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Morte: não prive as crianças deste assunto

Embora seja um tema delicado e difícil até para os mais velhos, é fundamental para o aprendizado emocional das crianças.

Por Sara Abdo
Atualização:
Deixe cada criança encontar o seu jeito de lidar com morte e despedidas. Foto: Pixabay

Tabu entre os adultos, conversar sobre a morte é uma das principais ferramentas para se ensinar às crianças o que é o ciclo da vida, como lidar com despedidas, qual a importância da empatia pelos sentimentos dos outros e que é natural sentir-se triste em alguns momentos. No entanto, muitos pais evitam falar sobre o tema mesmo quando alguém da família morre.

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Mas calma, esse é um assunto que requer momentos oportunos para ser abordado. É melhor esperar que a criança vivencie situações em que a morte se faz presente, seja porque um familiar ou animal de estimação faleceu, ou porque o filme que assistiu trouxe o assunto ou um amigo próximo experienciou a morte de alguém próximo. Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo, afirma que as crianças com menos de 7 anos precisam de uma situação concreta para entender os conceitos. 

É fundamental que as crianças não sejam privadas sobre o assunto da morte -a única certeza da vida. Quando excluídas dos momentos mais delicados ou difíceis, a percepção será de que elas não podem participar de todas as situações familiares, o que gera uma sensação de divisão. Segundo Rita, no curto prazo é provável que alterem seu comportamento para chamar a atenção para si. No longo prazo, podem tornar-se até insensíveis, já que foram privadas de sensações. 

Listamos algumas condutas para as famílias seguirem ao contar sobre uma doença ou morte de um ente próximo para um criança.

1) Cuidado com a linguagem figurada  Se alguém próximo morreu, não diga que está dormindo ou viajando. As crianças buscam o sentido literal para os símbolos, e muito provavelmente vão associar um viajante a alguém que nunca volta e terão medo de dormir porque imaginarão que nunca mais vão acordar.

É importante que as crianças se sitam a vontade para, então, sentirem-se parte da família e livre para expressar dúvidas e sentimentos. Foto: Pixabay

2) Ao falar sobre a morte, contextualize com a cultura da família Aos poucos a criança começará a perceber qual o sentido que a família vê nos fatos do dia a dia, e se sentirá parte do todo. Essa primeira apresentação da cultura familiar não significa que a criança será obrigada a compartilhar das mesmas percepções mesmo quando adulta. O importante é que, no começo da vida, ela se sinta incluída nas crenças e orações da família. 

3) Sim, crianças podem e conseguem ir a velórios Muitas vezes os filhos não vão a funerais porque os pais acreditam que é melhor não irem. Segundo Rita, não precisa ser assim. "Se a criança estiver alimentada e confortável, pode ficar no colo da alguém ou simplesmente observando o que acontece. Uma vez à vontade, ela se manifestará se houver desconforto". A psicóloga recomenda que os familiares deixem a criança livre. Se for possível, explique como é um velório e questione se ela quer ir. 

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4) Deixe a criança perguntar e esteja pronto para responder - ou para, juntos, encontrarem a resposta Na avaliação de Rita, muitas vezes as crianças precisam mais é perguntar do que entender um conceito perfeitamente. Deixe-a perguntar. Se não souber responder, não tenha medo de dizer "não sei, vamos descobrir juntos".

5) Não antecipe os assuntos Se o avô, tio ou cachorro estiverem doentes, informe que há uma doença e não comece a falar sobre o que pode acontecer. Às vezes os pais falam muito porque têm dificuldade de contorolar a própria ansiedade, mas acabam aumentando a dos filhos.

6) Não minta. Se necessário, apenas filtre  É sempre uma boa ideia dizer a verdade, mas nem sempre é ideal esmiuçar a situação ou tentar explicar sua gravidade. Rita exemplifica: se o avô foi vítima de um infarto causado por maus hábitos alimentares e obesidade, não precisa entrar em detalhes. "Converse com a criança, comente que o avô não cuidava bem da saúde, e só". 

7) Marley e Eu: um filme para crianças e adultos aprenderem que a morte e a tristeza fazem parte da vida

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