Gigi Gorgeous conquista os Estados Unidos

Ela começou seu canal no YouTube, em 2008, de sua casa em Mississauga, subúrbio de Toronto, quando era conhecida como Gregory Gorgeous; hoje tem mais de 2 milhões de fãs

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Por Sheila Marikar
Atualização:
Gigi Lazzarato, 23 anos, é uma celebridade transgênero da internet conhecida como Gigi Gorgeous e uma porta-voz para as marcas tradicionais, como Too Faced Cosmetics, Pantene e Crest Foto: Emily Berl/ The New York Times

Em uma noite de terça-feira, não muito tempo atrás, a estrela do YouTube conhecida como Gigi Gorgeous entrou no Nice Guy, o tipo de restaurante que se orgulha de ser frequentado por Justin Bieber e pela família Kardashian.

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Após uma breve conversa no bar com seu assessor e um amigo - um sujeito chamado Nick que usava um boné branco da Chanel - ela foi para a cozinha onde, em meio a latas de tomate e o barulho das panelas, havia uma mesa à luz de velas para seis.

"Tenho que ter minha mesa de mafiosos", afirmou ela, jogando seus longos cabelos loiros para trás.

O nome Gigi Lazzarato pode não ser muito familiar, mas ela recebe o tratamento "It Girl" no Nice Guy e em muitos outros lugares nesta cidade. No ano passado, chamou a atenção de James Goldstein, um colecionador de arte e fã de basquete, em uma festa que ele ofereceu para o estilista Jeremy Scott e a Longchamp, a marca francesa de bolsas.

"Ele gosta das loiras. Foi o que me disse", disse Gigi, de 23 anos, sobre Goldstein.

Algumas semanas depois, ela chamou a atenção quando surgiu de braços dados com August Getty, outro estilista, em um desfile de sua última coleção nos estúdios da Universal.

Destacando-se da multidão em um vestido branco justíssimo com recortes estratégicos - ela tem mais de 1,70 m de altura e prefere saltos de, no mínimo, 10 centímetros - Gigi parecia uma Bond Girl.

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"Você nem imagina quantas pessoas eu vi naquele dia. Foi um turbilhão. Centenas de rostos", disse ela.

O rosto de Gigi, ainda não tão conhecido, lhe garante uma vida bem tranquila graças a parcerias com empresas, incluindo Too Faced Cosmetics, Pantene e Crest, para avaliar seus produtos de beleza online. Isso não seria nada de mais, exceto pelo fato de que Gigi é transgênero.

Ela começou seu canal no YouTube, em 2008, de sua casa em Mississauga, subúrbio de Toronto, quando era conhecida como Gregory Gorgeous. Hoje tem mais de 2 milhões de fãs.

Gigi fala não só sobre maquiagem, mas também sobre sua transição de homem para mulher e as consequentes alegrias e desafios.

"Trabalhei duro para chegar onde estou para não me divertir com minha vida. Então, se alguma coisa não está dando certo, mude, garota!"

Aplicando maquiagem em seu apartamento em West Hollywood Foto: Emily Berl/ The New York Times

Gigi teve uma educação católica e tem um irmão mais velho e um mais novo. Ela se recorda de que, na infância, sempre se sentiu mais como menina que como o garoto chamado Gregory. Contou que usava a maquiagem da mãe desde bem pequena e prendia um pano de prato na cabeça com uma faixa para simular o cabelo longo.

Inspirada por uma amiga que lhe mostrou a novidade de vídeos ensinando maquiagem no YouTube, começou a criar alguns sozinha. Também disse aos pais que era gay. Seu pai, David Lazzarato, executivo de uma empresa de mídia que está agora aposentado, foi solidário, disse ela, e sua mãe, Judy, dona de casa, foi ainda mais.

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"Minha mãe, quando comecei a usar maquiagem, se mostrou muito protetora. Eu postava um vídeo, obviamente não anunciava o que estava postando e, quando a encontrava, meia hora depois, ela dizia: 'Adorei o vídeo que acabou de fazer'. Ela era sempre a primeira. Não se envergonhava."

Quando Gigi tinha 19 anos, a mãe morreu de leucemia. Ela havia se matriculado em um curso de moda, mas largou para continuar sua carreira no YouTube e já estava morando sozinha em Toronto, atuando, conhecendo gente e explorando sua sexualidade.

Segundo ela, um encontro em Nova York com a artista performática transexual Amanda Lepore ajudou a convencê-la a aceitar seu desejo de ser mulher, o que a fez começar uma terapia hormonal. Estava preocupada em perder seu batalhão de seguidores, que não parava de crescer e, na época, girava em torno de 500 mil.

"Minha audiência naquela época me dizia: 'Você é incrível. Você é meu ídolo'. Não queria decepcionar ninguém. Queria continuar a ser a pessoa que amavam", disse Gigi.

Crest Canadá uniu-se com Gigi Gorgeous como uma embaixadora social (foto esquerda). Na foto à direita,Gigi Gorgeous (meio)com Caitlyn Jenner (direita), no GLAAD em abril Foto: NYT

Ela se revelou transgênero na internet em 2013, em um vídeo que incluiu um pedido de desculpas por não postar nada muito pessoal online no ano anterior. Seguiu-se uma manifestação de apoio.

E então, surpreendentemente, vieram alguns patrocínios de produtos populares, incluindo a campanha publicitária da Crest do Canadá: "Por causa do sorriso lindo, branco, e porque ela atinge os consumidores que buscam novas soluções de beleza", escreveu por e-mail um porta-voz da empresa.

Em 2014, Gigi se mudou para Los Angeles, em parte tentando ser atriz, e fez amizade com Miley Cyrus, depois de uma noite louca no Bootsy Bellows, um clube noturno de West Hollywood. ("Não sabemos sobre o que falamos, mas temos uma vaga lembrança de termos nos conhecido", disse Gigi.)

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Gigi colabora com Getty por causa de sua coleção, servindo como musa, modelo e apoio moral.

"Era como um irmão e uma irmã; me lembrei de Gianni e Donatella na passarela", disse Getty, referindo-se aos Versace, sobre a companhia de Gigi no desfile no estúdio da Universal.

"Eu valorizo muito suas ideias quando se trata da altura das bainhas. Para mim, ela é a mulher ideal. Tem uma alma muito feminina", disse Getty.

Gigi permanece fiel à internet, postando novos vídeos quase toda semana. Ela edita tudo sozinha, no típico estilo Gigi Gorgeous: cortes e discurso rápidos, rosto impecável, bem maquiado, e sempre finaliza com o logotipo de uma impressão labial, que serve de selo de aprovação.

Em uma manhã de segunda em seu apartamento, em West Hollywood, usando um roupão de seda magenta e ignorando o telefone que não parava de tocar, ela se maquiou com a mesma facilidade com que Bob Ross pinta arvorezinhas felizes.

Gigi não esconde nada sobre sua aparência - em um vídeo de 2014, listou cinco procedimentos cirúrgicos que havia feito -, mas é mais cautelosa sobre tratamentos médicos. Quando perguntada se planeja fazer mais cirurgias plásticas, disse: "Acho que agora estou totalmente bem".

Para cada post com confissões sobre como se tornar uma mulher, há uma meia dúzia de vídeos sobre sua dieta, namorados recentes ou o conteúdo de sua bolsa. Ela está tendo aulas de atuação e disse que espera ansiosamente o dia em que um diretor escale um ator transgênero para um filme sem que o fato seja algo do outro mundo.

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Enquanto isso, a equipe de um documentário a segue, produzindo material para um filme sobre Gigi que talvez vá para o Festival de Cinema de Sundance de 2017.

Há alguma coisa que não se saiba sobre alguém que narrou seus últimos oito anos de vida online?

"Ainda não revelei um monte de coisas. Coisas pessoais. Todos vão ter que esperar para ver."

O canal do YouTube vai continuar, para felicidade dela e dos fãs.

"Sempre acontece alguma coisa diferente no dia e, se eu não filmar e não gravar, acabo esquecendo. Olho para trás e digo: 'Meu Deus, isso aconteceu'".

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