que farão a prova amanhã, menor índice desde 2002

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Por Renata Cafardo
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Caiu neste ano o número de alunos que estudaram em escolas públicas e se inscreveram na Fuvest. Amanhã, na primeira fase do exame, serão 46.309 candidatos que cursaram o ensino médio público. Isso representa 32,8% do total de inscritos, o menor índice desde 2002. No fim de 2006, eram 49.340 (34,8%). A queda ocorre no segundo ano de um programa de inclusão lançado pela Universidade de São Paulo (USP), que pretendia justamente atrair mais estudantes da rede pública para o vestibular. Estatísticas semelhantes foram registradas também na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Na Fuvest ainda, esse contingente já tinha diminuído no ano passado, primeiro ano do Inclusp, o programa de inclusão da USP, que dá pontos a mais para o grupo que veio de escolas públicas. Especialistas e estudantes ouvidos pelo Estado acreditam que esses resultados estão ligados à criação, em 2005, do Programa Universidade para Todos (ProUni), pelo governo federal. O ProUni já distribuiu 300 mil bolsas de 50% e 100% a alunos de escolas públicas em faculdades privadas de todo o País. "Mesmo que eu entrasse na USP, não teria condições de pagar livros, transporte, moradia fora da cidade", diz a vestibulanda Vanessa Daiane dos Santos, de 17 anos, que estuda numa escola técnica estadual de Mogi das Cruzes e vai prestar Administração só em faculdades privadas. Com a bolsa do ProUni de 100%, ela acredita que sai ganhando. "Na universidade privada não há tanta exigência, não preciso pagar e ainda posso trabalhar ao mesmo tempo", afirma. Sua colega Thainá Fernanda Castro de Lima, de 17 anos, também não vai prestar a Fuvest. "É muito difícil competir com alunos do Objetivo, do Bandeirantes. Já que posso ter o ProUni, prefiro tentar os vestibulares do Mackenzie e da FEI", diz ela, que vai concorrer a uma vaga em Engenharia Mecânica. "O lado ruim disso é que muita gente está trocando o desafio de ter uma boa formação numa universidade pública pelo caminho mais fácil", diz o coordenador do vestibular da Unicamp, Leandro Tessler. A instituição teve um pequeno aumento, de menos de 100 estudantes neste ano, entre os inscritos vindos de escolas públicas, o que o coordenador considera "irrelevante". Uma queda de 5% já havia sido registrada entre o ano retrasado e o passado. "Tenho certeza de que é o ProUni. Isso está acontecendo em universidades públicas de todo o País." A Unicamp, como a USP, também lançou recentemente um programa de ação afirmativa que dá pontos adicionais a estudantes de escolas públicas. A procura menor desse grupo se choca com o fato de os dois programas terem efetivamente aumentado o número de aprovados que vêm da rede pública nas duas instituições. Na USP, neste ano, o crescimento foi de 30%, com 2.719 matriculados. O objetivo da universidade é aprovar 50% de alunos da rede pública no seu vestibular - em 2006, a taxa foi de 26%. ISENÇÃO Na Unifesp, o número de estudantes saídos de escolas públicas caiu neste ano, pela primeira vez. No vestibular realizado no fim de 2006, eram 7.493 candidatos desse grupo. Na prova que será feita em dezembro, serão 5.372. A queda foi de 28%. A instituição foi a primeira pública do Estado a oferecer um sistema de cotas. Houve um aumento de 10% no total das vagas e essas passaram a ser disputadas por estudantes de escolas públicas, negros e índios. Para o coordenador-geral do Cursinho da Poli, que tem 80% de seus alunos provenientes de escolas públicas, Gilberto Alvarez, o ProUni e outras bolsas oferecidas pelas universidades privadas influenciam a decisão dos alunos. Mas o afastamento dos vestibulares públicos também está relacionado à má qualidade das escolas que freqüentam. "Eles ficam aqui no cursinho entre dois e três anos para poder tentar competir com um aluno da rede particular", conta. "A prova da Fuvest ainda é muito distante da escola pública e precisamos fazer um grande esforço para convencer o aluno de que ele pode, ao menos, se inscrever na prova." Além dos pontos a mais na prova para esse grupo, a Fuvest mudou nos últimos anos para tentar chegar mais perto do alunos de escola pública. Uma das medidas foi a inclusão de 10% de questões interdisciplinares na prova, no ano passado. "Assim, cobra-se menos o conteúdo das disciplinas e mais a leitura que o aluno tem do mundo", diz a pró-reitora de Graduação da USP, Selma Garrido Pimenta. Há uns cinco anos, USP, Unicamp e Unifesp deixaram também de cobrar a taxa de inscrição - neste ano, a da Fuvest é de R$ 100 - de alunos de escolas públicas. A Fuvest chegou a oferecer mais de 60 mil isenções e, todo ano, não há candidatos suficientes para preenchê-las. "As isenções atraíam mais candidatos há alguns anos, mas muitos foram percebendo que não conseguiam entrar e o entusiasmo acabou", diz o coordenador do cursinho Etapa, Carlos Bindi. A Fuvest teve neste ano 140.999 inscritos. A primeira fase será amanhã, às 13 horas, com 90 questões.

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