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Entenda por que ter filhos é ruim para o seu casamento

Comparando casais com e sem filhos, pesquisadores concluíram que a taxa de declínio da satisfação com a relação é quase duas vezes mais aguda em casais com filhos do que aqueles sem

Por Matthew D. Johnson
Atualização:
Quando as pessoas se casam elas estão apaixonadas e felizes com sua união. Mas depois as coisas tendem a mudar Foto: Pixabay

Muitas mulheres anseiam pela maternidade, a familiaridade com um bebezinho, criar um filho, desenvolver uma relação com os filhos já adultos. Em todo o mundo, as pessoas acreditam que um filho é o que há de mais recompensador na vida. E é tão bom que muitas mães guardam como tesouro esse vínculo com os filhos porque a transição para a paternidade causa profundas mudanças no casamento de uma mulher e em sua felicidade no geral. E não para melhor. 

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As famílias normalmente recebem um bebê com grandes expectativas. Mas à medida que a ligação da mãe com seu filho se intensifica, é possível que os outros relacionamentos se deteriorem. Pesquisei décadas de estudos sobre os efeitos psicológicos do nascimento de um filho para escrever meu livro Great Myths of Intimate Relationships: Dating, Sex and Marriage, e eis aqui os resultados da pesquisa.

Quando as pessoas se casam elas estão apaixonadas e felizes com sua união. Mas depois as coisas tendem a mudar. Em média, a satisfação do casal com sua relação declina nos primeiros anos de união, e se o declínio for particularmente agudo, vem o divórcio. O amor verdadeiro esmorece. E isso antes mesmo de você considerar o que ocorreria na hora de comprar fraldas e uma cadeirinha para o carro.

Por cerca de 30 anos, pesquisadores estudaram como a paternidade afeta um casamento e os resultados são conclusivos. A relação entre os cônjuges sofre quando surgem os filhos. Comparando casais com e sem filhos, os pesquisadores concluíram que a taxa de declínio da satisfação com a relação é quase duas vezes mais aguda em casais com filhos do que aqueles sem. No caso de uma gravidez não planejada, os pais sofrem impactos negativos ainda mais fortes na sua relação.

A ironia é que, mesmo com o declínio da satisfação do casal, a probabilidade de um divórcio também diminui. Portanto, ter filhos pode deixá-los deprimidos, mas ficarão deprimidos juntos.  Pior ainda, a diminuição da satisfação conjugal provavelmente leva a uma mudança no tocante à felicidade em geral, porque o maior indicador da satisfação com a vida em geral é a satisfação de uma pessoa com seu cônjuge.

Embora o impacto negativo sobre o casal quando da chegada dos filhos seja algo familiar, ele é especialmente insidioso porque muitos casais jovens acham que ter filhos irá deixá-los mais unidos, ou pelo menos não provocará uma situação angustiante entre os cônjuges.  Esta crença é um mito persistente e obstinado entre casais jovens e apaixonados.

É óbvio que um bebê, quando chega, vai alterar essa dinâmica. E realmente a chegada dele muda a maneira como os casais interagem. Os pais com frequência ficam mais distantes e mais formais um com o outro, ao mesmo tempo que passam a se preocupar com outros detalhes da nova vida. Questões mundanas básicas como alimentar, dar banho e trocar uma criança implicam um gasto de energia, tempo e determinação. Num esforço para a vida familiar continuar fluindo, os pais discutem questões como ir ao supermercado, como dividir o carro em vez de conversar sobre a última fofoca ou o que pensam sobre a eleição presidencial. Em vez de conversas sobre como foi o dia da pessoa, o que se discute agora é se a fralda do bebê está suja.

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Essas mudanças podem ser profundas. Identidades fundamentais mudam - de esposa para mãe e mesmo de amantes para esposo. Mesmo no caso de casais do mesmo sexo a chegada de filhos é prognóstico um relacionamento e sexo menos satisfatórios; Além da intimidade sexual, os novos pais tendem a parar de dizer e fazer aquelas pequenas coisas que agradam seu parceiros. 

Com quase metade de todos os nascimentos ocorrendo no caso de casais seu uma união formalizada, alguns pais acham que se beneficiam do sistema sem precisar se casar. Não é bem assim. A responsabilidade de um filho está presente independente de estado civil, gênero ou nível de renda. Além disto, o impacto adverso de se tornar pai é observado em outros países, mesmo aqueles com números maiores de pais não casados e políticas familiares mais generosas.

Não surpreende que são as mães, e não os pais, que arcam com o pesado custo de dar à luz um filho. Mesmo quando ambos trabalham fora ou em uniões em que ambos os cônjuges dividem o trabalho de casa, muitos genitores acabam assumindo o papel estereotipado do gênero. As mulheres estão mais propensas a ficar mais disponíveis; são elas que levantam à noite para cobrir o filho ou que são chamadas pela creche.

Assim, a nova mãe costuma reduzir suas horas de trabalho fora de casa, e isto com frequência leva o pai a sentir mais o peso da responsabilidade financeira. Hoje é comum os pais começarem a gastar mais tempo e energia trabalhando fora e as mães se encarregando cada vez mais do trabalho de casa e dos cuidados com os filhos. O que pode levar a sentimentos de frustração, culpa e angústia para ambos os pais. 

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As novas mães com frequência falam do seu isolamento social, acabam se afastando de amigos e colegas e têm a sensação de que seu mundo está cada vez menor. Tudo isto tem efeitos duradouros e fundamentais no novo círculo de apoio das mães, incluindo seu cônjuge.

As consequências podem ser sérias. A tensão conjugal está associada a muitos problemas de saúde física graves como também a sintomas de depressão e problemas mentais. O elo entre problemas conjugais e psicológicos é muito forte e os pesquisadores chegaram à conclusão de que a terapia de casais é um dos meios mais eficazes para tratar a depressão e outras doenças.

Se a chegada de um filho é penosa para um casamento, a saída do filho é boa? Algumas uniões melhoram quando os filhos deixam a casa. Em outros casos ela leva o casal a descobrir que tem poucos interesses em comum e não há nada que mantenha os dois juntos.

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Esses aspectos negativos de ter filhos podem explicar em parte porque um número cada vez maior de mulheres nos Estados Unidos e em todo o mundo não querem procriar. De acordo com o Censo nos EUA, o porcentual de mulheres americanas entre 15 e 44 anos sem filhos aumentou enormemente em apenas duas gerações: de 35% em 1976 para 47% em 2010.

Apesar deste quadro sombrio da maternidade pintado por pesquisadores como eu, muitas mães (e pais) consideram os filhos sua maior alegria. Muito similar ao parto, caso em que quase todas as mães acreditam que vale a pena passar pela dor e o sofrimento, muitas acham que a recompensa de ver os filhos crescerem vale o ônus que pode acarretar para o relacionamento com seu parceiro. 

Tradução de Terezinha Martino 

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