Butantã vai produzir vacina da gripe suína

Diretor do instituto diz que não há risco de faltar doses contra a gripe comum; multinacionais não entram em acordo sobre distribuição

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Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

O Instituto Butantã vai produzir a vacina da gripe suína, com ou sem a autorização do governo federal. A ideia inicial é produzir 100 mil doses, mas poderiam chegar a 1 milhão se o vírus se espalhar no País. Ontem, a entidade foi uma das poucas farmacêuticas convidadas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para uma reunião em Genebra para montar uma estratégia de produção da vacinas contra o vírus A(H1N1). Acompanhe os dados e notícias mais recentes sobre a epidemia Mas o encontro mostrou que não há acordo sobre como entregar as vacinas aos países pobres nem quais seriam os preços. Os únicos que prometeram ajudar a formar estoques de vacinas na ONU foram as empresas dos países em desenvolvimento. As multinacionais mantiveram seus planos em sigilo. Para o diretor do Butantã, Isaias Raw, a reunião deixou claro que existe um "monopólio" na produção de vacinas. "Há um lobby para impedir que haja uma queda nos preços das vacinas. Esse grupo é pior que o dos produtores de petróleo", disse. Durante o encontro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou negociações para garantir não apenas um preço adequado para as vacinas, mas uma garantia de que os países pobres terão acesso aos produtos. A decisão sobre o início da produção não foi tomada e alguns alertam que o dilema é se essa fabricação geraria interrupções no abastecimento de vacinas para a gripe sazonal. Diante do aumento dos casos, Raw crê que não há tempo a perder. A vacina está sendo definida e o processo leva mais tempo que o previsto. O vírus não respondeu ao processo e agora uma primeira vacina apenas estará à disposição dos laboratórios em junho. "O CDC prometeu que nos mandará a vacina", disse. Segundo ele, a ideia é que seja usada em funcionários dos aeroportos, em médicos e nas pessoas que limpam aviões. "A gripe vai entrar pelo aeroporto de Guarulhos", alertou. O mesmo ocorreria nos portos. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, alertou que não faria sentido produzir uma vacina e deixar desabastecido o fornecimento de vacinas contra a gripe sazonal. Raw afirma que não há motivos para preocupação. "Temos capacidade suficiente para toda a produção. Não precisamos fechar acordos com multinacionais." Segundo ele, a primeira produção poderia ocorrer em setembro. E Raw estima que a capacidade de fabricação seria suficiente para ajudar países vizinhos a superar um eventual surto. "É melhor ajudarmos algum vizinho do que depois sofrer para controlar a entrada da doença." Mas a reunião terminou sem compromisso dos países ricos. Os emergentes prometeram entregar à OMS 10% de sua produção. O anúncio foi feito por Suresh Jadhav, porta-voz da Rede de Produtores de Vacinas dos Países em Desenvolvimento, formada por Brasil, China, India, Tailândia e Vietnã. "Quisemos mostrar nossa boa vontade, algo que os países ricos não fizeram." A diretora da OMS, Margaret Chan, disse que pensa na criação de mecanismos para garantir a compra de vacinas para os mais pobres. Para a Novartis, "a capacidade de produção dependerá se nos é solicitado a fabricação de uma vacina contra a gripe suína no lugar da vacina contra a gripe sazonal", alertou Eric Althoff, porta-voz da empresa.

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