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Protagonista de 'Cidade de Deus' trabalha como motorista de Uber

'Se tivesse nos Estados Unidos, acho que teria um retorno maior, porque lá as coisas são melhores, existe um apoio ao artista', afirmou Alexandre Rodrigues, 16 anos após interpretar Buscapé no filme brasileiro

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Por Redação
Atualização:
Alexandre Rodrigues como Buscapé em cena de 'Cidade de Deus' e dentro de seu carro, em vídeo gravado para os stories de seu Instagram em dezembro de 2018. Foto: 'Cidade de Deus' / Divulgação / Miramax | Instagram / @imalexandrerodrigues

O ator Alexandre Rodrigues, conhecido por ter dado vida ao personagem Buscapé, protagonista do premiado filme Cidade de Deus, falou sobre a repercussão das redes sociais em resposta ao fato de ele ter se tornado motorista de Uber nos últimos tempos. Na última quinta-feira, 13, a postagem de uma internauta que reconheceu, conversou e tirou uma foto com o ator ao usar o aplicativo viralizou no Twitter.  "Como não estava aparecendo trabalho dentro da minha profissão, no que estudei pra poder fazer a minha vida quase que toda, falei, bom, vou fazer o [plano] B, né? Fazer o que? Preciso trabalhar, sustentar minha casa", explicou Alexandre em seu Instagram na noite de sábado, 15. Alexandre conta que costuma passar entre oito e nove horas em seu carro diariamente para tirar seu sustento. "Sou um cara muito comum, muito pé no chão e faço isso porque é o que tenho pra poder fazer. Se tivesse alguma peça de teatro pra poder dirigir, eu ia dirigir uma peça de teatro. Mas só me sobrou o carro pra dirigir [risos]!"

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Carreira de ator permanece

Ele também conta que não largou o mundo da dramaturgia: "Minha profissão tá indo bem, graças a Deus. Faço bastante teste. Só essa semana agora, já tenho uns dois ou três pra fazer. É isso, não tem nenhum mito, não tem nada, é uma coisa normal." Seu trabalho mais recente na TV foi interpretando Valdo em O Outro Lado do Paraíso, novela das nove da Globo. Na ocasião, chegou a receber elogios do ator Tiago Fragoso. "Tenho o prazer de fazer uma novela com esse cara fenomenal. Temos poucas cenas juntos, mas, sempre que a gente grava, é uma curtição", escreveu Tiago em seu Instagram em março.

Rodrigues se diz surpreso com o fato de a foto que tirou com uma fã ter viralizado da forma como ocorreu. "Eu tiro tanta foto que nunca imaginei que essa foto especificamente poderia trazer tanta repercussão. Nem a novela teve essa repercussão toda. O Brasil inteiro ficou assim por conta de uma foto que tirei porque tô na Uber. " "Quantos cidadãos, engenheiros, médicos, não perderam seus trabalhos e tão trabalhando dignamente em aplicativo? É uma coisa muito simples."

Realidade do artista no Brasil

"É lógico que pras pessoas em geral acham que porque eu fiz um filme que teve uma p*** repercussão fora do Brasil e dentro do Brasil, eu teria que estar milionário. Não necessariamente." "Se eu tivesse nos Estados Unidos acho que eu teria um retorno um pouco maior, porque lá as coisas são um pouco melhores nesse sentido. Existe um apoio ao artista no geral lá. Mas precisa-se ralar muito pra chegar numa Hollywood, fazer filmes... Enfim", opinou. "Aqui, o artista brasileiro precisa fazer de tudo pra se sustentar. Não é fácil ganhar a vida só da sua arte. Queria eu só trabalhar com arte, que é uma coisa deliciosa de fazer, amo fazer o que faço."

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Por fim, Alexandre fez questão de agradecer ao apoio que vem recebendo em suas redes sociais. "Quero agradecer a todo mundo que tá apoiando, [que] apoia a pessoa, e não o ator que fez o filme, que sabe que é um ser humano que tá aqui, tem necessidade e precisa se sustentar como todos os outros."

Entrevista com Alexandre Rodrigues

Em março de 2017, o ator deu uma entrevista ao Estado em que contou que sua namorada lhe havia impedido de entregar um currículo para uma vaga de motoboy.  "Todo trabalho é digno, mas achei injusto que alguém com o talento dele não conseguisse espaço para viver daquilo que ama fazer", disse ela à época.

Alexandre Rodrigues e sua mulher, Caroline Santine Herreira. Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Na ocasião, Alexandre revelou acreditar que "se fosse loiro e de olhos azuis", estaria em outro estágio em sua carreira.  "As coisas melhoraram, mas ainda existe uma dificuldade a mais para o ator e a atriz negra. Quando um personagem chega para um ator negro, a questão da raça vem sempre na frente. Os roteiros e sinopses que leio não são para personagens médicos ou advogados; são para médicos negros ou advogados negros", afirmou.Clique aqui para conferir a entrevista completa.

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