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A tacada das mulheres

Desafio, contato com a natureza e interessantes relacionamentos são ganhos das mulheres que aderiram ao golfe

Por Denise Berto
Atualização:

O esporte preferido de executivos e de uma seleta elite está perdendo a sisudez. Atualmente, há 25 mil praticantes de golfe no País, segundo a Confederação Brasileira de Golfe. Aliás, a própria figura do golfista está mudando. Hoje, além de homens mais velhos, muitos jovens e mulheres que experimentam o esporte tornam-se adeptos da sua prática freqüente. Além disso, o golfe movimenta no Brasil um mercado de US$ 50 milhões ao ano. Os números nacionais ainda são tímidos, quando comparados aos 30,3 milhões de praticantes nos Estados Unidos, Europa e Austrália, que fazem girar aproximadamente US$ 84,3 bilhões por ano. Cifrões à parte, a grande "tacada" do esporte criado na Escócia há cerca de meio século é o fascínio que vem despertando nas mulheres. A jovem Carolina Godoy Junqueira Smith, de 15 anos, por exemplo, troca tranqüilamente as baladas, esportes radicais e "turnês" com amigas em shoppings pelas aulas semanais na Federação Paulista de Golfe. "O esporte é único. É um desafio pessoal entre você e o campo, o que implica em concentração, equilíbrio e perícia muito grandes", ressalta, em tom professoral, a precoce Carol, aluna do ensino médio de um conceituado colégio particular da capital paulista. Ela conta que tudo começou com uma brincadeira num minicampo de golfe de um hotel onde estava hospedada com a família há dois anos. "Desde então, me encantei pelo esporte. Tudo colaborou para isso: as intensas caminhadas nos campos sempre muito bem cuidados, as inúmeras amizades que conquistei e o exercício mental e físico que proporciona." Filha única de uma família de classe média alta de descendentes de italianos e ingleses, Carol incorporou o golfe de tal forma à sua vida que acredita ser ele um forte aliado para vencer na carreira profissional para a qual se prepara: a diplomacia. "As relações internacionais requerem todas as características que o esporte me fornece", acredita. VENCENDO OBSTÁCULOS O golfe é uma paixão que a ex-comissária de bordo da Varig, Ruriko Nakamura, de 45 anos, compartilha com o marido há 12 anos. "É relaxante e, ao mesmo tempo, nos motiva a superar obstáculos." Para a nissei que passou grande parte de sua vida em viagens internacionais, o esporte também a ajudou a superar a maior dificuldade que teve em sua vida: um câncer de mama. "Ao detectar a doença, perdi o chão, achei que jamais voltaria a jogar", fala. Mas, após o tratamento que implicou em retirada da mama, sessões de quimioterapia, radioterapia e o abalo psíquico que este tipo de doença representa para toda mulher, Ruriko encontrou no esporte a motivação que precisava para aceitar seu problema. "A vida é cheia de altos e baixos, assim como os campos de golfe. Cabe a nós encontrar a serenidade e o equilíbrio para aceitar o que ela nos reserva, e acertar os buracos." Jogadora veterana, ela foi escolhida para representar o Brasil no campeonato mundial de 2004, em Porto Rico, além do Sul Americano de 2002, disputado no Rio de Janeiro. Sua próxima "tacada" profissional será abrir um restaurante japonês em Araçoiaba da Serra, cidade próxima à Sorocaba, interior paulista, onde vive com o marido e filha. NEGÓCIOS E PRAZER Lie Gwen Chang, de 52 anos, executiva do mercado financeiro aposentada, natural da Indonésia - chegou ao Brasil ainda criança com seus pais chinenes -, encontrou o golfe num "acaso profissional". Ao acompanhar um cliente do Exterior a um campo de golfe, encantou-se pelo esporte. "Consiste na luta de você contra você mesma. É o único jogo que lhe permite jogar sozinha, desafiando-a a acertar os buracos", define. Para ela, que o pratica há seis anos, o golfe tornou-se hobby, lazer, relacionamento interpessoal e prospecção de negócios. Lie é representante da Federação Paulista de Golfe e responsável pelo Golf Center do hotel Transamérica da ilha de Comandatuba, na Bahia. "Durante os jogos e os vários torneios dos quais participo, faço novos amigos e também vendo viagens. É tudo de bom, uno o útil ao agradável", sintetiza. A advogada londrinense Ceila Jorge, de 54 anos, percorreu vários esportes até chegar ao golfe. Depois de muita ioga, ginásticas aeróbicas, entre outras práticas esportivas, ela resolveu aceitar o convite do marido médico, que jogava com os amigos todos os fins de semana. "Gostei muito. Mas o fascínio maior foi durante uma viagem que fizemos à Escócia. Lá conhecemos campos maravilhosos, desse esporte que encanta o mundo há centenas de anos. Ao contrário do que muitos pensam, não há nenhuma monotonia em praticá-lo. É um esporte de total pressão: está em jogo você e seu limite." Ceila, que comanda uma confecção em Londrina, reafirma que a imagem de um esporte entediante é totalmente inverídica. Ela lembra que cada campo é diferente do outro, assim como os obstáculos. "Aí está o desafio", destaca. "Cada um deles requer tacadas diferentes e mais precisas." Outra imagem que ela faz questão de desmistificar é a de que se trata de um esporte inacessível à maioria das pessoas. Apesar da indumentária custar caro (um jogo de 14 tacos novos não sai por menos de R$ 2 mil; o sapato apropriado, R$ 300,00; luva, R$ 80,00; bolinhas, R$ 10,00 cada - em cada jogo são usadas, no mínimo, nove). Ceila diz que é possível adquirir todo o material de segunda mão a preços bem reduzidos.

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