Super jovens, ativar!

Filhos da revolução demográfica, os 'maduros' de hoje aparentam menos idade do que têm e vivem como se fossem bem mais novos, derrubando as barreiras geracionais

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Por Gabriela Carelli
Atualização:
Elas não têm nada de matronas. Nem ele de vovô Foto: Reuters e AP

Há quem os chame de sem idade, sempre jovens, super jovens. Com certeza você já viu um deles por aí. Pessoas com 40, 50, 60 anos, ou até mais, que parecem resistir a ação do tempo e aparentam ter bem menos idade do que consta em seus RGs. Saudáveis e dispostos, também vivem como se fossem mais jovens do que são, sem ligar para rótulos etários ou estereótipos geracionais. Pense em Halle Berry, estonteante, aos 48 anos; na carinha e no jeito de menina de Jennifer Aniston, 45; ou em Paul McCartney, 72, de novo em turnê mundo afora, cantando e tocando como se não houvesse amanhã. Elas não têm nada de matronas. Nem ele de vovô.

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Não faltam exemplos de gente assim entre os lindos, ricos e famosos (eles são sempre os primeiros a serem lembrados quando se trata de descrever um fenômeno ou um estilo de vida recém-detectados, por motivos óbvios). Mas ser super jovem - vamos chamá-los assim - não é ter beleza de celebridade e conta bancária de pop star. Muito menos um rosto desfigurado por uma infinidade de procedimentos estéticos. Ou um corpo de 30 anos aos 80 anos, a qualquer custo, mesmo que o preço a pagar pelo uso indiscriminado de esteroides para chegar nesse objetivo seja, paradoxalmente, alguns anos a menos de vida. Com todo o respeito aos adeptos de radicalismos: lábios enormes, e disformes, e cara de Barbie, ou de Ken, não rejuvenescem ninguém. Pelo contrário.

Ser super jovem é muito mais. É não deixar de fazer isso ou aquilo só porque apagou um bocado de velinhas - imagine uma mulher cortando as madeixas só porque isso não cai bem para uma senhora? Pois, há pouco tempo, quatro décadas significavam o fim do cabelão. É também namorar, separar, voltar a casar. Passear com desenvoltura pelas outras gerações - a X, a Y ou a Z. Ser, ao mesmo tempo, consumista como um baby boomer e preocupado com o planeta como um millennial. Sem dramas. Comprar roupas iguais as do filho e passar horas absorto em múltiplos devices, como um adolescente. Não contar os dias para a aposentadoria, mas, talvez, mudar de profissão. Encarar a velhice de frente, com naturalidade, sem forçar a barra para. Curtir o tempo que ainda vai passar por aqui da melhor forma que puder. E hoje - como nunca na história da humanidade - isso é possível. 

Os super jovens não existem só porque querem. Mas porque podem. São os filhos da revolução demográfica. Usufruem de avanços médicos, científicos e tecnológicos que transformaram o mundo nos últimos dois séculos, alçando a expectativa de vida a níveis inimagináveis - só para se ter uma ideia, em 1930 os cientistas calculavam em 65 anos a idade limite para a vida de qualquer ser humano. Esse grupo dispõe de coisas que não existiam no tempo de seu pais e avós: vacinas, remédios, fartura alimentar e, vá lá, botox (que, usado com moderação, não faz mal a ninguém). São bem informados sobre o que comer, como exercitar o corpo e a mente para evitar doenças decorrentes da má alimentação, do sedentarismo, do envelhecimento. Claro que nem tudo é cor-de-rosa. Parte da população mundial ainda passa fome. Outra vive uma epidemia de obesidade. “É um abismo do tamanho do mundo”, como diria Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas.

Aquém dessas estatísticas, porém, a questão da vida longa se apresenta da seguinte forma: 70% do nosso tempo de vida é determinado pela genética. Os outros 30% dependem das escolhas que a gente faz. O psicólogo David Weeks foi um dos primeiros a tentar decifrar quais dos “bons hábitos” das pessoas que parecem não envelhecer eram os mais eficientes. Para isso, entrevistou mais de 3,5 mil homens e mulheres com idades entre 20 anos e 101 anos que aparentavam ter uma década a menos, em média. E descobriu que a jovialidade dos chamados super jovens - termo cunhado por ele -depende, mais do que qualquer coisa, de um único fator: os que classificam nessa categoria gostam muito de viver. São ativos, se exercitam (sem fanatismo), têm boa vida sexual e cultivam relacionamentos. “A idade real, não a do documento, tem a ver, acima de tudo, com o humor. Tudo indica que esse é o elixir da vida”, escreveu.

Envelhecer não é fácil, não há dúvida nenhuma disso. A possibilidade da morte nos assombra desde sempre - e não é legal saber que o tempo nos aproxima dela, quer queira quer não. Os anos inexoravelmente nos tiram algumas coisas, como, a energia de antes, a visão, os entes queridos que se vão. Mas envelhecer também liberta de comportamentos que aprisionam a quase todos na juventude: da necessidade de aprovação dos outros, do sentimento de culpa, da intransigência - é a tal da maturidade, sobre a qual tanto falam. Cá entre nós, entre as duas possibilidades que nos deram no nascimento, a de ficar bastante tempo por aqui, mesmo que sofrendo o desgaste dos anos, é, de longe, a melhor delas. Se é assim, por que não aproveitar o que se tem pela frente, como os super jovens estão fazendo? 

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