A moda agora é o som personalizado

Cada vez mais, restaurantes, hotéis e marcas investem na sua própria trilha sonora

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Por Ciça Vallerio
Atualização:

Que tal levar para casa um pedacinho dos bons momentos vividos num restaurante ou hotel? Se aquele ambiente marcou e, ainda por cima, foi embalado por músicas bem selecionadas e de extremo bom gosto, peça o CD ao garçom ou à recepcionista. Sem constrangimento. Esta onda, das trilhas sonoras customizadas, já existe lá fora há muito tempo, e começa a pipocar por aqui, ainda que discretamente. Um bom exemplo de sucesso são os CDs lançados pelo badalado Hotel Emiliano, em São Paulo, que já estão no quinto volume. Em março, chegam ao mercado os volumes seis e sete, em edição dupla. Este projeto surgiu da mesma forma que costuma acontecer em outros lugares: os freqüentadores se interessaram pela música ambiente e perguntaram como conseguir "aquela" trilha sonora. Quem está por trás da seleção de músicas do hotel, e que cansou de ouvir pedidos da clientela, é o DJ Tony Montana, há cinco anos comandando o som do bar. "Muita gente pedia uma cópia do que eu escolhia para tocar, porque faço uma pesquisa extensa, coloco música que tem a ver com o clima do lugar, e acabo ressuscitando clássicos e canções das quais ninguém lembra, ou às vezes nem conhece", conta Montana. "Daí veio a idéia de lançarmos os CDs. Seleciono as músicas, geralmente as preferidas dos hóspedes e freqüentadores. Depois de aprovada, a seleção vai parar nas prateleiras das principais lojas, sempre com a chancela de alguma gravadora - que, no nosso caso, é a MCD." Para conhecer o repertório, basta entrar no site www.mcd.com.br. A vinculação de uma trilha sonora específica ao nome de uma marca não é novidade fora do País. Uma das principais referências desse estilo é o Buddha Bar, em Paris, que vem lançando ao longo dos anos CDs com o som que toca nesse efervescente espaço, onde há boa comida com toques asiáticos e drinques. Em todas as capinhas dos oito volumes lançados, que também são vendidos no Brasil, está a suntuosa estátua dourada do Buda, que completa a decoração do bar. Nas faixas, há uma mistura de sons da Índia, Europa, entre outras procedências. Ritmos que embalam jantares de famosos como George Clooney, Naomi Campbell e Madonna, habitués do restaurante. Além das filiais em Nova Iorque, Dubai, Cairo, Las Vegas, Beirute, o Buddah Bar chegou a São Paulo este mês e se instalou na Villa Daslu. MUNDO AFORA Segundo o Dj Montana, a tendência da música customizada começou com duas casas noturnas de Ibiza - ilha espanhola conhecida como a capital mundial da balada -, Cafe del Mar e Bambuddha. Depois, em Paris, surgiu o CD do chique e cool Hotel Costes. Na mesma cidade, é bom lembrar, nasceu também uma série de coletâneas elaboradas pelo restaurante e danceteria Favela Chic, um famoso reduto brasileiro. Com músicas nacionais tiradas do baú, os DJs da casa embalam europeus numa miscelânea que vai de Os Incríveis cantando Vendedor de Bananas; Erlon Chaves, em Eu Quero Mocotó; algumas pérolas de Walter Wanderley, passando por Elza Soares, Bezerra da Silva, o funk do Bonde do Gorila, Trio Nordestino e assim por diante. Músicas que, dificilmente, quem mora no Brasil escutaria em algum bar por aqui. Seguindo essa onda, São Paulo já conta com algumas trilhas sonoras customizadas, principalmente de restaurantes. A chef Danielle Dahoui, que comanda o charmoso bistrô Ruella, fez o seu primeiro CD em 2003, o La Music du Ruella, que está esgotado. No ano que vem, sai do forno o La Music de Dahoui, cuja seleção conta com a parceria da gravadora ST2. O Na Mata Café também tem sua versão de música ambiente, só com repertório brasileiro e moderno, no estilo Chill Out Bossa (mix de eletrônico suave e bossa), tipo de som que está na moda e tem inspirado vários outros lançamentos. Já a compilação do dinning club Café de la Music é mais dançante, e é vendida apenas no local. A próxima a entrar nesse hall será a Casa do Saber, centro cultural que oferece diversos tipos de cursos e, no ano que vem, lança seu primeiro CD. O fundador da gravadora MCD, Eduardo Muszkat, explica que as trilhas sonoras customizadas - criadas especialmente para determinado lugar - é uma boa jogada de marketing. "Essas compilações ajudam a fortalecer o vínculo da marca com o público por meio da música", fala Muszkat, que está por trás dos CDs do Hotel Emiliano. "Embora tais produtos não sejam grandes fontes de renda, são excelentes divulgadores. Boa parte dos compradores vai ao local, gosta e quer levar uma lembrança de lá." ESPAÇO CULTURAL Reforçar a marca por meio da música caiu como uma luva até para o MAM (Museu de Arte Moderna), que já conta com três volumes. Aproveitando a alta freqüência de seu restaurante/café, o museu também criou seu próprio repertório. "Tanto a gravadora como o MAM tiveram muito retorno, principalmente entre o público mais jovem", conta Muszkat. "Estamos até exportando para a Espanha, Holanda e Portugal. Por causa disso, o site do museu recebe e-mails de estrangeiros querendo conhecer o lugar." Esses produtos personalizados têm se tornado também uma fatia importante do faturamento das gravadoras, que vêm amargando uma série de quedas nos lucros. É o que explica Marcelo Afonso, diretor de marketing da ST2 - selo do álbum Na Mata Café. Além do trabalho voltado para lugares da moda, a empresa cria CDs customizados para marcas badaladas, que resolvem também colocar no mercado a sua própria trilha sonora para fisgar o público. A gravadora desenvolveu, por exemplo, quatro CDs da grife de roupas fitness Track&Field, dois álbuns da Smoking (marca de seda de cigarro) e um da Skol. "Conquistar pelo emocional, por meio da música, é um dos melhores caminhos para essas marcas. Por isso, é um investimento fantástico, que também funciona como um processo de fidelização", acredita Afonso. "Para isso, bolamos um repertório que combine com a marca e com o público que a empresa quer atingir, mostrando aos clientes sofisticação e bom gosto." Arthur Newmann, diretor comercial da Building Records, responsável pelo CD do Café de la Music, lembra que muitos que vão atrás de compilações customizadas compram mais o conceito do que propriamente as músicas. Este ano, em viagem a Nova York, ele acompanhou a voracidade de consumidores que faziam fila para adquirir o CD da famosa loja de departamento Bergdorf Goodman, que vendia seu primeiro exemplar por 50 dólares. Alguns locais chegam ao luxo de mandar produzir músicas exclusivas. A hospedaria Vila Naiá, um refúgio requintado localizado na praia de Corumbau, no sul da Bahia, chamou o músico Serginho Rezende para produzir um CD especial. Trabalho que o levou até lá para, inicialmente, capturar todo tipo de som: mar, moradores do povoado, sons da mata, vento, noite. "Depois é levar tudo isso para um estúdio e montar uma trilha que misture esse material com música eletrônica, seguindo uma linha lounge, acrescentando tambores que lembram a Bahia", explica Rezende, dono da produtora paulista Comando S. "O projeto vai ficar pronto em seis meses, e será vendido em lojas, para que o CD ganhe vida própria e gere curiosidade entre os consumidores, levando-os a conhecer a pousada", anuncia ele.

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