Brasil quer vírus como ''bem público''

Dados científicos devem ser compartilhados para uso no desenvolvimento de vacinas e remédios, diz Temporão

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Por Fabiana Cimieri e Jamil Chade
Atualização:

O Brasil quer que o vírus da gripe suína, o influenza A(H1N1), e seus sequenciamentos genéticos sejam declarados "bens públicos mundiais" para garantir o acesso de qualquer país a tecnologias e dados científicos em uma eventual pandemia. O governo pediu ontem à Organização Mundial da Saúde (OMS) que estabeleça um acordo para que países pobres tenham acesso a vacinas e antivirais. Acompanhe o noticiário sobre a gripe no mundo e os números da doença O País também avisou que não descarta a quebra de patentes de remédios e que deseja ter o primeiro laboratório do Hemisfério Sul credenciado pela OMS para atuar no desenvolvimento da tecnologia de diagnóstico, para não depender mais de kits importados. Mas as pretensões do Brasil, apoiado pela Argentina e México, levaram uma ducha de água fria ontem na abertura da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra. Estados Unidos e Canadá se recusam a estabelecer um acordo sobre vírus e vacinas. Hoje, os ministros da Saúde da Unasul - entidade que reúne nações sul-americanas - se reúnem para cobrar um retorno das negociações. "Ter acesso a essas tecnologias é uma questão de poder", disse José Gomes Temporão, ministro brasileiro da Saúde. Há dois anos, um acordo vinha sendo negociado para tentar garantir que todos os vírus e vacinas fossem compartilhados obrigatoriamente por governos e que patentes não sejam obstáculo. Mas canadenses e americanos avisaram ontem que não aceitam os termos. FABRICAÇÃO Hoje, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reúne-se com fabricantes de vacinas, entre eles o Instituto Butantã, para tentar definir uma estratégia de produção. Margaret Chan, diretora da OMS, admitiu que a capacidade de produção de vacinas no mundo é "limitada" e se diz preocupada com a situação dos países pobres. "Estamos com a perspectiva da primeira pandemia do século 21 em nossa porta. Não podemos permitir que alguns no mundo sofram de forma desproporcional", afirmou. Temporão diz que um eventual acordo não significa que o Butantã vá parar de produzir a vacina sazonal para fabricar a da gripe suína. "Isso não vai ocorrer por enquanto", disse. "O que queremos é formar parte do grupo que desenvolverá uma vacina", completou. No Brasil, cientistas do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) anunciaram o mapeamento genético do vírus da gripe suína encontrados em três casos confirmados. O mapeamento foi depositado ontem no banco de informações genéticas do National Center for Biotechnology Information. Outros países, como Estados Unidos, Suíça e Reino Unido, também sequenciaram o A(H1N1). A análise possibilita a comparação entre os vírus encontrados em pontos diferentes do mundo. "Uma análise preliminar mostrou que o vírus encontrado nos casos brasileiros, quando comparado a sequências depositadas por outros países, mantém as mesmas características", disse o pesquisador do IOC Fernando Motta. ANTIVIRAIS Outra disputa se refere a versões genéricas de antivirais. "Queremos que as empresas detentoras de patentes autorizem a produção de genéricos", afirmou Temporão. Sua ideia é que a OMS promova uma mediação entre os governos pobres e as empresas e consiga um acordo internacional, com base em licenciamentos voluntários. O México pedirá hoje aos ministros do G-7 que criem mecanismos para mitigar o impacto econômico da gripe suína e de qualquer outra pandemia sobre os países emergentes. O projeto é apoiado pela Tailândia.

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