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Saiba que fantasias não usar

Vestir-se com trajes religiosos ou que representem uma minoria pode ser ofensivo

Por Anita Efraim
Atualização:
 Foto: EFE

Em épocas como carnaval e Halloween quem não adora se fantasiar? Apesar de ser algo divertido, é importante pensar se a sua fantasia vai ofender alguém. Em tempos de problematização e de minorias ganhando espaço, nem tudo que antes era aceito continua sendo.

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A pesquisadora da Unicamp Raissa Santos, 28 anos, é negra e já se viu em situações muito desconfortáveis por causa da escolha de 'fantasia' de outra pessoa. "Uma vez presenciei a cena: uma colega de blackface (fantasia 'nega maluca') em uma festa na qual eu era a única negra. Me senti extremamente ofendida, eu estava sozinha. Ela estava de peruca black power e tudo. Pensei: ela se fantasiou de 'mim'?" De tão incomodada, Raissa, que é ativista do Movimento Negro, decidiu ir embora. 

Raissa ainda aponta que personagens negros como Saci, Tia Nastácia e Nega Maluca são escolhas ofensivas. "Ninguém põe um pijama listrado e vai pular carnaval, põe?",questiona. 

Além dos casos mais conhecidos (e problemáticos) como 'blackface', em que se pinta a cara de preto para representar uma pessoa negra, há outros exemplos de fantasias que podem ser ofensivas. Usar uma roupa que represente uma religião, sem fazer parte dela, não é algo legal, por exemplo. A publicitária Louise Stahl, 23 anos, é judia e se sentiu muito ofendida quando sua amiga usou um traje de judeus religiosos para ir a uma festa à fantasia.

"Acho que todas as fantasias que representam algum grupo de uma forma estereotipada me incomodam, judeus, índios, japoneses, além das coisas óbvias como 'blackface' ou apropriação cultural. Não é uma imagem correta, nem todo índio pinta a cara, nem todo japonês é gueixa", opina.

"E aí quando me deparei com uma amiga mostrando como ela foi de judeu, chapéu com peiot, roupa preta, tsit tsit eu me senti bastante incomodada. Primeiro, porque aquilo não representa judeus. Eu sou judia e não me visto assim. Depois, existem pessoas que se vestem assim todos os dias e não é uma fantasia", diz Louise. A situação ficou ainda pior quando ela decidiu revelar seu incomoda à amiga e ela respondeu que era "apenas uma brincadeira".

"No momento que eu me declarei incomodada e apontei os problemas, esperava que ela compreendesse, reconhecesse o erro e não fizesse de novo. Esse 'É só uma brincadeira' não é apenas uma isenção do erro, como também a anulação do meu incômodo: eu que não sabia ser divertida e ver aquilo sem polemizar. Eu acho que o principal é: alguém se sentiu ofendido? Então é preciso repensar o comportamento", afirma a publicitária. É comum ver fantasias de árabes, orientais, índios, o que também pode ser muito ofensivo. Louise sugere que, na hora de se fantasiar, as pessoas optem por profissões ou personagens.

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Kiko Smitas, diretor da Sulamericana Fantasias, explica que a marca evita explorar qualquer roupa com apelo voltado à minorias ou que seja ofensiva de alguma forma. "É um trabalho mais focado no lúdico, em cima de um conceito de personagens", explica. 

Para os homens. Outra 'piada' comum em festa à caráter é homem vestido de mulher. Essa é uma fantasia que incomoda a estudante Beatriz Dimenstein, 19 anos. "Sempre que eu vi homens com essas fantasias foi uma coisa completamente pejorativa e usando um estereótipo que não me representa", diz, em referência às saias curtas e justas, sutiã aparecendo e trejeitos 'afetados'.

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