Tina Knowles Lawson, a mãe de todas as mães do pop

Conheça mais sobre a mulher que trouxe Beyoncé ao mundo

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Por Alex Hawgood
Atualização:
. Foto: Joshua Lott / Reuters

Para duas irmãs que têm vida pública, até que Beyoncé e Solange Knowles conseguiram resistir à tentação de compartilhar os mínimos detalhes da vida pessoal, mas tem um assunto do qual as duas adoram falar: a mãe, Tina Knowles Lawson. Na edição de janeiro da revista Interview, Solange é entrevistada por Beyoncé e se derrama em elogios para falar que a mãe sempre as ensinou "a ter o controle sobre a própria voz, o próprio corpo e o trabalho". Em junho passado, ao receber o prêmio de ícone da moda do Conselho de Estilistas dos EUA, Beyoncé o dedicou à mãe, "fabulosa e linda". E, em novembro, quando Solange fez uma participação em Saturday Night Live, um vídeo feito nos bastidores e postado no Instagram em que aparecia sendo carregada pela mãe e a irmã mais velha fez a internet soltar um "aww" coletivo. Tina, 63 anos, hoje se vê no papel recém-criado de "ponte artística" entre dois dos álbuns mais elogiados de 2016: Lemonade, o trabalho visual intenso de Beyoncé que recebeu nove indicações ao Grammy, cerimônia que acontece em fevereiro, e A Seat at the Table, o disco de R&B, enxuto e poético, de Solange, que encabeçou a lista da Pitchfork dos mais vendidos do ano passado. Em outubro, suas filhas entraram para a história ao se tornarem as primeiras irmãs a chegar ao topo da Billboard 200 no mesmo ano. A presença de Tina, ex-cabeleireira do sul dos EUA que durante a vida toda colecionou obras de arte negra contemporânea, se faz presente nas alusões artísticas de Lemonade à força e à influência da maternidade negra, aos problemas conjugais e às profundas raízes crioulas da família. Na agitada Formation, Beyoncé grita sua Momma Louisiana.

. Foto: Credit Ryan Pfluger for The New York Times

Avessa ao contato com a imprensa, a cantora rompeu o silêncio para falar da influência criativa da mãe (embora o tenha feito por e-mail, sob a coordenação de um assessor). "Na visão dela, sempre foi importante nos cercar de imagens positivas, poderosas e fortes da arte africana e afro-americana; queria que nos víssemos ali", escreveu. "A grande preocupação da minha mãe foi fazer a mulher se sentir bonita, fosse através do tratamento que dispensava à cliente, fosse fazendo o vestido do baile de formatura para uma das meninas da igreja. E sua coleção de arte sempre contou histórias de mulheres que queriam fazer o mesmo." A participação de Tina em A Seat at the Table é mais explícita: em Tina Taught Me, um interlúdio cerebral de 74 segundos de duração, ela fala sobre o orgulho cultural negro: "Sempre tive orgulho de ser negra. Nunca quis ser outra coisa." E também afirma que se entristece ao saber que as pessoas o consideraram "antibranco". Solange comenta: "Ela diz coisas naquele interlúdio que eu vinha tentando expressar há quatro anos; só que tem um jeito muito especial de se comunicar, através de um canal todo seu, que sempre foi maior do que ela própria." "Se o trabalho da minha irmã e o meu projeto serviram para 'despertar' as pessoas, sempre digo que isso é resultado de termos sido criadas por Tina Knowles", acrescenta.

A matriarca da família real do pop mora em uma casa com cara de castelo, toda cercada, no topo de Hollywood Hills, em Los Angeles. Em uma noite quente, em novembro passado, Tina se sentou em sua sala de estar de cores fortes, coberta de obras pós-impressionistas e abstratas, na maioria de artistas africanos e afro-americanos. Vestida casualmente, toda de preto, "Miss Tina", como gosta de ser chamada, exala uma simpatia e uma compostura naturais. Ela pode ter criado duas superestrelas talentosas, mas dá a impressão de ser apenas uma aposentada sábia totalmente confiante – e com uma pele impecável, diga-se de passagem. Seu lado irreverente é familiar ao quase um milhão de seguidores que conquistou no Instagram, plataforma que nunca foi conhecida por ser receptiva a negras sexagenárias. Faz "piadas de mãe" sem graça – "Falei para a minha assistente ter um bom dia e sabem o que ela fez? Foi para casa!" –, imita a Tina Turner e geralmente brinca e faz gozação com os amigos e a família.

. Foto: Ryan Pfluger for The New York Times

"Quero mostrar para as pessoas que minha vida é bem comum; nem tudo é luxuoso e extraordinário." Tina, nascida Celestine Ann Beyincé, foi criada, nos anos 50, em Galveston, no Texas. Caçula de sete irmãos, seu pai era estivador e a mãe, costureira. Dela, aprendeu o ofício ainda cedo, e criou modelos chamativos para as apresentações do grupo de canto do qual participava, inspirado nas Supremes, ainda no colégio. Aos 19, mudou-se para a Califórnia para trabalhar de maquiadora para a Shiseido Cosmetics, mas voltou para o Texas um ano depois, quando os pais ficaram doentes. Com a ajuda do então marido, Matthew Knowles, ex-executivo da Xerox, abriu um salão médio em Houston, chamado Headliners. E ele servia de palco improvisado para as filhas pequenas, enquanto as clientes, sob os secadores, serviam de júri. Quando o Destiny's Child, grupo formado por Beyoncé, Kelly Rowland ("a minha outra filha") e Michelle Williams começou a despontar, no fim dos anos 90, Tina voltou a costurar, o que resultou nos uniformes de escoteiro, shorts camuflados curtíssimos e sainhas tipo Tarzã que as meninas usavam no palco. Como Beyoncé revelou no discurso ao CFDA, no ano passado, na época, os estilistas relutavam em vestir "meninas negras do interior cheias de curvas", então sua mãe resolveu intervir. "Às vezes, as roupas eram meio malucas, mas aí o pessoal começou a ficar curioso para saber o que viria a seguir", diz ela. O toque "Bootylicious" ajudou o grupo a se destacar ainda mais: o Destiny's Child vendeu mais de 60 milhões de discos no mundo todo e a matriarca se tornou uma força no quesito moda. Em 2004, ao lado de Beyoncé, inaugurou a House of Deréon, uma marca de roupas descoladas, a preços acessíveis, que batizou com o nome de sua mãe. Uma linha infantil e de cama e mesa vieram logo em seguida. Quando o grupo acabou, em 2005, Tina continuou a criar roupas extravagantes para Beyoncé, a essa altura em carreira solo, incluindo o vestido preto de brocado que ela usou na cerimônia do Oscar daquele ano. Porém, em 2009, quando a vida profissional parecia estar no auge, Tina disse que "seu mundo parou" – e depois de 33 anos de casamento, deu entrada com um pedido de divórcio de Matthew Knowles, que também foi empresário das filhas. Citando um "conflito de personalidades", o processo foi finalizado em 2011. A separação levantou questões existenciais.

. Foto: Jonathan Short/Associated Press

"Que tipo de vida eu ia levar? Achava que era muito tarde para tentar alguma coisa nova. É inevitável surgir esse tipo de dúvida." Em busca de respostas, fechou todos seus negócios de moda e, aos 59 anos, saiu de Houston, rumo a Los Angeles, para o que ela descreve, brincando, como "casa nova, carro novo, homem novo, vida nova". Em 2013, reencontrou um amigo antigo – Richard Lawson, ator de TV famoso por seus papéis em Dinastia e All My Children. Os dois se casaram em 2015. "Eu me sinto totalmente livre agora, de verdade", comemora. Tina no momento se dedica à questão da autonomia da mulher negra e à filantropia (foi homenageada no Festival Essence de Nova Orleans, no ano passado) e está escrevendo uma autobiografia que descreve como "um livro para resgatar a vida". Em março, ela e o marido pretendem abrir uma oficina de atores para jovens carentes em Los Angeles, chamado de WACO Theater Center (abreviação, em inglês, para "Onde a arte acontece"). E após o afastamento que se impôs da moda, produziu o modelo dourado de franjas que Solange usou no clipe Cranes in the Sky, como também o vestido branco que a filha usou na apresentação que fez na festa de despedida do presidente Obama, na Casa Branca, em seis de janeiro. "Quando tive as meninas, decidi me dedicar ao máximo à educação delas, inclusive deixando a minha própria vida de lado. Agora, com as duas crescidas, é hora de cuidar de mim", diz, sorrindo, enquanto se ajeita elegantemente no sofá.