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Quer adestrar seu cachorro você mesmo?

Ensinar alguns truques para o seu cachorro pode ser mais fácil do que se imagina, mas há alguns desvios comportamentais que só um especialista pode resolver

Por Pedro Prata
Atualização:
Reforço positivo é o segredo para ensinar cães a aprenderem truques Foto: Clayton de Souza/ Estadão

Henry Gherson, publicitário de 25 anos, ganhou mais um amigo fiel no ano passado após adotar Jota, um cachorrinho vira-lata de dois anos. Inicialmente, o animal foi um hóspede de temperamento difícil: fazia xixi por toda parte, tinha medo das pessoas, às vezes tentava morder. Henry então começou a ler dicas e tutoriais sobre adestramento de cachorros na internet. “Aprendi que tem que recompensar tudo de certo que o animal faz. Agora ele nem precisa mais dos petiscos, já aprendeu”, contou ao E+. O cachorro só faz xixi durante suas caminhadas e o objetivo agora é que ele aprenda a passear sem usar coleira.

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Muitos donos de cachorros já tentaram ou cogitaram adestrar os seus amigos caninos por conta própria. Os métodos para adestramento de cães são muito conhecidos e populares. Oferecer o biscoito, por exemplo, é utilizado para ensinar truques como dar a pata ou sentar. Especialistas em comportamento animal afirmam que qualquer um pode adestrar seu animal de estimação, mas há comportamentos e práticas que devem ser evitadas. Além disso, há casos que pedem um profissional devido a suas características específicas.

O adestramento de cães é preferível nos primeiros meses, quando o animal ainda não adquiriu vícios comportamentais. Nesses casos, a adestradora comportamental Adriana Antoni conta que o ideal seria que as pessoas, ao adquirir um filhote, fizessem uma consultoria para adaptar o ambiente ao qual o cachorro será introduzido. “Quando a gente vai ter um filho, se preocupa em adaptar o ambiente em que ele ficará para que tenha as melhores condições de recepcioná-lo. Com os cachorros deveria ser a mesma coisa”, explica.

No entanto, como o caso de Jota mostra, qualquer cachorro de qualquer idade pode aprender coisas novas. Drª Livia Romeiro, especialista em comportamento canino, conta que os donos podem adestrar seu pet por conta própria, lembrando sempre que se deve dar um reforço positivo toda vez que o animal executar a ação desejada. “O reforço positivo pode ser de um biscoito a um carinho”, argumenta.

Contudo, ela ressalta que os adestradores estão aptos a captar detalhes do comportamento que uma pessoa sem a mesma instrução não consegue. Dessa forma, o treinamento feito por um profissional é mais firme e rápido. “O adestrador consegue pegar detalhes do comportamento. Se o profissional manda o cachorro sentar, por exemplo, lhe dá a recompensa assim que o cachorro encosta o bumbum no chão. Já a pessoa que não tem o treinamento do adestrador pode demorar um pouco mais para dar a recompensa. Nesse tempo, perdeu o timing do cachorro. Quando receber o reforço, ele não saberá se foi porque sentou ou se foi por outra coisa”, diz.

Alguns donos de cachorros podem ter a dúvida se, uma vez aprendido o truque, o animal não desaprende nunca mais. Na verdade o que ocorre é que sem estimular o cão a fazer o truque, ele deixa de receber o reforço positivo e, por isso, não o faz mais porque compreende que não é isso que seu dono deseja.

A estudante Giovanna Ponciano representa uma situação muito diferente de Henry. Ela tem o Café, um pequeno yorkshire, há seis anos. Ela perguntou a uma veterinária como ensiná-lo a urinar no local certo e, após ensiná-lo, ele aprendeu. Porém a família mudou de apartamento e agora Café, de vez em quando, faz xixi no sofá, na cama e até o videogame dela já foi vítima do cãozinho.

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As duas especialistas explicam que quando um animal passa a ter um comportamento social inadequado, pode haver uma diversidade de fatores como causa: demarcação de território, tédio, medo, para chamar a atenção, entre outros. Por isso, é necessário analisar caso a caso: “Nessa situação, é importante um profissional porque ele entenderá porque o cachorro está quebrando a regra e vai orientar o dono do animal a melhor forma de lidar com aquele cachorro”, fala Lívia.

Giovanna, a dona de Café, conta que o repreende em voz alta e o prende por dez minutos na área de serviço quando ele faz xixi fora do jornal. “Ele sabe que o certo é no jornal, tanto que quando faz fora ele foge da gente, fica com cara de sofrimento porque sabe que fez coisa errada”, falou ao E+.

Livia Romeiro ensina que o pior castigo para um cão é ser ignorado. Muitas pessoas acreditam que dar uma bronca no pet resolve, porém ela explica que a bronca pode ser entendida pelo cão como atenção, e às vezes é isso o que ele quer. Assim, o ideal é impedir o animal de continuar fazendo o que é errado e ignorá-lo por alguns minutos. Dessa forma, ele entenderá que fez algo errado. Mas é importantíssimo que a bronca só aconteça quando o animal for pego em flagrante. Do contrário, ele não entenderá o que pode ou não fazer.

A especialista em comportamento canino diz que “se der bronca depois, não faz sentido. O animal não entenderá porque levou a bronca, vai achar que é porque o dono chegou e aí vai passar a ter medo da pessoa, porque ele entende que toda vez que o dono chega, leva bronca. Aí ele começa a se esconder do dono mas não deixa de fazer a zona durante o dia”.

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Ela continua, dizendo que as pessoas confundem o medo do animal com um reconhecimento de que fez coisa errada: “É comum os donos dizerem ‘ta vendo, ele sabe que fez bagunça porque sai correndo de mim’. Na verdade o animal corre porque ele relaciona que toda vez que o dono chega ele leva bronca, não que algo que ele tenha feito horas antes é errado”.

Adriana Antoni afirma que, até certo tempo atrás, o adestramento era feito à base da punição com técnicas como, por exemplo, enforcamento ou pequenas agressões. Ela ressalta que esses são métodos ultrapassados e que os estudos já evoluíram para que “os erros sejam previstos e prevenidos e o comportamento seja redirecionado para o desejável, sem qualquer forma de agressão ao animal”. A adestradora ressalta que usar tais práticas pode ter reações comportamentais negativas no bicho, levando-o a ficar apático, assustado ou até agressivo.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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