Resiliência deve levar em consideração o tipo de trauma sofrido

Saiba o que é ser resiliente e como aumentar essa capacidade na sua vida

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Por Ludimila Honorato
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Figurativamente, a resiliência seria como uma flor desabrochar em meio a um ambiente impróprio para seu crescimento. Foto: photochikottawa/Pixabay

Você sabe o que é resiliência? O significado é, basicamente, a capacidade que uma pessoa tem de lidar com seus problemas, com situações sob pressão e superar obstáculos. O termo foi apropriado da física, relacionado a materiais que acumulam energia e, submetidos à pressão, podem se romper ou não e depois voltar ao estado normal. Na prática, ser uma pessoa resiliente envolve diversos fatores e o principal deles é o tipo de trauma sofrido.

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Segundo uma pesquisresa americana, o tipo de trauma é fator central para a resiliência humana e o contexto social da pessoa deve ser considerado, que pode promover ou inibir processos resilientes. A conclusão foi de pesquisadores da Escola de Medicina de Yale e da VA Connecticut Healthcare System, organização que fornece serviços médicos a veteranos militares dos Estados Unidos.

A psicóloga Fernanda Mion, da Harmonie Instituto, afirma que, mesmo pessoas que se mostram sempre resilientes na vida podem não suportar determinado acontecimento. "A reação é imprevisível. Depende de como aquilo aconteceu, qual o pensamento da pessoa. Talvez superar a perda do emprego seja mais fácil, lógico, do que a perda de um filho", exemplifica.

Mas, para algumas pessoas, o contrário também pode ocorrer. "Depende do momento, de como a pessoa encara a questão. Pela experiência clínica, depende da situação", diz Fernanda. A especialista aponta também a carga emocional do momento como fator determinante para a resiliência.

"Muitas situações nos deixam inseguros, como a sensação de medo ao andar na cidade, mas quando acontece um assalto, isso muda a vida da pessoa. A situação pode vir em sonho, ela fica em estado de alerta maior", diz a psicóloga. "É preciso olhar para isso com um novo sentimento e a ajuda de um profissional é importante."

Quem é mais resiliente: homens ou mulheres?

Além do tipo de trauma, o estudo identificou que há uma diferença na capacidade de resiliência de acordo com o gênero. Quando os dados foram analisados sem levar em consideração o tipo do acontecimento, os homens pareceram ser mais resilientes. Porém, com a divisão entre eventos interpessoais e não interpessoais, as mulheres se mostraram mais resilientes. O primeiro grupo seriam acontecimentos envolvendo pessoas próximas ou situações pessoais; o segundo está relacionado a ocasiões vindas de desconhecidos ou externas ao nosso controle.

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"Isso mostra que traumas interpessoais têm consequências significativas para aqueles que os experienciam. Os que passam por traumas interpessoais são desproporcionalmente mulheres", disse Galina Portnoy, pesquisadora de Yale, psicóloga no VA Connecticut Healthcare System e coordenadora do estudo.

Os pesquisadores separaram eventos traumáticos interpessoais como violência sexual, estupro, violência intimidadora do parceiro(a), entre outros, e os não interpessoais como acidentes, violência de estranhos e trauma de combate. "O apoio social durante períodos estressantes da vida, como o deslocamento militar, faz uma enorme diferença na capacidade de lidar, sobreviver e prosperar", acrescentou Galina. Quanto a isso, a pesquisa descobriu que, comparadas com os homens, as mulheres relataram ter menos apoio social.

Na experiência da psicóloga Fernanda Mion, as mulheres são, de fato, mais resilientes. "Isso ocorre porque nós buscamos mais ajuda, não temos essa questão cultural de que somos autossuficientes, falamos dos nossos sentimentos. A cultura do machismo conta muito para os homens, porque eles, teoricamente, não podem demonstrar sentimentos", afirma.

Como ser mais resiliente?

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Em outro estudo, pesquisadores buscaram explicar a resiliência de forma neurológica. Os resultados mostraram que ela está associada a regiões envolvidas na flexibilidade emocional, capacidade de enfrentamento e controle inibitório. Porém, a pesquisa não é conclusiva e não se pode estabelecer uma relação de causa e consequência.

"A resiliência psicológica desempenha um papel importante em determinar se um indivíduo desenvolve ou não distúrbios pós-traumáticos depois de experimentar eventos graves. O uso flexível de recursos emocionais [como falar dos sentimentos] para inibir pensamentos negativos e ampliar a atenção pode ajudar as pessoas a se recuperarem de eventos aversivos", disse ao PsyPost o autor do estudo, Jiang Qiu, da Universidade de Southwest, na China.

Sabe-se que há uma resiliência inata, chamada de psicológica, e embora o estudo não prove uma correlação, pode ser possível aprender a ser mais resiliente. Desenvolver a aceitação dos fatos e ter atitudes altruístas são algumas das recomendações da psicóloga Fernanda.

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Estudos citados pelo psiquiatra Richard Friedman, no The New York Times, descobriram que podemos mudar a atividade na rede de autocontrole e aumentar comportamentos saudáveis no cérebro com intervenções comportamentais.

Exemplos disso são o treinamento da atenção plena, que envolve o controle da atenção, a regulação emocional e o aumento da autoconsciência para aumentar a conectividade dentro dessa rede e ajudar as pessoas a parar de fumar. Transferindo isso para a resiliência, "o autocontrole é um componente crítico que pode ser facilmente fomentado", afirma Friedman.

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