Anestesiologista tem mais chance de ter depressão

Risco de problemas psiquiátricos é maior para esses especialistas

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Por Emilio Sant'Anna
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Pressão profissional, longas jornadas de trabalho, falta de atividades de lazer e facilidade de acesso a medicamentos controlados são alguns dos motivos que expõem médicos de qualquer especialidade ao vício e a problemas psiquiátricos. Os anestesiologistas, no entanto, parecem ser os profissionais mais expostos a esses problemas. Ontem, o Estado mostrou que o álcool e calmantes são as drogas mais consumidas entre a classe médica. Pesquisa do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aponta que os anestesiologistas têm uma probabilidade quase três vezes maior de desenvolverem depressão do que outros médicos. A pesquisa, feita com um grupo de 100 médicos clínicos (clínicos gerais, pediatras e oftalmologistas, por exemplo) e outro de 95 anestesiologistas, encontrou também sintomas de ansiedade em quase 100% do último grupo. Foram aplicados questionários de identificação de sintomas psiquiátricos que não dão o diagnóstico dos entrevistados, mas fornecem um bom retrato das probabilidades de desenvolverem a doença, explica Thiago Marques Fidalgo, um dos autores da pesquisa. "Existem estudos que mostram que praticamente todos os sintomas psiquiátricos são mais comuns entre os médicos", diz. Esses sintomas, no entanto, não se distribuem de forma igual entre eles. Fidalgo afirma que psiquiatras, oftalmologistas e anestesiologistas têm chances maiores de apresentar essas doenças. Para o diretor da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (Saesp), Carlos Eduardo Martins, as condições em que esses médicos trabalham pode explicar essa situação. No caso dos anestesiologistas pesam ainda a dependência do trabalho de outros médicos e a impossibilidade de fazer a própria agenda. "Esse é um profissional que não faz seu próprio horário, pois não é ele que agenda as cirurgias", diz Martins. FALTA DE TEMPO Há 14 anos atuando como anestesiologista, Martins conta que ainda hoje chega a fazer jornadas exaustivas de trabalho. "Há algum tempo atrás não era incomum fazer 30, 36 horas de trabalho ininterrupto", diz. A pesquisa da Unifesp aponta um dos reflexos do excesso de trabalho para esses médicos. Cerca de 11% dos clínicos e 10% dos anestesiologistas afirmaram que nunca fazem qualquer atividade de lazer.

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