Pelo menos 20 mil embriões poderiam ser usados para pesquisas com células-tronco hoje no Brasil. O número (20.026) consta dos registros - ainda inéditos - da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida. Com a liberação no Supremo Tribunal Federal (STF), na quinta-feira, das pesquisas com células-tronco embrionárias, essa quantidade de embriões é mais do que suficiente para a continuidade dos estudos que estavam parados desde 2005, dizem os cientistas. Mais informações sobre pesquisas com células-tronco Os registros da rede são referentes ao número de embriões congelados em janeiro de 2005 em cerca de 50 clínicas e centros de reprodução assistida nacionais. É o mais perto que o País conseguiu chegar até hoje do número real que, estimam os especialistas, é ainda maior. Somente em agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) terá pela primeira vez o registro oficial do número de embriões congelados (mais informações na pág. A23). Por se tratar de células indiferenciadas capazes de se transformar em qualquer tecido humano, as linhagens de células-tronco embrionárias obtidas dos embriões congelados carregam hoje as esperanças de desenvolvimento de terapias capazes de curar doenças como mal de Parkinson. Maria do Carmo Borges de Souza, vice-presidente da rede e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a comunicação dos dados à entidade não é compulsória para as 150 clínicas de fertilização existentes hoje no Brasil, mas passará a ser obrigatória para a Anvisa. "Nossa intenção agora é ter dados brasileiros anuais", diz. PESQUISA PARA UMA VIDA A geneticista da Universidade de São Paulo (USP) Mayana Zatz faz as contas. Segundo ela, caso metade dos 20 mil embriões fossem doados pelos progenitores para as pesquisas com células-tronco, cerca de 98% não poderiam ser aproveitados. "Os casais que fazem fertilização in vitro normalmente têm dificuldade, e os embriões conseqüentemente não são os ideais." Mesmo assim, os 2% restantes (200 embriões) seriam mais do que suficientes para as pesquisas. "Com 200 linhagens celulares podemos fazer pesquisas por uma vida inteira", afirma. A mesma opinião tem a pesquisadora Patrícia Pranke, coordenadora do Laboratório de Hematologia e Células-Tronco da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "De um único embrião é possível conseguir várias linhagens celulares. Por enquanto é suficiente", afirma.