43% dos alunos matriculados em supletivo não terminam os estudos

Entre motivos estão necessidade de trabalhar, falta de interesse e dificuldade para acompanhar o curso, diz IBGE

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Por Wilson Tosta
Atualização:

Quase metade (43%) dos alunos que, antes do fim de 2007, tentaram retomar os estudos por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) - antigo supletivo - abandonou novamente a escola antes da conclusão, diz pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a sondagem Suplemento PNAD 2007 - Aspectos Complementares da Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a incompatibilidade da escola com o horário de trabalho foi o motivo mais citado para o abandono do ensino. A resposta foi citada por 27,9% do público formado em sua maioria por pretos ou pardos, mulheres e de renda domiciliar per capita de até dois salários mínimos. "A pesquisa mostra que as dificuldades desse público de concluir o curso são bastante grandes", disse o presidente do IBGE, Eduardo Nunes. "Todos nós sabemos que esses cursos são noturnos na maior parte das vezes, oferecidos a pessoas que trabalham o dia inteiro, muitas vezes em serviços pesados, cujo desgaste pessoal é grande, além de todo o tempo de deslocamento entre o local de trabalho, o do curso e depois retornar para casa." Dos 3,4 milhões de pessoas que abandonaram a EJA antes do fim - de um total de 7,97 milhões que passaram por seus cursos antes da pesquisa -, a região com mais desistentes, proporcionalmente, foi o Sudeste: 37,04%. Em seguida, veio o Nordeste (26,7%), o Sul (20,14%), o Centro-Oeste (8,08%) e o Norte (7,96%). A sondagem mostrou que a EJA tinha 47,2% de pardos e 10,5% de pretos - 57,7% do total - para 41,2% de brancos. Diz ainda que estavam na EJA 2,6% dos brasileiros de 15 anos ou mais sem rendimento. "É uma população que já tem uma história escolar muito truncada", disse o professor Márcio da Costa, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele também vê outras causas para o abandono. "Às vezes, o cara no ensino regular repete, desiste, depois volta. Quando completa uma idade x, passa para o ensino regular noturno ou EJA. Ou então é a menina que se torna jovem mãe. A característica comum desses estudantes é a história truncada." O segundo motivo mais citado para o abandono foi a falta de interesse (15,6%), seguido de dificuldades para acompanhar o curso e falta de compatibilidade com os afazeres domésticos (ambos com 13,6%) e falta de curso próximo à residência (5,5%). Já Eliane Ribeiro Andrade, pesquisadora da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), considerou normal a alta evasão da EJA, resultado que coincide, segundo ela, com os de outros países com programas semelhantes ao brasileiro. "Por que eles (os alunos) param (de estudar) a primeira vez?", perguntou. "Eles param sempre, estão sempre parando. A escola se torna uma coisa secundária, porque primeiro têm de trabalhar." O subsecretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Luiz Lázaro, lembrou que a EJA agora tem recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "Eu não fico tão apreensivo com a baixa conclusão, mas com a baixa procura. Porque, se as pessoas não estão lá, como é que a gente melhora o curso?" Ele lembrou que há pelo menos 60 milhões de brasileiros sem ensino fundamental completo no País. Os cursos de EJA são divididos em três etapas: para quem não concluiu até a 4ª série; para os que têm pelo menos quatro anos de estudo, mas não concluíram até a 8ª série e para os que não terminaram o 3º ano do ensino médio. Por enquanto, a idade mínima de entrada é 15 anos. SUBSTITUIÇÃO De acordo com a pesquisa, do total de alunos que frequentaram a EJA, 7,5% tinham entre 18 e 19 anos, idade que eles poderiam estar cursando ainda o ensino médio regular. Lázaro afirmou que a tendência de a EJA substituir o ensino regular não é nacional. Segundo o IBGE, em relação a pessoas que disseram frequentar ou ter frequentado a EJA para "adiantar os estudos" (ou seja, poderiam ter feito o ensino "normal", mas escolheram o supletivo), os maiores porcentuais foram no Norte, com 30,4%, e no Nordeste, com 27,7%. Nacionalmente, essa proporção foi de 17,5%. No total, quase 3 milhões de alunos frequentavam EJA no fim de 2007. Na EJA do ensino médio, havia 1,054 milhão. Isso equivalia a 12,6% dos 8,36 milhões de estudantes regulares do ciclo, segundo o Censo Escolar.

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