Britney Spears é uma pop star permanentemente presa em outra era

A apresentação da cantora no Madison Square Garden na noite do último domingo foi uma espécie de redenção, uma aposta de alto risco que quase fracassou

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Por Allison Stewart
Atualização:
Britney Spears durante sua performance no Video Music Awards 2016 Foto: Reuters

O MTV Music Video Awards é o lugar onde artistas são condenados ou redimidos. Justin Bieber começou seu hoje abandonado Apology Tour com uma apresentação que provocou lágrimas durante a premiação, no ano passado. Em 2013 Miley Cyrus rebolou tanto que a deixou até com má reputação.

Foi na mesma premiação em 2001 que Britney Spears interpretou "I'm a Slave 4 U", enrolada numa serpente albina de Burma que instantaneamente ficou emblemática. (A cobra ainda está viva, segundo MTV.com. O nome dela é Banana). Durante esta apresentação Britney foi ela mesma, foi um momento de libertação e expressão pessoal numa carreira que desde então lhe ofereceu muito pouco de ambos.

Britney Spears durante sua performance no Video Music Awards 2001 Foto: Divulgação

No Music Video Awards de 2007, em um ano de dificuldades, Britney cantou em playback uma versão de "Gimme More". Ela não se apresentou ao vivo nas premiações do Music Video Awards desde então, até esta noite de domingo. Passou todo esse intervalo de tempo sob regime tutelar contínuo, por ordem de um tribunal e é o seu pai quem controla sua vida e sua carreira. Ela agora tem sua própria residência em Las Vegas.

Britney Spears durante sua performance noVideo Music Awards 2007 Foto: Reuters

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A apresentação de Britney Spears no Madison Square Garden na noite do último domingo, 28, foi uma espécie de redenção, uma aposta de alto risco que quase fracassou. Não foi horrível. Ela pareceu competente e consciente e foi correta. Só que estava...errado. Desajeitado. Certinho. Ultrapassado.  Como se o entendimento de Britney do que é um espetáculo pop acabou em algum momento em 2005, e talvez tenha sido e ninguém lhe disse. Britney apresentou seu novo single, "Make Me", com o correto rapper G-Eazy, que aparece na gravação. Ele pode ter sido escolhido porque provavelmente não a eclipsaria e nem a aterrorizaria, apesar de ter tocado seu rosto em um certo momento e ela se retraiu e sacudiu a cabeça.

Foi um exercício típico de Las Vegas. Britney fazia o papel de uma corista servindo como apoio de G-Eazy.

Sua performance no Music Video Awards seria o terceiro pilar de um retorno bem sucedido que incluiu seu show em Vegas que foi um sucesso e um novo álbum bastante sólido, "Glory", repleto de promessas, o que foi inusitado. Todos sabiam que o último álbum dela, "Britney Jean", de 2013, seria um fracasso bem antes de lançado. Havia sinais de alerta: o primeiro single não foi bem; prometia uma versão mais "pessoal" da cantora que ela não conseguiu oferecer. "Britney Jean" deu aos fãs um PG-13, um ideal genérico de Spears como alguém com quem é possível relacionar e ficar perdido de amor, mesmo que distante. "Glory", que crepita de energia em comparação, é a versão musical de um telefonema às três horas da madrugada. Uma coleção de batidas e estilos, muitos relacionados à música de dança eletrônica: um pop eletrônico (o excelente Man on the Moon), um pop club ambicioso (Better), um R&B vintage (What You Need). E homenagens como ao Weeknd ( Do you Wanna Come over?) e a Selena Gomez (Invitation).

Glory é um álbum efervescente e agradável, mas não precisava fazer demais, exceto atender aos níveis básicos de competência e não ser um Britney Jean. Britney precisava apenas parecer presente, o que realmente acontece - ela está vívida, alegre e sexy, como uma emissora de rádio que se ouvia muito mal e de repente chega até você claramente. Ela canta em francês. Não há muitos gêneros que Britney não consiga dominar e os titubeios ocasionais do álbum não são falha sua; se ela não consegue salvar o reggae sucedâneo de Love Me Down (e não consegue, é terrível), então é porque ele não tem salvação.

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Como a vida de Britney é um grande segredo, seus álbuns e raras aparições ao vivo na TV são as únicas oportunidades para os fãs lerem nas entrelinhas e determinar o quanto de Britney Spears restou. Foi um fim de semana de mensagens contraditórias: na premiação do Music Video Awards ela era uma figura assustadiça; em Glory é uma mulher voraz, alegre, no controle. Mas álbuns pop são o último lugar onde se deve buscar a verdade. Há momentos em Glory que são calculados para parecer mais sinceros do que outros, mas são muito impessoais. Britney Spears jamais vai fazer Lemonade. Nem mesmo algo confessional no estilo de Gwen Stefani de alguma versão de Blake Shelton (ou de G-Eazy, mais provável) que eventualmente aparecer. Tudo o que se ouvir e ver, pode ser só o que existe, tudo que ela é capaz de oferecer.

Quanto mais esperamos álbuns de divas pop para servir como veículos para atingirem seu pleno potencial, mais nos tocamos de que não sabemos o que fazer com Britney, a pop star menos empoderada que existe. Ao incentivarmos um retorno, que pode ou não ser seu desejo, de uma pessoa que nem mesmo está gerindo seu destino, não sabemos claramente se estamos prejudicando ou ajudando. Mesmo pelos padrões lenientes do estrelato pop, sempre é muito vago onde Britney está centrada, um conformismo alarmante. Um retorno parece impossível, quando ela parece realmente muito distante.

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