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'Samuel vive um grande conflito e está aprisionado pela mentira', diz Eriberto Leão sobre personagem

Aversão de gays à homossexualidade, afirmam especialistas, é causada por medo de sofrer rejeição da sociedade

Por Jéssica Díez Corrêa
Atualização:
O personagem Samuel, que vive um affair às escondidas com o motorista Cido (Rafael Zulu), deve ser desmascarado em breve Foto: Globo/Raquel Cunha/Divulgação

O psiquiatra Samuel (Eriberto Leão) deve passar por poucas e boas na nova fase da novela O Outro Lado do Paraíso (Globo). Casado há anos com a enfermeira Suzy (Ellen Roche), ele sofre a pressão para ter um filho. O desejo vem de Adnéia (Ana Lucia Torre), que sonha com um neto. Samuel, no entanto, não consegue evita as relações sexuais com sua mulher, pois é homossexual.

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O ator Eriberto Leão conta que o medo de decepcionar a mãe faz com que o personagem reprima sua sexualidade. “Samuel tem uma mãe opressora e machista que o domina completamente e, além disso, teme sofrer preconceito da sociedade de Palmas”.

A situação vivida pelo diretor do hospital é recorrente na sociedade. Eriberto conta que, desde que a novela começou, tem recebido diversas mensagens de pessoas que se identificam e já viveram histórias semelhantes à do personagem. O escritor Claudio Picazio, especialista em sexualidade humana, explica que a conotação negativa que a homosexualidade ainda carrega é o grande motivo pelos quais gays e lésbicas têm receio de se assumir. “Desde criança a gente aprende que (ser gay) é um xingamento. Então você se perceber sendo tudo aquilo que, de uma certa forma, a sociedade coloca em um grau menor, é sempre muito dolorido.”

Para a psicoterapeuta Vera Moris, o grande vilão para os homossexuais é a imposição da heteronormatividade. “É a ideologia que sustenta nossas leis, regras sociais e como somos educados na maioria das culturas. O momento em que alguém começa a se perceber diferente disso é devastador”.

No caso de Samuel, além do medo, existe ainda uma homofobia exteriorizada na tentativa de esconder sua orientação sexual. Vera explica que esse tipo de comportamento é comum em homossexuais não assumidos. “Eles desenvolvem um componente de aversão e de raiva contra a homossexualidade, que está internalizado, que é doentio e que os impedem de se aceitar”.

Picazio considera que a discriminação de gays é proveniente de um preconceito enraizado com a mulher. “Infelizmente a gente está em uma sociedade machista que ainda trata a mulher como algo menor. Então, um homem afeminado é como se estivesse traindo toda essa cultura do macho forte e agressivo”. 

Receita de bolo para acabar com a homofobia, diz Vera, não existe. Algumas atitudes, no entanto, podem ajudar a promover a pluralidade e aceitação das pessoas não heterossexuais. “A educação, tanto formal quanto informal, precisa contemplar a imensa gama existente de sexualidade, para que, assim, as pessoas se sintam confortáveis para ser, se sentir e viver como naturalmente são”, considera. 

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Picazio acredita que os homossexuais devem se fortalecer para conseguir lidar com a discriminação e, só assim, escolher o momento certo para se assumir. “O mais importante é a pessoa perceber que não está errada. Que a homossexualidade não é doença, não é perversão. É uma outra forma de se relacionar e o problema é o preconceito do outro”. 

Vera explica que, apesar de não existirem serviços suficientes voltados ao público gay no Brasil, muitos bons profissionais procuram se especializar no atendimento a essas pessoas que, segundo afirma, “são negligenciadas”. “O sofrimento psíquico do homossexual que não se aceita é devastador, e é desumano deixá-lo sozinho”.

Eriberto Leão concorda que o aconselhamento profissional é o mais adequado em casos como esse. “Penso que todos precisam se conhecer melhor. Eu, por exemplo, faço terapia há muitos anos e acho fantástico. Cito a frase da psicóloga Marilia Castello Branco: ‘À medida que o indivíduo leva seu conflito para a sessão, tudo se torna mais leve e diminui o sofrimento’.”

O personagem Samuel, que vive um affair às escondidas com o motorista Cido (Rafael Zulu), deve ser desmascarado em breve, já que seu nome faz parte da extensa lista de vinganças planejadas pela mocinha Clara (Bianca Bin). Caso o pior aconteça, o ator que lhe dá vida considera: “Eu acredito que a verdade liberta. A mentira aprisiona e o Samuel vive uma mentira. É uma escolha. Cada um deve ser senhor da sua própria consciência”. 

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