''Ainda não sabemos se o vírus ganhará a corrida''

Mike Ryan: chefe da sala de controle de pandemias da OMS; Especialista diz que ainda há tão poucos dados sobre a nova doença e que até medidas de isolamento são questionáveis

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Por Jamil Chade
Atualização:

O chefe da sala de controle de pandemias da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, diz que ainda não há muitas informações sobre o novo vírus da gripe e que não há como prever como será o seu comportamento. A sala de controle foi criada para monitorar 24 horas por dia o desenvolvimento da epidemia, garantindo respostas rápidas e adequadas. Veja trechos da entrevista exclusiva concedida por Ryan ao Estado nesta semana, quando a organização decretou o alerta de nível 5, que indica iminência de pandemia (disseminação da doença por pelo menos duas regiões, segundo a OMS). A gripe suína está mobilizando países em todo o mundo e a OMS elevou seu nível de alerta para categoria 5. O que mais pode ser feito para tentar impedir a sua propagação ? Ryan - A realidade é que, hoje, estamos na mão do vírus H1N1. Não sabemos se ele é muito forte, como indica ser, nem se ganhará a corrida que estamos enfrentando. Ela está em fase de mutação. Mas a realidade é que, hoje, é o vírus que está definindo o que vai ocorrer no mundo. Ele é que vai determinar se teremos ou não uma pandemia. Em 2003, durante o surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), a OMS anunciou restrições ao movimento de pessoas. Desta vez, evitou fazer isso. Por que ? Ryan - Simplesmente porque no momento que a SARS surgiu estabelecemos uma estratégia de encurralar o vírus e por isso tomamos a decisão de anunciar restrições de movimento de pessoas e comércio. Encurralamos o vírus e conseguimos matá-lo. Desta vez, pensamos bem e vimos que a decisão não faria impacto muito grande em garantir que ele fosse freado. Mas aspectos econômicos e políticos foram também levados em conta, ou apenas a questão epidemiológica ? Claro que levamos em conta a questão econômica e de direitos humanos. Uma decisão de restringir o movimento de pessoas é muito séria e teria um importante impacto. Tínhamos de pesar. De um lado, a capacidade de frear o vírus. De outra, o impacto. Imagine o que seria, nesse momento, restringir o movimento de pessoas para a economia ? Além disso, a restrição significaria que pessoas que precisam de um tratamento para outras doenças não podem ter acesso aos hospitais. A decisão é muito séria. No Brasil, começam a aparecer casos suspeitos. O isolamento é necessário? (O isolamento no País é feito com base em plano contra a gripe aviária, que não é a causa da epidemia atual). Não necessariamente. Fala-se que no meio de muito barulho, sempre há alguma verdade. Mas a realidade é que não se sabe. Cada país está tomando decisões de verificar os casos de uma forma diferente.

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