PUBLICIDADE

Mano Brown fala sobre novo podcast: 'Todo rapper é um contador de histórias nato'

Artista deu detalhes das entrevistas do 'Mano a Mano' e falou sobre a evolução do hip-hop no Brasil: 'O rap não espera'

Por Bárbara Correa
Atualização:
Podcast 'Mano a Mano' estreia nesta quinta-feira, 26 Foto: Pedro Dimitrow/ Spotify

Considerado um dos maiores nomes do rap nacional, responsável por traduzir o cotidiano da quebrada há mais de 30 anos, Mano Brown experimenta novos meios de expandir sua mensagem. Para além das rimas dos Racionais MC's, o artista propõe diálogo.

PUBLICIDADE

Desta vez, essa troca será em um novo formato: podcast. O cantor será o anfitrião do Mano a Mano, uma produção original Spotifyque estreia nesta quinta, 26 de agosto.

Os 16 episódios que estarão disponíveis toda quinta-feira vão trazer Brown em um encontro com personalidades de diversos cenários: do esporte à política, da música à religião. Karol Conká, Drauzio Varella, pastor Henrique Vieira, Vanderlei Luxemburgo e Fernando Holiday são alguns dos nomes confirmados.

"Sou um contador de histórias nato, todo rapper é! Isso vem do compositor, de estar ali contando sua história e visão sobre o mundo. Sempre investi nesse lado meu, colocava no papel, em forma de batida e as pessoas falavam: 'Você está cheio de coisas pra falar, porque não potencializa isso? Então decidi falar", explica o cantor, em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 24. 

Depois de um tempo distante da mídia, Mano Brown compartilha que, nesta nova etapa da carreira, os fãs poderão conhecer um novo lado dele e descobrir que ele é "o cara mais comum do mundo". "Sou um brasileiro médio, de mentalidade mediana, mas aprendendo. Sou filho de uma mulher negra com um cara branco desconhecido, sou a cara da maioria, um produto tipicamente brasileiro, filho da escravidão", explica.

O artista ainda afirma que para este desafio foi preciso "sair da zona de conforto". Conhecido pelos seus posicionamentos firmes, ele compartilha que está aberto a novas conversas no Mano a Mano. "Há momentos que é preciso se posicionar, mas não preciso reafirmar o que for óbvio. É um diálogo, não vou ser neutro porque tem alguém com uma visão contrária à minha, mas não estou fechado para novas ideias e debates". 

Convidados 

Publicidade

"Por mais que sejam diferentes, todos esses convidados estão dentro do meu universo", explica o rapper. Ainda sobre posicionamentos, ele menciona o entrevistado Fernando Holiday que, apesar de discordar do político, foi possível debater.

"Ele é um cara polêmico, porém na entrevista vocês vão ver que ele também mudou a forma de pensar conversando com a gente. Fernando é uma inteligência negra emergente, embora esteja errado o lado político dele, vou tomar o direito de falar isso, porque não concordo com o que ele pensa", explicou.

Já a experiência com Karol Conká, para ele foi um momento delicado. "As pessoas não queriam ouvi-la. Uma rejeição de 99% [no BBB 21] me interessa, talvez eu teria uma rejeição maior que a dela", disse.

Karol Conká será a primeira entrevistada do 'Mano a Mano' Foto: Jef Delgado/ Spotify

"Ter uma mulher negra de frente pra mim, num momento de fragilidade, foi marcante (...) Uma mulher como minha mãe, de opinião forte. Em alguns momentos, eu comparava ela com a minha mae, esse olhar fez o diálogo fluir melhor", explicou. 

PUBLICIDADE

Outro entrevistado que ocupou um lugar paternal para o anfitrião do podcast foi Dráuzio Varella. "A importância dele é ter um pai que nunca tive. Ele tem muito o que ensinar, não só na saúde. Eu ficaria horas falando com ele, coisas que eu perguntaria para um pai que nunca tive, porque hoje em dia eu sou sempre o mais velho onde estou. Não tive essas pessoas para desabafar e pegar a visão", afirmou.

Cultura hip-hop e juventude

O compositor também analisa a evolução do hip-hop no Brasil. Segundo ele, a possibilidade de músicos e produtores poderem sobreviver da própria arte é um movimento recente. Além disso, as reivindicações de artistas atuais do rap nacional não são as mesmas que antes.

Publicidade

"Imagina que você está no país do samba e também do agronegócio, que investe na música sertaneja e chega com uma cultura afroamericana. O negro sempre teve sua perspectiva abafada, como se fosse sem importância, dizem: 'não, negão, sua hora não é agora. Depois você fala'. O rap nao espera. Essa mulecada não espera nada, eles invadiram com talento, luta, música e views", disse.

"O que era relevante na minha época, nos anos 90, não é da mesma forma hoje. Aonde a juventude quer chegar hoje? Com certeza muito mais longe do que a minha geração queria. Porque a minha lutava por direitos básicos ainda, aprender ler e escrever, poder comer, ter uma roupa e pegar um ônibus. Isso não cabe para galera de hoje", completa. 

Por fim, Brown reitera que o intuito do podcast é também falar sobre essa juventude. "Pretendo apresentar pessoas pra esse público que ouve o rap e, no futuro, vão falar por mim, essa é a ideia". Ouça o trailer de Mano a Mano:

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.