Aos 83 anos, morre d. Aloísio Lorscheider

Corpo do arcebispo emérito de Aparecida será enterrado na quinta

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Por Elder Ogliari
Atualização:

O cardeal d. Aloísio Lorscheider, arcebispo emérito de Aparecida (SP) e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), morreu às 5h20 de ontem, aos 83 anos, na UTI do Hospital São Francisco, a unidade especializada em cardiologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Ele estava internado na UTI desde o dia 11, em coma, após sofrer um acidente vascular cerebral. A causa da morte foi apontada pela médica Jocely Vieira da Costa como falência de múltiplos órgãos devido ao pós-estado convulsivo, acidente vascular isquêmico, cardiopatia isquêmica grave e insuficiência renal crônica. A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), decretou luto oficial de três dias. A mesma medida foi adotada pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota em que destaca a "dedicação aos pobres e à justiça social". A cúpula da CNBB também divulgou nota em que diz que d. Aloísio "tornou-se referência para o episcopado brasileiro pelo testemunho de amor e coragem na defesa dos mais empobrecidos". O corpo do religioso foi embalsamado para um longo velório, que começou às 16h na cripta da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, com a presença de cerca de 30 pessoas. Amanhã à noite, será transferido para a nave central do templo. Na quarta-feira, d. Aloísio será homenageado com uma missa da família franciscana, à qual pertencia, às 9h30, e outra missa às 18h. Logo depois, o corpo irá para um convento franciscano em Daltro Filho, no município de Imigrante (130 km de Porto Alegre), onde será sepultado às 17h de quinta. É nesse local que fica o cemitério dos franciscanos. A saúde de d. Aloísio começou a se debilitar ainda nos anos 70, quando se submeteu a uma cirurgia para implantação de pontes de safena (leia texto abaixo). Os últimos três anos de sua vida, o cardeal passou no albergue do Provincialado Franciscano do Rio Grande do Sul, na zona sul de Porto Alegre. Foi neste período, iniciado em março de 2004, quando d. Aloísio se despediu de Aparecida, que o frei Jorge Hatmann, superior do provincialado, testemunhou o exemplo de fé, humildade e alegria do cardeal, a quem considera "um verdadeiro franciscano". Apesar dos títulos e do reconhecimento que tinha, d. Aloísio preferiu viver como um simples frade, sem ter sequer o luxo de uma televisão no quarto equipado somente com uma cama, um armário, uma escrivaninha e alguns livros. Na rotina do albergue, d. Aloísio só aceitou um ar-condicionado para suportar o rigor do inverno deste ano. Sempre que esteve bem de saúde participou da missa diária das 6h30, muitas vezes como celebrante. Também se prontificava a escrever as atas das reuniões da congregação e a participar de consertos do prédio e dos jardins. Até 2006, manteve intensa atividade, saindo constantemente para evangelizar e escrevendo livros. O último, A Espiritualidade do Padre Diocesano, foi editado pela Vozes. Entre os hábitos de d. Aloísio descritos pelo frei Jorge Hartmann estava o de beber um cálice de vinho no almoço e no jantar e de ver futebol e noticiário na tevê da sala de convívio do albergue. "Ele às vezes meneava a cabeça decepcionado com certas notícias, mas nunca perdeu a esperança no ser humano", relata. As pontes de safena foram a primeira etapa de uma série de cirurgias. O cardiologista Fernando Luchese, que assumiu o caso de d. Aloísio quando o cardeal foi morar em Porto Alegre, contou que o religioso também enfrentou um câncer de pulmão e um tumor de carótida. "Mas desconhecia a doença e se mantinha sempre muito alegre e ativo", disse em entrevista recente ao site Clic RBS. A saúde piorou neste ano, exigindo quatro internações. A última começou em 28 de novembro, com um quadro de insuficiência cardíaca, e evoluiu para o derrame que o levou à morte.

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