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Aquecimento ameaça mata atlântica

Pesquisa indica que espécies de árvores do bioma perderão espaço por causa das mudanças climáticas

Por Herton Escobar
Atualização:

Dezenas de espécies de árvores da mata atlântica poderão ter sua sobrevivência comprometida pelo aquecimento global nas próximas quatro décadas - inclusive aquelas que estão dentro de unidades de conservação, segundo um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisa é uma das primeiras a avaliar o impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade do bioma, considerado um dos mais ameaçados do mundo. O pesquisador Alexandre Colombo analisou a área propícia de ocorrência de 38 espécies arbóreas da mata atlântica, levando em conta condições ideais de temperatura e precipitação. Depois, lançou sobre elas as previsões do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) para o ano 2050. No cenário mais otimista, com aumento de temperatura menor ou igual a 2°C, quase todas as espécies (37) deverão perder, em média, 25% das áreas hoje propícias para sua sobrevivência. Uma única espécie seria beneficiada, com um pequeno ganho de 8% de área. No cenário mais pessimista, com aumento menor ou igual a 4°C, todas as 38 espécies sofreriam redução média de 50% de sua área potencial de ocorrência - um duro golpe para um bioma que já teve 93% de sua cobertura florestal devastada. "Todas as espécies, nos dois cenários, sofrem um deslocamento para o sul do País, em direção a áreas mais frias", afirma Colombo, que defendeu o trabalho como sua tese de mestrado no Instituto de Biologia da Unicamp. "O impacto não será catastrófico, mas será grande. Nossos filhos verão a mata atlântica, mas ela não será a mesma que vemos hoje." FRAGMENTAÇÃO O estudo é conservador, pois baseia-se na área potencial total de ocorrência das espécies, e não na área real de ocorrência atual - muito menor, já que a maior parte do bioma não existe mais. As florestas que sobraram estão fragmentadas, separadas por cidades, pastos e plantações. Por causa disso, aponta Colombo, muitas espécies estão "ilhadas" e não serão capazes de fazer as migrações necessárias naturalmente. A solução seria recompor áreas degradadas e estabelecer corredores florestais para que sementes de espécies pressionadas se dispersem para áreas de clima mais favorável. O Parque Estadual da Serra do Mar, maior unidade de conservação de mata atlântica do País, no litoral paulista, é um dos que deverão sofrer com a mudança do clima. "A Serra do Mar poderá ser bastante afetada pelo fato de a maioria das espécies ser típica daquela região e se estabelecer em uma faixa de terra muito estreita e intimamente ligada à altitude", avisa Colombo. Os modelos ainda precisam ser refinados, especialmente com relação aos mapas de temperatura, mas já dão uma idéia de como a mata atlântica poderá reagir (ou sucumbir) ao aquecimento global. A pesquisa faz parte de um grande projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), chamado Biota Gradiente Funcional, iniciado em 2005. O programa busca justamente entender a composição, a biologia e a ecologia das florestas no Parque Estadual da Serra do Mar e sua relação com fatores climáticos. Um dos destaques do projeto é uma torre de pesquisa de 60 metros de altura, que entrou em operação em novembro. Equipada com diversos instrumentos, ela permitirá aos cientistas acompanhar em tempo real o "metabolismo" da floresta, como absorção de carbono, produção de vapor d?água e variações de temperatura.

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