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Suicídio é frequentemente tratado como piada nas redes sociais, aponta estudo

Levantamento mostra que 34,2% das publicações analisadas não levaram o tema a sério

Por Luiza Pollo
Atualização:
O Twitter foi a rede social que mais concentrou menções à palavra suicídio Foto: Pixabay

Se você teve a impressão de que o suicídio foi um tema mais recorrente em 2017 do que em outros anos, está certo. Nos meses de abril e maio deste ano, a série 13 Reasons Why e as notícias sobre o ‘jogo’ Baleia Azul alavancaram o uso da palavra suicídio nas redes sociais. 

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Pelo menos é o que aponta um levantamento divulgado neste mês por conta do Setembro Amarelo que levou em conta mais de um milhão de posts publicados em abril e maio de 2017. A pesquisa foi realizada pela agência de comunicação Nova/sb a partir da iniciativa Comunica que Muda, com uso da plataforma de monitoramento digital Torabit. 

O Twitter foi a rede social que mais concentrou menções à palavra suicídio, com 94,2% do total. Facebook (5%), YouTube (0,5%) e Instagram (0,3%) vieram na sequência, com bem menos expressividade.

Os posts sobre Baleia Azul foram predominantes, porém, mais do que opiniões ou dicas de prevenção, o termo suicídio foi tratado principalmente como piada. O conteúdo com esse teor responde por 34,2% dos usos da palavra no período de dois meses. Quando analisado separadamente, maio teve um número maior do que abril de posts que não levam o tema a sério, coincidindo com a época em que o ‘jogo’ Baleia Azul foi assunto recorrente. Nesse mês, apenas 6,3% dos posts sobre suicídio foram classificados pela agência como positivos, ou seja, tinham viés conscientizador.

Em abril, por outro lado, a maioria (45,3%) dos posts foram analisados como positivos. Em seguida, 39,1% foram considerados neutros e apenas 15,6% tinham teor negativo - consideravam a depressão ‘bobeira’, por exemplo. O viés mais conscientizador sobre o tema coincide, em abril, com as menções à série 13 Reasons Why

Em entrevista ao E+ na época, Fernando Fernandes, psiquiatra do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, ponderou que houve, sim, efeito positivo. “A série conseguiu ter um êxito onde nós, profissionais que atuam na prevenção ao suicídio, falhamos”, disse. “Nós nunca conseguimos trazer o tema para a relevância que ele precisa ter. E com a série isso foi alcançado. Ela deu oportunidade para conversar seriamente sobre o assunto.” Mesmo assim, Fernandes pondera que a série também comete erros, como mostrar o suicídio como ‘opção’ e não ressaltar o quanto a ajuda pode ser eficaz.

Outros especialistas entrevistados pelo E+ também defendem que o fim do tabu sobre o tema é essencial para a prevenção. Em campanha do Setembro Amarelo, Robert Paris, presidente do Centro de Valorização da Vida (CVV), explicou que as pessoas precisam saber claramente que podem procurar ajuda. “O objetivo é falar abertamente sobre essa questão de saúde pública que é o suicídio. A principal barreira da prevenção é o tabu, o estigma contra o tema”, afirma.

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VEJA TAMBÉM: Entrevista completa com Fernando Fernandes, psiquiatra do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, sobre 13 Reasons Why (publicada em 25/04/2017):

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