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Projeto transforma cantores do rap nacional em personagens de HQ

Artistas como Karol Conka e Mano Brown foram homenageados em capas de histórias em quadrinhos: 'os super-heróis atuam à margem da sociedade brasileira aqui'

Por Caio Nascimento
Atualização:
Projeto de capas deHQscom rappers já homenageou, por enquanto, Mano Brown, Karol Conka, Criolo, Emicida, Negra Li, Sabotage, Black Alien, DJ Kl Jay, Drik Barbosa, Constantine e Kamau. A ideia dos autores é mostrar a relação entre o rap e a cultura pop. Foto: Instagram / @w.loud

"O hip-hop é uma cultura de nerd e é necessário estudar referências literárias e artísticas para compor as letras", disse Emicida durante uma conversa sobre heróis negros em fevereiro deste ano. No entanto, muitas pessoas ainda acreditam que o gênero só fala de pobreza, racismo ou violência policial.

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O youtuber Gil Santos - conhecido como Load - e o ilustrador Wagner Loud provaram o contrário ao anunciar capas de histórias em quadrinhos (HQ) que recriam obras da Marvel e da DC Comics com heróis interpretados por artistas do rap nacional.

"Pretendemos fazer os públicos desse gênero e dos gibis se misturarem. Sempre quis ver algo assim aqui no Brasil, pois no exterior já existe um mercado disso desde 2014 com os projetos da Marvel", afirma Gil. "Por que não criar um nicho disso aqui com nossos artistas? Quero ver a molecada consumindo tanto a música nacional quanto os quadrinhos", reflete.

Os dois lançaram 11 capas até agora e relacionam as qualidades dos rappers com as dos super-heróis. Mano Brown, por exemplo, se transforma num Pantera Negra, comparando a importância dele nas periferias de São Paulo com o protagonismo que o filme exerce na indústria de Hollywood.

Karol Conka é outra personalidade que exerce influência no projeto. Conhecida por letras sobre feminismo e ativismo negro, a cantora interpreta a Vixen, primeira super-heroína afro-americana da DC Comics.

"Neste trabalho, os personagens míticos, que usam superpoderes e querem dominar o mundo, lutam de uma forma diferente pela verdade e a justiça. Eles atuam à margem da sociedade [brasileira]", compara Gil.

Um dos mais recente lançamento da dupla mostra Criolo interpretando o Senhor Destino, um personagem da DC Comics.

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O músico foi homenageado com essa capa por fundar o projeto Rinha dos MCs, que percorre centros culturais de São Paulo com discotecagem, batalhas de freestyle, grafite e duelo de rimadores.

Rap próximo da cultura pop

De acordo com Gil, ainda existe a ideia de que o rapper é um ignorante limitado a falar do local de onde veio. Contudo, ele aponta que o hip-hop possui uma bagagem literária que demanda estudo e conhecimento. "O foco das letras é levar informação ao ouvinte e despertar a curiosidade. Para isso, os cantores utilizam artimanhas que absorvem da cultura pop", explica em um vídeo.

O youtuber recorda, por exemplo, da música O Rei da Montanha, do grupo Facção Central, no qual o vocalista cita a Marvel e o desenho Dragon Ball Z como metáforas para a popularidade conquistada por um bandido no alto escalão da sociedade.

Além disso, na canção Mandume, a cantora Drik Barbosa faz menção à Jean Grey - personagem de X-Men: Evolution - para expressar seu empoderamento enquanto mulher negra dentro de uma sociedade com discursos racistas e machistas.

Ela foi homenageada com uma capa em que é a super-heroína afrodescendente Riri Williams, uma menina gênio em ciências que construiu a armadura do Homem de Ferro. "Essa personagem revoluciona e marca a presença negra e feminina nas HQs, assim como Drik Barbosa no pap", explica Wagner Loud.

Diante desse discurso, Gil Santos acredita que ele e seu parceiro estão na contramão dos preconceitos ao fazerem esse trabalho. "Eu sinto que represento muito os moleques da minha quebrada e de outras favelas ao ganhar visibilidade com essas capas", afirma. "Aliás, periferia é periferia em qualquer lugar. Quero mostrar para a garotada e para os meus filhos [no futuro] que somos capazes de fazer algo legal com o que gostamos e consumimos", completa.

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Os autores pretendem dar continuidade ao projeto com um minidocumentário, exposições, apresentações curtas dos rappers e com a venda das capas durante eventos de HQ. Eles informaram ao E+ que vão divulgar novidades em breve.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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