PUBLICIDADE

Por que continuamos deixando tudo para última hora?

Todo final de ano é a mesma coisa: fila cheia e paciência vazia

Por André Carlos Zorzi
Atualização:
A Rua 25 de Março, em São Paulo, fica quase intransitável em época de fim de ano Foto: Werther Santana / Estadão

Quem nunca deixou para fazer as "compras de fim de ano" na última hora?

PUBLICIDADE

Sabemos que precisamos fazê-las desde o primeiro dia de janeiro, mas mesmo assim esperamos chegar a semana na véspera de Natal para sair de casa, encarar longas filas, estresse e até falta de produtos. Até mesmo os shoppings centers funcionam 24 horas por dia nesses períodos, tamanho é o movimento dos compradores em busca de alimentos para a ceia e presentes para a festa.

"Nosso comportamento é muito mais sensível a consequências imediatas do que àquelas de longo prazo. Acabamos postergando a compra antecipada de presentes por outras atividades que requeiram menos esforço e tenham consequências instantâneas, como ficar no sofá descansando", explica Laura Zamot Rabelo, professora do Departamento de psicologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Desta forma, quando trabalhamos com um prazo, por exemplo o dia 24 de dezembro, véspera de Natal, é comum que tomemos atitudes apenas para evitar as consequências negativas que o seu não-cumprimento pode trazer, como uma criança chorando por não ter o brinquedo que queria, ou uma situação constrangedora no amigo-secreto da família.

A psicóloga também explica que acabamos aprendendo um "padrão" de deixar tudo para a última hora que acaba sendo efetivo. Quando você deixa um trabalho para ser feito no limite do prazo e consegue dar conta, isto acaba se estendendo a outras áreas de nossa vida. "Comportamentos que eliminam condições desagradáveis são mais facilmente aprendidos e mantidos do que aqueles que simplesmente nos trazem consequências agradáveis, pelo claro valor de sobrevivência que os primeiros têm", ressalta Laura.

Para mudar este tipo de situação, que pode causar problemas como estresse e ansiedade, é recomendável buscar uma maior organização por conta própria, utilizando listas e tabelas com coisas a serem feitas e compromissos marcados, por exemplo. Porém, Laura adverte: "É importante que sejamos realistas e calculemos o tempo que gastaremos em cada tarefa, bem como nos conheçamos para saber quando estamos cansados ou dispostos. Se você não gosta de acordar cedo, por exemplo, planejar ir à academia às seis da manhã tem alta probabilidade de dar errado".

É claro que o hábito de deixar as coisas para última hora não é uma exclusividade do brasileiro, mas fica evidente o quanto isso já faz parte de nosso cotidiano. "No Brasil é comum que não sejamos ensinados a nos organizar e planejar. Além disso, deixar as coisas para última hora é um padrão muito difundido em nossa sociedade. Em países em que há maior valorização da disciplina e organização, há consequências sociais para aqueles que não agem desta maneira", finaliza a professora.

Publicidade

A questão não se restringe somente ao âmbito psicológico. Para Luiz Simões, professor de Finanças de Risco na Universidade de São Paulo (USP), esta mania de muitos brasileiros pode ter impactos negativos para o próprio bolso do consumidor: "Você paga mais caro e compra coisas não tão boas. Cria-se uma ineficiência na vida das pessoas e do País. É uma característica nociva para o futuro, e no fim de ano se manifesta de forma explícita. Quando não há planejamento e não se antecipam as necessidades, isso se reflete no orçamento".

Simões também ressalta que a reflexão sobre deixar tudo para a última hora não deve se restringir apenas aos eventos de fim de ano, mas a tudo na vida, como por exemplo a declaração de impostos e a compra de um imóvel ou carro. "É importante aproveitar o momento de crise para fazer uma autocrítica na forma como você planeja a vida e organiza as contas. Por que deixar tudo para última hora?", questiona.

E você, já fez as compras de fim de ano?