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A preocupação com cada um dos detalhes

Desde 1960, Cecília Mesquita comanda a equipe do ?Feminino?

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Por Redação
Atualização:

Foi uma surpresa, quase um susto, para Maria Cecília Vieira de Carvalho Mesquita, a indicação de seu nome para assumir a direção do Suplemento Feminino. Filha de Francisco Mesquita e sobrinha de Julio de Mesquita Filho, proprietários do Estado, ela não pretendia trabalhar no jornal, como seus dois irmãos e os três primos, que já ocupavam cargos na administração e na redação. E lembra sua reação. "Eu vivia em outro mundo e quase caí dura, quando meu primo Carlão (Luiz Carlos Mesquita), que era mais ou menos da minha idade, me ligou dizendo: ?Quero que você venha trabalhar no jornal.? Fiquei apreensiva. Costumava visitar as oficinas gráficas desde criança, mas não entendia nada de jornalismo. Cláudio Abramo, que era o redator-chefe, foi conversar comigo. ?Você me acode?, pedi." Cecília assumiu a direção da equipe em abril de 1960. Cláudio Abramo perguntou que orientação ela pretendia dar ao caderno. "Tem de ser feminino, com matérias ou reportagens sobre moda, culinária, decoração...", respondeu, apontando em linhas gerais a trajetória seguida desde setembro de 1953, quando Capitu (Maria do Carmo de Almeida) lançou o Suplemento Feminino. "Não conheci Capitu, que se aposentou em 1959, mas via seu trabalho e sabia que ela era muito amiga de meu pai e de meu tio Julinho. Cláudio Abramo me pôs em contato com José Natal e Delmiro Gonçalves. Foram eles que me ensinaram. Eu não tinha prática, mas achava o ambiente muito divertido. Fui tocando, com a ajuda deles. Comecei na época das rotativas." Cecília acompanhava tudo. Montava as páginas na quarta-feira, conferindo cada detalhe. "Eu era elétrica. Rômulo Ciuffo dava risada, ele dizia que eu era o terror das oficinas." Na direção do Feminino, como o Suplemento se chama atualmente, Cecília faz questão de participar de todas as etapas da edição. Dá expediente no jornal três vezes por semana e telefona repetidamente para a editora-chefe nos outros dias. Lê todo o material: o texto feito pela repórter, o texto editado e o texto impresso. Ela faz sugestões, corrige erros, cobra responsabilidades. "Não aprendi a usar o computador e me arrependo, pois com o computador tudo mudou muito. Aprendi datilografia e taquigrafia", disse Cecília, orgulhosa de escrever com os cinco dedos no teclado, quando muitos jornalistas "catam milho" usando apenas dois dedos. Ela reconhece os recursos da tecnologia, mas alerta para os riscos que o jornalista corre quando não vai à rua para ouvir as pessoas e checar as informações. Cecília não admite que repórteres fiquem presos ao telefone ou à internet. "Insisto que saiam a campo, porque muita coisa tem de ser feita pessoalmente. Pelo telefone, o entrevistado manda dizer que não pode atender. Em reportagens sobre saúde, educação e crianças, por exemplo, o repórter tem de conhecer os lugares e as pessoas com quem está falando. Era assim que se fazia antigamente." Quando se trata de orientação médica, a diretora recomenda cuidado especial na escolha do especialista a ser entrevistado. A ilustração sempre foi uma preocupação de Cecília. Uma de suas primeiras iniciativas ao assumir o Feminino foi substituir o material importado por fotos produzidas pelo Estado. "É nossa?", pergunta à editora Roberta Sampaio, ao checar a foto de uma página. "Juca (José Vieira de Carvalho Mesquita), meu irmão, me ajudou muito na seleção de fotos, pois toda semana eu mostrava as fotos para ele", lembra Cecília. Orgulhosa de sempre ter se dado bem com a equipe, destaca algumas das auxiliares que trabalharam no Feminino. "Dinah (Bueno Pezzolo) fez uma carreira maravilhosa: ia à França todo ano e tirava belas fotos de moda, sua especialidade. Lucinha (Maria Lúcia Fragata), que foi editora, também é uma maravilha. Outra profissional ótima é a diagramadora Jussara (Guedes), agora na redação do Estado." "Gosto do que estou fazendo e fico feliz da vida", revela Cecília, na direção do Feminino. Se lhe faltou alguma coisa, confessa, foi não ter conseguido transformar o caderno em uma revista. "Meu sonho era fazer uma revista, mas nunca chegou a hora", lamenta.

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