Ação contra a gripe comum será ampliada

Vacina não protege contra a gripe suína, mas impediria recombinação entre vírus; no Brasil, Saúde não indica vacinação universal atualmente

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Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) iniciou esforço para garantir que todos os países do continente façam campanhas de vacinação contra a gripe sazonal comum. Embora não seja indicada para proteger contra o vírus H1N1, a vacina pode facilitar ações de vigilância sobre a gripe suína de autoridades sanitárias dos países do Hemisfério Sul. Além disso, reduziria o risco de o novo vírus, em contato com o da influenza sazonal, sofrer nova mutação. "Quanto menos pessoas contaminadas com o vírus sazonal, menor o risco de ocorrer uma coinfecção e uma mutação do H1N1", garante o gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde, Jarbas Barbosa. Além disso, quanto menor o número de casos de gripe sazonal, mais fácil será para autoridades sanitárias identificar casos de contaminação por H1N1. Os sintomas são parecidos e, muitas vezes, somente testes laboratoriais podem fazer a distinção. "Quanto menor o grupo a ser analisado, maior a rapidez e melhores as condições de trabalho para a vigilância", completou o infectologista. O Ministério da Saúde brasileiro, no entanto, adota atualmente política de vacinação contra a gripe sazonal apenas para idosos e a recomendação para que toda a população se vacine não consta da lista de medidas adotadas após a eclosão da epidemia de gripe A(H1N1). Atualmente, explica Barbosa, Bolívia, Suriname, Guiana, Haiti e algumas ilhas do Caribe, como Dominica, não realizam campanhas nacionais de vacinação contra a gripe. Diante desse quadro, a Opas iniciou um trabalho para mobilizar recursos e fornecer a esses países insumos para que a população seja imunizada. Outra preocupação da organização está com a baixa cobertura das campanhas apresentada em alguns países. "Vamos orientar que cada governo avalie sua estratégia e, se necessário, aumente a cobertura da vacina." Barbosa destaca que nos próximos meses começa o período tradicional do aumento do número de casos de gripe no Hemisfério Sul, daí a preocupação de recomendar a vacina sazonal."Há uma tendência de as pessoas ficarem em locais fechados, o que sempre amplia a possibilidade de contaminação pela influenza sazonal." INCERTEZAS O infectologista afirma ainda que ainda não há como garantir que os casos de influenza H1N1 serão menos agressivos que os de gripe provocados por outros vírus que sofreram grandes mutações. "Ele ainda está muito instável, nada impede que sofra novas alterações", avalia. A pesquisadora Rita Medeiros Sousa, do laboratório de vírus respiratórios do Instituto Evandro Chagas, também alerta que o vírus pode sofrer novas mutações. E ganhar força em condições climáticas favoráveis. "No Hemisfério Norte já é primavera, as casas já estão mais arejadas, mas aqui o inverno ainda vai começar", declarou. Professor da Unicamp, o infectologista Luiz Jacintho da Silva concorda. Ele ressalta ainda a necessidade de se continuar o monitoramento do vírus H5N1, da gripe aviária. "O vírus da gripe aviária ainda representa um risco concreto, ainda mais agora, com a possibilidade de se recombinar com o H1N1 de origem suína", afirmou ele ao Estado. Barbosa destacou ainda que, além de buscar recursos e doações de vacina, a Opas está distribuindo cerca de 300 mil tratamentos (3 milhões de comprimidos) do remédio oseltamivir de estoque estratégico para países que não dispõem do medicamento. Segundo análises feitas nos EUA, ele funcionaria contra a gripe suína. "O objetivo é que todos tenham o suficiente", destaca Barbosa. COLABOROU FABIANE LEITE

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