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Brasil aproveita mal potencial de energia solar; preço é obstáculo

Países menos ensolarados, como Alemanha, produzem mais energia, que é 10 vezes mais cara que a convencional

Por Herton Escobar
Atualização:

Muito antes de descobrir as reservas de óleo do pré-sal, o Brasil já era - e sempre foi - uma das nações mais ricas do mundo em energia. É o país com a maior área territorial dos trópicos e, consequentemente, recebe uma quantidade gigantesca de radiação solar. O grau de aproveitamento dessa energia para produção de eletricidade, porém, é pífio. Nações de clima temperado e com territórios muito menores, que passam vários meses cobertos de neve, como Alemanha e Espanha, produzem mais energia a partir do Sol do que o Brasil. "O lugar menos ensolarado do Brasil (Florianópolis) recebe 40% mais energia solar do que o lugar mais ensolarado da Alemanha", compara o especialista Ricardo Rüther, do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo ele, só em 2007, os alemães instalaram em seus telhados, na forma de painéis solares, o equivalente ao que produz a usina nuclear de Angra 2 (1.200 megawatts). O país europeu é o pioneiro no incentivo ao uso da energia solar, com um programa federal que subsidia a produção. No Brasil, o uso da energia solar ainda se resume a aquecedores para água de chuveiro. O uso de sistemas fotovoltaicos para produção de eletricidade é bastante limitado. Mas o potencial é enorme. "Se a área do lago de Itaipu fosse coberta com painéis solares, isso produziria mais do que o dobro da energia que é produzida pela via hidrelétrica", afirma Rüther. No lugar dos atuais 25%, a usina produziria 50% da eletricidade consumida no Brasil. Um problema é o preço: a energia elétrica solar ainda custa cerca de dez vezes mais do que a energia elétrica convencional, segundo o pesquisador Enio Pereira, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Outra é a escala: "O que teria de ser instalado em Itaipu corresponde a cerca de dez vezes o que já se instalou de painéis fotovoltaicos até hoje no mundo", afirma Rüther. DESAFIO TECNOLÓGICO Assim como no caso do pré-sal, ainda é preciso investir muito em infraestrutura e tecnologia até que o potencial energético do Sol possa ser colocado em prática. Um dos principais limitantes ao uso da energia solar para a produção de eletricidade - além do custo - é que ela não funciona 24 horas por dia e não pode ser estocada. "Ninguém vai investir numa grande infraestrutura para algo que só funciona quando o Sol está brilhando", resume o pesquisador Daniel Nocera, coordenador do Projeto Revolução Solar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O projeto reúne várias pesquisas que buscam baratear o uso da energia solar pelo desenvolvimento de novas tecnologias - entre elas, um sistema de armazenamento de energia solar na forma de hidrogênio, por meio da dissociação de moléculas de água. "No fundo, é tudo uma questão de preço, e isso cria uma questão para a ciência, que é o desafio de tornar a tecnologia mais barata", afirma Nocera.

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