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A relação entre gordura, longevidade e reprodução

Por Fernando Reinach e fernando@reinach.com
Atualização:

Sabemos que a falta de gordura prejudica a capacidade reprodutiva dos animais. E que é possível aumentar a duração da vida limitando a quantidade de alimento ingerido. A novidade é que aparentemente os fenômenos estão relacionados. Foi descoberto um sistema hormonal que regula tanto a longevidade quanto a capacidade reprodutiva por meio do controle da quantidade de gordura. Mulheres com quantidade baixa de gordura deixam de ovular e têm o ciclo menstrual interrompido. O fenômeno é conhecido entre corredoras de longa distância, em populações subnutridas e em tribos indígenas em que a amamentação exaure as reservas de gordura das mães. O mesmo ocorre em mamíferos como vacas e éguas, que deixam de ovular até que tenham recomposto um mínimo de suas reservas de gordura. Esse mecanismo faz sentido do ponto de vista evolutivo. Como o processo reprodutivo necessita de muita energia, iniciar uma gestação sem reservas pode levar mãe e feto à morte. Mais difícil de compreender é a descoberta de que uma dieta pobre em calorias aumenta a duração da vida. Essa observação, feita inicialmente em moscas-das-frutas, foi repetida em macacos. Fotos de macacos magros e longevos ao lado de seus primos gordos e de vida curta foram divulgadas. Nos EUA, há grupos de pessoas que se mantêm magras na esperança de viver uma vida mais longa, ainda que sofrida e faminta. Agora uma série de experimentos de cientistas americanos levou à identificação de mecanismos hormonais que interligam esses três sistemas, o de acumulação de gordura, o reprodutivo e o da longevidade. Os experimentos foram feitos utilizando o C. elegans, verme de alguns milímetros de comprimento. Como é fácil manipulá-los, é possível alterar neles o número reduzido de células reprodutivas, adicionar ou remover genes e descobrir como essas manipulações alteram a longevidade e a capacidade reprodutiva. Foi então descoberto que as células da linhagem reprodutiva (que darão origem a óvulos e espermatozoides) produzem pelo menos dois tipos de hormônios que agem sobre as células que acumulam gordura. Se as células reprodutivas param de se dividir, aumentam as enzimas que degradam gorduras (com a diminuição dos estoques) e a longevidade. Mas o aumento das enzimas que degradam gordura é suficiente para aumentar a longevidade? Para testar essa ideia, colocaram mais cópias dos genes dessas enzimas. Esses animais têm menos gordura e vida mais longa, mesmo se alimentando bem. Após diversos experimentos foi identificado o mecanismo de regulação que interconecta o acúmulo de gordura, a longevidade e a capacidade reprodutiva. Os mesmos genes desses vermes existem em mamíferos e provavelmente um mecanismo semelhante existe em humanos. É provável que esses estudos sejam repetidos em mamíferos e então poderemos entender como nosso corpo regula a interação entre gordura, reprodução e longevidade. Biólogo Mais informações: Fat metabolism links germline stem cells and longevity in C. elegans. Science, vol. 322

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