Produtores de conteúdo falam sobre saúde mental no YouTube e ajudam no combate ao suicídio
Bárbara Pereira* - O Estado de S.Paulo
15/09/2018, 07:00
Plataforma vai além do entretenimento e entrega informações relevantes sobre o tema
Saúde mental é pauta em canais do Youtube. Foto: Unsplash / @maaikenienhuis
Engana-se quem pensa que, para fazer sucesso no Youtube, o produtor de conteúdo precisa necessariamente apostar no entretenimento. Uma onda contrária invadiu a plataforma e tem feito sucesso entre os telespectadores: são os vídeos sobre saúde mental. Se um dia o assunto já foi ignorado e considerado tabu, hoje ele se destaca na maior plataforma de vídeos do mundo e ajuda na conscientização de muitas doenças.
No início de 2014, o psicólogo André Rabelo criou o canal Minutos Psíquicos com o objetivo de divulgar ciência, conhecimento e pensamento científico. Os mais de 600 mil inscritos recebem conteúdo semanalmente e criam um ambiente de interação nos comentários dos vídeos. Um deles, em específico, reforçou o debate sobre o Setembro Amarelo, abordando o suicídio e trazendo dados alarmantes: "Mais de 90% das pessoas que cometem suicídio possuíam o diagnóstico de transtornos mentais", explica. Ao levantar esse tema, André motiva pessoas a refletirem sobre o próprio comportamento de maneira aprofundada e embasada na ciência: "Não sei dizer qual impacto temos, mas pelo feedback que recebemos, os vídeos estão ajudando em algum nível".
Foi após o próprio diagnóstico de depressão que Anderson Mendes decidiu agir. Tudo começou com a publicação de um livro, que se expandiu para palestras e hoje chegou ao digital. O canal Depressão não é Frescura traz vídeos sobre saúde mental, inteligência emocional, suicídio, entre outros assuntos, todos com o objetivo de promover uma reflexão na vida das pessoas. O foco principal são os adolescentes, já que, segundo ele, são "a corda mais fraca da sociedade atual".
No fim das palestras, aproveita para conversar com as pessoas. Nesse momento, surgem ideias de pauta para os vídeos: "Quando existe uma recorrência em determinado assunto, eu sinto como se fosse um sinal para que eu possa desenvolver um conteúdo", explica. No entanto, apesar do intenso trabalho presencial e na internet, Anderson alerta: "Não sou psiquiatra nem psicólogo, nada nem ninguém para dar um diagnóstico; meu trabalho é abrir a mente das pessoas, principalmente para quebrar o preconceito em torno da busca de ajuda especializada".
Há também os produtores de conteúdo que deslancharam na internet abordando outros temas, mas passaram a produzir vídeos sobre saúde mental. É o caso da Victoria Ferreira, youtuber que acumula quase 150 mil inscritos em seu canal. Inicialmente, assuntos como moda e beleza eram recorrentes mas, com o tempo, percebeu que empoderamento feminino, comportamento e saúde mental também mereciam destaque.
O drama de Victoria com a ansiedade começou cedo, desde criança, mas ela conta que só percebeu como era sério quando os ataques de pânico começaram a acontecer aos 16 anos. A procura por ajuda veio ainda mais tarde, quando já estava na faculdade e a situação tornou-se insuportável. "Levou mais tempo para eu tomar uma atitude a respeito do que propriamente perceber", explica.
Para trazer o assunto ao canal, foram anos de preparação: "O peso da responsabilidade me dizia que eu não podia falar sobre isso enquanto não tivesse parcialmente resolvido a minha situação". Justamente por isso, ela faz questão de ressaltar que seu trabalho está na zona de prevenção. "Eu não estou na internet para tratar pessoas, porque não é minha capacitação. Estou ali para abrir a conversa. Por muito tempo foi um tabu, o assunto foi ignorado. Ignorar algo não faz com que aquilo desapareça", reflete.
No Youtube, seus vídeos sobre saúde mental fazem sucesso: "Nunca tive tanto engajamento e comentário. O feedback foi uma das coisas mais impactantes que já tive no meu trabalho". Entretanto, ela revela ter sido incrível e assustador ao mesmo tempo: incrível porque contar sua história serviu como apoio para quem sofre com transtornos mentais, mas assustador porque a fez perceber que muitas pessoas se identificam com os sintomas. "Foi assim que decidi que eu deveria falar sobre saúde mental, depois desse feedback grandioso", completa.
A experiência de Ellora Haonne foi muito semelhante. A youtuber fala principalmente sobre empoderamento e autoestima no canal, mas após sentir as dificuldades da ansiedade na pele, decidiu incluir esse tema na pauta de vídeos. Ela conta que, ao se abrir sobre a ansiedade, a identificação do público foi imediata: "Eles acompanharam tudo, desde os primeiros dias de taquicardia até os dias em que eu fiquei mais reclusa. Levantar a pauta me ajuda e também ajuda muito o público, todo mundo se identifica".
O enfoque da saúde mental também mudou. Ellora já abordava o assunto no início, mas o conteúdo era voltado a transtornos alimentares. "Quando tive o diagnóstico de depressão e ansiedade, eu não expus a pedido da minha própria psicóloga. Hoje falo abertamente sobre isso, porque já avançamos muito com o tratamento e me sinto confortável", explica. Essa trajetória com a saúde mental inspirou o livro Por Todas Nós, no qual Ellora compartilha medos, experiências e conselhos para empoderar outras mulheres.
Para a psiquiatra Giuliana Cividanes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não é possível comprovar a eficácia de vídeos sobre saúde mental. "Tudo depende da qualidade da informação que é transmitida. Na internet não há um controle, um filtro para saber se as informações são verdadeiras ou falsas. A internet tanto pode contribuir quanto atrapalhar quem busca ajuda e tratamento. Canais responsáveis, que contam com a assessoria de profissionais da área de saúde mental podem contribuir muito para a busca de ajuda", esclarece.
Outras formas de ajuda:
Para quem precisa de ajuda, desabafar também pode ser uma boa opção. Para isso, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV). O centro oferece apoio online no site, pelo telefone 188, via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima, com sigilo completo sobre tudo que for dito.
Em apoio ao Setembro Amarelo, a plataforma de streaming Spotify criou a Playlist 188, com músicas selecionadas para ajudar na luta contra a depressão. Artistas como Queen, Katy Perry, The Beatles e Madonna estão na lista.
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Fábio de Melo
"Eu sou extremamente aberto a contar minhas fraquezas. Acabei de dizer que estou enfrentando uma síndrome do pânico. Não tenho medo da minha humanidade, sei que sou afetivamente exigido o tempo todo, faz parte do meu trabalho, as pessoas se aproximam de mim e chegam muito afetuosas, cheias de histórias. E é claro que há um desgaste emocional natural de tudo aquilo que eu faço. Estou vivendo um tempo muito difícil na minha vida, mas com muita disposição, também, não me sinto vítima. Não gosto desse 'ai, coitadinho, tá cansado'. Quero continuar minha vida e fazer o que eu faço", disse o padre em agosto de 2017; leia mais aqui
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Lady Gaga
No fim do ano, Lady Gaga revelou que sofre de de estresse pós-traumático causado pelo estupro que sofreu aos 19 anos. A revelação aconteceu quando a cantora visitou um abrigo em Nova York para jovens LGBT e trocou experiências com os residentes. Leia a história completa aqui. Em dezembro um jornalista britânico disse, no Twitter, que o estresse pós-traumático é uma doença 'militar' e que artistas usam isso para se promover. Eel também colocou em dúvida o estupro sofrido por Gaga. A cantora, no entanto, respondeu à altura. Leia aqui.
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Demi Lovato
Demi Lovato revelou sofrer com distúrbios alimentares e transtornos psicológicos. Em entrevista à revista People, ela afirmou que é possível viver bem e conviver com isso. "Os jovens de hoje são parte de uma geração que, eu espero, vai mudar o futuro para que, na próxima geração, falar sobre transtornos mentais não seja um tabu", disse. Leia mais aqui.
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Amanda Seyfried
A atriz Amanda Seyfried revelou que sofre com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e toma remédios para tratar a doença há onze anos. "Você não vê a doença mental: não é uma massa; não é um cisto. Mas está lá. Por que você precisa prová-la? Se você pode tratá-la, você a trata. Tinha muita ansiedade quando veio do TOC e pensei que tinha um tumor no meu cérebro", disse. Leia a matéria completa aqui.
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Zayn Malik
O cantor Zayn Malik cancelou alguns shows em 2016 por causa da ansiedade. O ex-membro do One Direction recebeu muito apoio da namorada, a modelo Gigi Hadid, nas redes sociais. Leia a história completa.
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Selena Gomez
A cantora Selena Gomez anunciou em agosto que faria uma pausa na carreira para cuidar da saúde. Ela tem lúpus e a doença desencadeou ansiedade, depressão e ataques de pânico. Durante a premiação American Music Awards 2016 ela aproveitou para trazer o assunto à tona novamente e dizer que não queria ver o corpo das pessoas no Instagram, mas sim quem elas realmente eram. Ela também desabafou: "Eu tive que parar. Eu tinha tudo, mas eu estava absolutamente acabada por dentro. E eu mantive as aparências o suficiente para não decepcionar vocês, mas eu acabei decepcionando a mim mesma". Leia mais aqui e também aqui.
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Rita Ora
A cantora Rita Ora revelou sofrer de ansiedade e disse não ter medo de falar sobre a terapia. "Às vezes, fico nervosa em gravar uma música no estúdio. Eu fico: 'Não estou pronta para gravar isso ainda', ou 'Eu não acho que posso fazer isso'. Fico tão aliviada que me encorajam a fazer bem." Leia mais sobre o assunto aqui.
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Kesha
A cantora Kesha teve um ano complicado, incluindo uma longa e cansativa batalha judicial contra o produtor Dr. Luke e a gravadora Sony. Ela revelou, em maio, que luta contra depressão e distúrbios alimentares. "Minha carreira está em um momento indefinido e sinto que estou lutando uma batalha difícil em alguns dias. Mas eu decidi pegar minha vida de volta. Minha liberdade. Minha felicidade. Minha voz. Meu valor", escreveu no Instagram. Leia a história completa.
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Lucas Lucco
O cantor desabafou no Snapchat sobre a depessão e a síndrome de pânico. Ele chegou a cancelar shows por causa dos transtornos e, no auge da doença, seu avô ficou doente. "Hoje eu posso ver de fora e falar sobre a depressão e a síndrome do pânico. É uma das piores doenças que existem, uma ferida que você não consegue ver, e nem as outras pessoas. Ela está dentro de você. Pode parecer frescura, mas é uma dor muito grande, além do medo de morrer", relatou. Leia mais aqui.
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Daiana Garbin
A jornalista, mulher de Tiago Leifert, saiu da Rede Globo e criou um canal no YouTube para discutir temas como anorexia, bulimia e vigorexia (a obsessão por um corpor 'perfeito'). Daiana relata que lida com isso desde a infância e batalha todos os dias. "Tenho 34 anos e desde os 5 eu odeio meu corpo. Eu me olho no espelho todos os dias, me sinto gorda, queria ser magra, já fiz as maiores loucuras que vocês podem imaginar para emagrecer, porque queria ser magra, seca, igual àquelas modelos, palitinhos", conta em um dos videos. Assista e saiba mais sobre o assunto aqui.
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Cara Delevingne
A modelo e atriz revelou ter sofrido um colapso mental. "Acho que me empurrei tão longe que cheguei ao ponto onde tive um colapso mental. Cheguei ao ponto onde fui um pouco louca. Estava completamente suicida, não queria viver mais. Pensei que estava completamente sozinha.Também percebi o quão sortuda eu era, e que família maravilhosa e amigos maravilhosos eu tinha, mas isso não importava. Queria que o mundo me engolisse." Cara decidiu expor sua história para que outras pessoas se sintam à vontade em falar sobre saúde mental. Leia mais aqui.