40% deixam escola por desinteresse

Pesquisa da FGV avaliou motivos da evasão; 27% dos adolescentes abandonam estudos para trabalhar

PUBLICIDADE

Por Fabiana Cimieri
Atualização:

Os principais motivos da evasão escolar de adolescentes são a falta de interesse e a necessidade de trabalhar. Estudo baseado em dados do IBGE mostra que 40,1% dos jovens de 15 a 17 anos abandonam a escola por desinteresse e 27,1% saem por razões de trabalho e renda. Apenas 10,9% deixam de estudar por falta de acesso à escola e 21,7% o fazem por motivos diversos, entre os quais a gravidez precoce. Segundo a pesquisa, coordenada pelo economista Marcelo Néri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no ano passado, 14,1% dos jovens dessa faixa etária deixaram de estudar. O porcentual é mais alto nas regiões metropolitanas de São Paulo (18,7%) e de Porto Alegre (18,8%) e entre os jovens empregados (28%), o que indica relação entre mercado e abandono escolar. Néri analisou Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads) de 2004 e 2006 e Pesquisas Mensais de Emprego até o final de 2008. Entre 2004 e 2006, houve recuo do grupo que sai da escola por desinteresse de 45% para 40,1% e crescimento da evasão por trabalho ou busca de emprego, de 23% para 27,1%. Como a amostra da Pnad é abrangente, englobando 500 mil pessoas a cada ano, o resultado, segundo Néri, parece indicar uma correlação entre aquecimento da economia, como foi o caso no período analisado, e evasão escolar no ensino médio. "Ainda que as pessoas tenham dinheiro para ir à escola e os pais não estejam pressionando para que trabalhem, o mercado de trabalho atrai esse jovem, mesmo quando se sabe, por meio de outros estudos, que a taxa de retorno da educação no Brasil é uma das mais altas do mundo", avalia Néri. A cada ano de estudo, há um aumento médio de 15% na renda do trabalhador. Nesse caso de abandono por motivo de renda ou trabalho, a ampliação do limite de recebimento do Bolsa-Família, ocorrida no ano passado, foi elogiada por Néri. "Mas o impacto dessa medida é limitado, porque, como estamos vendo, essa é a razão apontada por menos de um terço dos jovens." Para a coordenadora do Instituto Unibanco, Wanda Engels, "a grande contribuição da pesquisa foi quebrar o mito de que o jovem abandona a escola porque vai trabalhar". Os pesquisadores apontam algumas políticas públicas que poderiam aumentar o interesse pela escola, como por exemplo, ampliar o ensino técnico-profissionalizante, promover a inclusão digital nas escolas e conscientizar os adolescentes sobre os benefícios de longo prazo dos estudos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.