Nicette Bruno e Beth Goulart relatam casos de Alzheimer na família
Ludimila Honorato - O Estado de S.Paulo
21/09/2019, 07:03
Mãe e filha destacam que afeto e inclusão da pessoa no dia a dia são essenciais para melhorar a qualidade de vida
Mãe e filha, as atrizes Nicette Bruno e Beth Goulart conviveram com três pessoas na família que tiveram Alzheimer ou sintomas da doença. Foto: Supera/Divulgação
Conviver com uma pessoa que tem Alzheimernão é fácil. Vê-la se esquecendo dos parentes e de momentos, ficando triste ou agressiva e tendo de reaprender alguns hábitos é um processo árduo. Nessas ocasiões, além do tratamento e acompanhamento médico, afeto e amor são essenciais. Quem diz isso, e recebe respaldo de especialistas, são as atrizes Beth Goulart e Nicette Bruno, que conviveram com três pessoas na família que tiveram a doença.
Neste 21 de setembro, em que é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, mãe e filha estão em São Paulo para participar do evento Despertando o Cérebro, no Teatro Gazeta. No último dia 13, as atrizes conversaram com o E+ sobre suas experiências de lidar com familiares com Alzheimer: a mãe, o sogro e o cunhado de Nicette foram acometidos pela enfermidade ou ao menos por sintomas.
"Ela foi ficando apática, era ativa e foi ficando mais tranquila", relata Nicette sobre a mãe Eleonor Bruno, atriz e cantora que morreu aos 91 anos em 2004. "Nós íamos observando e trabalhando no sentido de não ter nenhuma atitude além de carinho, entendimento e amor." Eleonor não chegou a ser diagnosticada com mal de Alzheimer, mas o médico percebeu que ela estava entrando em uma fase senil. Os sintomas foram perda de agilidade mental, esquecimento e confusão.
Beth lembra que o convívio com a avó era intenso, pois a mulher morava com ela na casa de Nicette e Paulo Goulart. "[A doença] vai afastando a pessoa que você tanto ama. É muito triste e doloroso passar por isso, mas o afeto e o amor são ingredientes fundamentais. Parece que a pessoa não percebe, mas ela sente o carinho que está recebendo", afirma.
VEJA TAMBÉM: Neurologista explica algumas questões sobre a doença de Alzheimer
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Nicette Bruno e Beth Goulart relatam casos de Alzheimer na família X
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Alzheimer não é hereditário
Embora exista um componente genético para a doença e ela apareça ao longo de gerações seguidas, a maioria dos casos é esporádico e multifatorial. “Não se sabe, até hoje, o fator que apertaria o gatilho. Pode ser desde alimentação até atividade física, estilo de vida, bebida, tabagismo, diabetes, hipertensão”, diz Ana Luisa Rosas, neurologista e diretora científica da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) em São Paulo.
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Todo problema de memória é indicação de Alzheimer?
Não. O esquecimento, segundo a neurologista, pode estar associado a outros quadros, como estresse, excesso de trabalho, depressão ou problemas na tireoide. No Alzheimer, antes do esquecimento, podem aparecer alterações comportamentais, impacto significativo das funções diárias e distúrbios do sono.
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Alzheimer não tem cura nem prevenção
Infelizmente, a cura para essa doença ainda não existe justamente pelo fato de não se saber qual a causa exata dela. Pelo mesmo motivo, não é possível falar em prevenção. Como a doença tem vários fatores, a neurologista indica que as pessoas cuidem da saúde como um todo e se previnam de outras doenças, como hipertensão e diabetes.
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É possível diagnosticar Alzheimer precocemente
O exame genético para detecção do gene da doença só é útil quando a pessoa sente que há algo errado ou tem casos na família. Porém, mesmo que o resultado dê positivo, não precisa se desesperar. “O exame genético não diz se a pessoa vai desenvolver ou não a doença. Ele só vai dizer se tem o gene”, explica Ana Luisa.
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A doença pode ocorrer em pessoas mais novas
Embora comum na velhice, esse tipo de demência, assim como outras, não faz parte do envelhecimento natural. Quando ocorre em idade mais avançada, o Alzheimer afeta pessoas a partir dos 70 anos de idade. Nos casos familiares, considera-se que a doença acomete pessoas entre 45 e 55 anos.
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Alzheimer tem tratamento
Ainda que não exista cura nem se possa falar de prevenção, é possível amenizar os impactos da doença, principalmente no quesito memória. Segundo a neurologista da ABRAz, o tratamento é feito à base de um medicamento que impede a degradação do neurotransmissor responsável pela memória. Assim, a pessoa mantém a memória ativa, mesmo que seja de forma lenta.
Foto: StockSnap/Pixabay
Affonso Miessa, pai do ator já falecido Paulo Goulart, foi diagnosticado com Alzheimer, mas o contato das atrizes com ele não era diário. Nicette recorda que a manifestação da doença, embora com aspectos semelhantes, era diferente da mãe dela. "Ele teve não só esquecimento, que foi grande, mas de não reconhecer as pessoas. Às vezes, ficava agressivo, que não era o estado normal dele. Nós não tínhamos com ele a mesma participação que tivemos com mamãe, mas estávamos sempre com ele transmitindo atenção para ele não se irritar", relata.
Outro caso vivido pela família foi com Milton Carlos Miessa, irmão de Paulo Goulart. O homem também foi morar com Nicette e o marido quando a mulher dele faleceu. "Meu cunhado foi mais grave, porque [a doença] afetou muito a compreensão dele no cotidiano. Depois que Paulo faleceu, ele [Milton] continuou morando com a gente", conta Nicette.
Afeto para quem tem Alzheimer
A neurologista Sônia Brucki, da Universidade de São Paulo, confirma que o afeto e o envolvimento da pessoa com Alzheimer pela família ou cuidadores são importantes. "Você percebe na prática clínica que idosos com Alzheimer que não são estimulados evoluem de forma diferente daqueles que tiveram muito estímulo familiar. Atualmente, além do carinho, as famílias têm à disposição na internet vários tipos de exercícios que dá para fazer com o idoso", diz.
VEJA TAMBÉM: Médica dá dicas para manter a saúde da mente em dia
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Saúde da mente
Recentemente, uma pesquisa feita com cerca de 2 mil pessoas com mais de 55 anos de idade indicou que apenas 18% dos brasileiros costumam exercitar a mente todos os dias, enquanto quase 23% afirmam não exercitar a mente nunca (Leia mais aqui). Confira a seguir algumas dicas separadas pela presidente da seção São Paulo da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-SP), a geriatra Maisa Kairalla, que atua nos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein.
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Mantenha a saúde em dia
Caso tenha alguma doença crônica, como depressão, pressão arterial e colesterol altos, diabetes ou alteração na função tireoideana - é essencial que haja um controle e acompanhamento frequente para evitar danos cerebrais.
Foto: Pixabay / @rawpixel
Para manter a qualidade de vida dessa pessoa, a especialista orienta, primeiro, a ter compreensão. Com isso, sabendo das consequências da doença, a família permite que o indivíduo faça o máximo de tarefas possível. "Quanto mais estímulo, melhor para o paciente se manter mais ativo, comunicativo e diminuir sintomas de depressão. Ele tem um melhor bem-estar como um todo." Não isolar a pessoa e incentivá-la a acompanhar nas atividades do dia a dia também surtem efeitos positivos.
Exercício para o cérebro e Alzheimer
Embora a doença de Alzheimer tenha causas multifatoriais, sem um gatilho definido, é importante manter-se saudável e com o cérebro ativo para evitar ou retardar o aparecimento da enfermidade. Sônia afirma que jogos de lógica, tabuleiro e exercitar a criatividade de diferentes formas são favoráveis nesse sentido. "Qualquer coisa que a pessoa faça para manter o cérebro ativo mais tempo possível. Assim como exercício físico, manter boa dieta, bom humor, círculo de amizades e família. Tudo isso ajuda na manutenção do bem-estar", diz.
A profissão de atriz permitem a Nicette Bruno e Beth Goulart manterem o cérebro sempre ativo, o que é benéfico para a prevenção de doenças. Foto: Supera/Divulgação
Beth Goulart e Nicette Bruno têm a vantagem da profissão. Decorar textos e mergulhar na vida de outra pessoas ao interpretar um personagem faz com que seus cérebros estejam sempre ativos. Para complementar a vantagem, elas são adeptas do método Supera, curso que se propõe a desenvolver as capacidades cognitivas, em qualquer idade, por meio de atividades com ábaco — instrumento milenar para cálculos —, desafios de lógica, jogos de tabuleiros, jogos online e dinâmicas em grupo.
Entre os benefícios do método, as atrizes destacam a amplitude de comunicação (como se expressar por meio de formas geométricas), exercício da socialização e maior potencial da capacidade criativa. A cientista social Solange Jacob, diretora acadêmica do Supera, fala da importância de exercitar o cérebro em qualquer idade.
"Tudo o que nós fazemos, tudo o que nós aprendemos modifica o cérebro e nos faz ser quem nós somos. Portanto, a melhor maneira de nós cuidarmos do nosso cérebro, além de investir na saúde dele com exercícios físicos e mentais, na alimentação correta e quantidade de sono adequada, é usá-lo muito bem. Quanto mais usarmos o cérebro, melhor ele fica e com mais capacidade para continuar aprendendo e fazendo coisas novas", afirma Solange.
VEJA TAMBÉM: Cinco dicas para proteger a saúde mental
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Mente saudável
A saúde mental é tão importante quanto a saúde física e o bom funcionamento dos nossos órgãos. Quando sentimos uma dor no coração, não esperamos ter um infarto para ir ao cardiologista. O mesmo vale para transtornos mentais. Conversamos com o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, coordenador do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e com Antônio Geraldo da Silva, diretor tesoureiro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina, para dar dicas de como promover uma qualidade de vida melhor e proteger a saúde mental.
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Atividades físicas
Exercitar o corpo é indicado para ter uma vida saudável de modo geral. Especialistas recomendam atividades que elevem o batimento cardíaco a 120 por minuto por, pelo menos, 20 minutos diários.
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Envolvimento social
Os especialistas afirmam que os relacionamentos sociais sempre são um fator preventivo para a saúde mental. Ter tempo para lazer e divertimento também contribuem para uma vida mais saudável.
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Boa alimentação
Além de contribuir para a saúde física, uma alimentação saudável é importante para a mente também. Quem ingere alimentos adequados possui mais disposição para realizar as atividades do dia e tem uma autoestima melhor. Do contrário, comer de forma inadequada pode desencadear doenças, causar cansaço e distúrbios do sono, por exemplo.
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Preservar o sono
Dormir mal pode nos deixar irritados e de mau humor. Ter um sono em quantidade e qualidade adequadas faz com que o dia seja mais produtivo e prazeroso.
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Dividir bem o dia
Definir o tempo para trabalhar, estar com a família e cuidar de si é essencial para manter uma mente tranquila e saudável. O acúmulo de atividades pode prejudicar a atenção e cansar a mente.
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Lady Gaga
Veja 10 artistas que já falaram abertamente sobre saúde mental nesta galeria. Uma dessas personalidades é Lady Gaga, que revelou que sofre de estresse pós-traumático causado pelo estupro que sofreu aos 19 anos.