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Saúde mental LGBT: Depressão, ansiedade e risco de suicídio são principais problemas

Ao mesmo tempo, o termo ‘cura gay’ ainda é discutido, apesar de a OMS deixar de classificar homossexualidade como patologia

Por Camila Tuchlinski
Atualização:
Orgulho LGBT: Depressão, ansiedade e risco de suicídio são principais problemas de saúde mental da população. Foto: Unsplash

Preconceito, falta de aceitação social e a não identidade de gênero provocam uma série de problemas de saúde mental na população LGBT+. Passar anos de uma vida tentando ser alguém que ‘não se é’ tem consequências emocionais sérias e que podem causar transtornos de ansiedade e depressão. Em casos mais graves, o risco de suicídio é alto, pois o indivíduo não consegue enxergar uma saída. "O preconceito internalizado no próprio indivíduo se traduz, muitas vezes, em adoecimento, e o que se faz é justamente desconstruir a ideia de normalidade e ajudar a lidar com todas as consequências trazidas pelo contato desse indivíduo com o mundo externo e com seus próprios modelos”, avalia a psicóloga Lara Cannone, integrante do Núcleo de Sexualidade da Holiste. A violência e os conflitos relacionados a aceitação familiar e social causam uma confusão emocional angustiante. “O sofrimento de uma pessoa por não se identificar com seu gênero de nascimento, incluindo aquele proveniente do preconceito e da falta de aceitação social, muitas vezes gera transtornos mentais que precisam ser tratados - a exemplo da depressão e da ansiedade. A transexualidade em si não é uma doença e a decisão de retirá-la da lista de patologias mentais confere dignidade e auxilia a reduzir o sofrimento dos pacientes”, destaca a psiquiatra da Holiste, Livia Castelo Branco.

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Disforia de gênero

É o sentimento de profundo desconforto com o gênero atribuído ao nascimento e suas características. “Apesar de nem todos os indivíduos terem o sofrimento como resultado desta incongruência, muitos sofrem quando não têm acesso a adequações físicas por meio de hormônios ou cirurgia”, enfatiza a psiquiatra Livia Castelo Branco. O tratamento para ajudar aqueles que têm disforia de gênero deve ser multidisciplinar. Livia recomenda que sejam realizadas intervenções precoces, com um acompanhamento psicológico e psiquiátrico. “O objetivo é ajustar o paciente o mais cedo possível a uma vida mais compatível e satisfatória, evitando dificuldades de adaptação física e psíquica e outras complicações na vida adulta. Os tratamentos biológicos (hormônios e cirurgia em alguns casos) visam a adequar o físico do indivíduo à identidade de gênero psíquica”, explica. No Brasil, pela portaria do Sistema Único de Saúde (SUS), a hormonioterapia pode ser feita a partir dos 18 anos. Já para a realização de cirurgia, a idade mínima é de 21, com dois anos de acompanhamento multiprofissional.

A polêmica sobre a ‘cura gay’

Recentemente, a polêmica envolvendo a chamada ‘cura gay’ voltou a ser discutida. Porém, desde 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de classificar a homossexualidade como patologia e a retirou da Classificação Internacional de Doenças (CID). O E+ ouviu a presidente do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo, Fernanda Lou Magano, sobre o tema. Confira: 

- Por que o termo 'cura gay' não é correto e existe algum manejo especial da Psicologia para a população LGBT? Porque onde não há doença, não há cura. Posto que desde 17 de maio de 1990, há 29 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de classificar a homossexualidade como patologia e a retirou da Classificação Internacional de Doenças (CID). Não é patologia. Não é doença. Não é desvio! O Conselho Federal de Psicologia tem duas resoluções válidas e ativas, apesar de ter enfrentado litígio judicial recente. A resolução CFP nº 1, de 22 de março de 1999, que "estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual".  A primeira faz uma leitura sócio-cultural, defende os princípios fundamentais do código de ética e aponta que o atendimento ao público LGBT para busca de conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas. E nunca a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotar ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. E a resolução nº 1, de 29 de janeiro de 2018, que “estabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às pessoas transexuais e travestis”. Esta considera que identidade de gênero refere-se à experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo e outras expressões de gênero e que as psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, não exercerão preconceito ou discriminação e atuarão segundo os princípios éticos da profissão, contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão voltada à eliminação da transfobia e do preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis.

- Existe algum movimento dentro da Psicologia para 'validar' a 'cura gay'? Sim, existem psicólogas e psicólogos que consideram fundamental a posição de tratarem gays e lésbicas como doentes, que eles nomeiam como terapias de reversão sexual. Inclusive o litígio judicial foi na possibilidade de atendimento com a finalidade de “(re)orientação sexual”, visando retirar a validade das duas resoluções do Conselho de Classe - CFP - Conselho Federal de Psicologia.  Felizmente, por hora, isso está superado. Então, ambas as resoluções que mencionei anteriormente têm validade no território nacional.

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