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'Existe um infinito entre ser racista e fazer uma piada de cunho racista', diz Cocielo

Youtuber relembrou tuíte sobre Mbappé que foi considerado ofensivo em 2018 e criticou valor de R$ 7 milhões pedido em processo: 'é um absurdo'

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Por Redação
Atualização:
O youtuber Júlio Cocielo Foto: YouTube / @Rafi Bastos

Júlio Cocielo, youtuber que foi processado e chegou a perder patrocínios de marcas após ter feito uma piada considerada racista em seu Twitter em 2018, falou sobre o episódio em entrevista ao podcast Mais que 8 Minutos, de Rafinha Bastos.

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Durante um jogo da seleção francesa contra a Argentina na Copa do Mundo na Rússia, Cocielo publicou um tuíte em relação ao jogador Kylian Mbappé, que é negro: "Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia, hein". Pouco depois, a publicação foi apagada e o youtuber fez um vídeo de desculpas.

"Quando deu a m***, até falei: 'Vou me pronunciar, porque quem está lá criticando são pessoas que nem acompanham meu trabalho. Divulgaram ali como uma 'pessoa X', pessoas que não sabem das piadas que eu faço vieram me criticar", relembrou.

"A piada em si que deu a m***, a piada do jogador, é a que menos deu a problema. São as antigas, de 2013 para trás, que geraram o processo. O processo está rolando até hoje."

Em seguida, Cocielo ressaltou: "Meu canal começou a crescer em 2015. Meio que atrás disso eu não tinha noção, não tinha 'responsa'. Era moleque. Fazia m*** ali, Veio da quebrada, não tem noção de nada. Pegaram essas piadas de trás e elas que estão me f***. A outra passou batido."

"Eu nunca bati de frente. Me pronunciei e falei 'não vamos bater de frente. Vou entender o que tá sendo dito. E também não vou me passar por coitado'. Mas, realmente, foi tipo injusto até com esse meu posicionamento. Até hoje surge um ou outro falando coisinha, saem notícias fakes sobre o caso. É bizarro." "Existe um infinito entre ser racista e fazer uma piadinha de cunho racista, principalmente quando ela foi feita em 2012", opinou.

Cocielo também conta como se sentiu após a repercussão do caso: "Eu cheguei a ficar para baixo, tentando entender... 'Que p*** que tá acontecendo?'"

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"[Me senti mal] porque, p***, eu tenho familiar negro, né? Minha mãe é negra. Minha avó é negra. Minha preocupação era essa. Chatear família e, principalmente, a quebrada onde eu cresci. Só que todo mundo ali apoiou muito."

"Falar que tem familiar negro não é um argumento para internet. Mas para a Justiça é um p*** argumento, sabe? Eu nunca me posicionei por conta disso. Eu tenho que ter cuidado para não falar uma coisa e ser linchado", prosseguiu.

O youtuber criticou o valor pedido no processo: "E tomar cuidado para não piorar o processo que, de fato, existe. Está desde 2018 rolando. Pelo Ministério Público.Eles pediram o valor de R$ 7 milhões, que é um absurdo."

"Você olha e fala: 'p***, tão falando coisa que eu nem sou. Sabe, distorceram a parada. E tá errado também o cara que foi lá pegar coisinha do passado. É f*** hoje a gente que é figura pública ter registro de tudo. A gente pode se f*** muito, a todo momento. E a gente muda", conclui.

Assista à íntegra da entrevista de Júlio Cocielo a Rafinha Bastos no Mais que 8 Minutos, publicada na quarta-feira, 20 de janeiro de 2021.

Entenda a acusação de racismo envolvendo Júlio Cocielo

A juíza Cecilia Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal de São Paulo, aceitou denúncia do Ministério Público de São Paulo e colocou no banco dos réus o youtuber Julio Cesar Pinto Cocielo por crime de racismo.

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A Promotoria aponta que Cocielo "praticou e incitou a discriminação e preconceito" em razão de publicações feitas entre 2 de novembro de 2011 e 30 de junho de 2018 em seu perfil no Twitter.

O crime de racismo é imprescritível e prevê pena de reclusão de dois a cinco anos, mais multa. A decisão que recebeu a denúncia contra Cocielo foi proferida no dia 8 de setembro de 2020.

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Para a Promotoria, Cocielo "reforça os estereótipos contra os negros numa mídia de largo alcance sua atividade profissional e sua fonte de renda, contribuindo de modo eficaz para a incitação e proliferação do racismo e de todas as suas consequências psíquicas, sociais, culturais, econômicas e políticas".

A denúncia assinada pela promotora de Justiça Cristiana Steiner registra diferentes publicações de cunho racista feitas por Cocielo. Na ocasião, em 30 de junho de 2018, ele escreveu em seu Twitter: “Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein”.

Em outro trecho da peça de acusação a Promotoria ressalta ainda que Cocielo "demonstra plena consciência do caráter racista das suas publicações, agindo com descaso para com as instituições repressivas e certo de sua impunidade".

Relembre o vídeo de desculpas de Cocielo após a piada considerada racista:

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