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66% dos alunos se envolveram em agressão na escola

Pesquisa ouviu 849 estudantes; entre os casos mais relatados estão violência física e apelido depreciativo

Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

Cerca de 66% dos alunos do ensino fundamental e médio disseram ter sofrido ou cometido agressões contra seus colegas de escola nos últimos seis meses. É o que mostra pesquisa feita pelo Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná. Entre os tipos mais comuns relatados estão soco, chute, revide a agressões físicas e até apelidos depreciativos. O resultado disso é que a pesquisa identificou presença quatro vezes maior de indícios de depressão entre alunos vitimizados e sete vezes mais entre agressores e vítimas agressivas. O estudo foi desenvolvido com o objetivo de identificar as principais características de bullying - nome dado à violência interpessoal entre indivíduos da mesma condição - nas escolas brasileiras. Com base em questionários respondidos pelos alunos, que aferiam a qualidade do seu relacionamento com amigos, família e comunidade, os adolescentes foram divididos em quatro grupos: agressores, vítimas, vítimas agressivas e não-envolvidos. "Mesmo aqueles que classificamos como não-envolvidos podem ter participado indiretamente da violência com sua omissão e passividade", ressalva Josafá Moreira da Cunha, principal autor da pesquisa. Participaram do trabalho 849 jovens matriculados entre a 5ª série do ensino fundamental e o 3º ano do médio de quatro cidades brasileiras - Curitiba (PR), Goiânia (GO), Governador Valadares (MG) e Teresina (PI). Os estudantes são de escolas públicas e particulares. O bullying tem sido uma preocupação constante entre especialistas em educação, não só no Brasil, mas também nos EUA. Estudo americano mostrou que 40% dos alunos do país não se sentem seguros nas escolas. Um trabalho análogo realizado no Brasil pelo próprio núcleo da Federal do Paraná identificou uma percepção de insegurança mais alta: 67%. No País, a Secretaria da Educação de São Paulo enviou no início deste ano às escolas um manual contra bullying - Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. IDADE MÉDIA O trabalho do núcleo paranaense também identificou a idade mais crítica para a ocorrência de bullying: 14 anos. "É a faixa etária próxima a períodos de transição escolar", explica Cunha. "O bullying pode funcionar como uma estratégia de reorganização social em um novo contexto, onde a hierarquia social ainda não foi determinada." O estudo também mediu o impacto da família no comportamento dos jovens. O diálogo constante e o estabelecimento de regras claras e consistentes foram considerados os fatores mais eficazes para evitar comportamentos agressivos. O principal fator de risco identificado em casa foi a comunicação com os filhos pautada pela arbitrariedade e agressividade. A pedagoga Neide Noffs, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), considera muito importante que os professores permaneçam atentos. "A atribuição de apelidos é um mau sinal", afirma Neide. "Parece algo inocente, mas é preciso cortar pela raiz."

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