Artista faz série de ilustrações para contar história da morte de sua avó por covid-19

Taíssa Maia relata em desenhos como foi a chegada do coronavírus em sua casa: ‘espero que as pessoas tenham dimensão do que é ter a vida afetada por essa doença. Esse vírus é devastador’ 

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Por Caio Nascimento
Atualização:
Ilustrações da neta mostram em detalhes o antes e depois da morte de Maria José, de 84 anos Foto: Taíssa Maia

A ilustradora Taíssa Maia vem se destacando no Twitter com desenhos contando a história da morte de sua avó, Maria José Maia, e a recuperação de seu avô, Alberto Maia, ambos de 84 anos. Há quase dois meses, o casal testou positivo para o coronavírus e foi internado em estado grave, no Rio de Janeiro, mesmo tomando os cuidados necessários para evitar o contágio.

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 “No começo [da pandemia no Brasil], quando a quarentena não tinha sido decretada, eu falava para meus avós não saírem, mas eles cismavam em ir a uma padaria da esquina de casa. Diziam que não tinha problema nenhum”, recorda. “Mas, [conforme a situação ia se agravando], fomos tomando todos os cuidados. A gente fez o possível para evitar. Fazíamos compra por delivery e higienizávamos todas as comidas compradas”, completa.

O tempo foi passando e Maria e Alberto começaram a sentir os sintomas da covid-19, até que Taíssa resolveu chamar a ambulância para os dois. Foram dias de angústia para a artista, até que ela acordou com a notícia do falecimento na madrugada de 7 de abril, quando o País somava 14.049 infectados e 688 mortos. “Não pude me despedir do jeito que ela merecia. Só tivemos 10 minutos e meu avô [ainda internado] não estava sabendo que tinha perdido ela. Passamos uma semana nos preparando para contar para ele”, lamenta.

Taíssa Maia com os avós Maria José Maia e Alberto Maia Foto: cedida por Taíssa Maia

Taíssa, que é vizinha dos avós, convivia diariamente com Maria José. Matriarca e conhecida por ser uma pessoa forte, a idosa era uma amante do cultivo de plantas, bordava e era dona de ótimos cardápios na cozinha. A neta, por sua vez, bebia sempre dessa fonte de conhecimento. Dias antes da internação, dona Maria dizia que não aguentava mais a pandemia e queria voltar logo para sua vida normal. Com carinho e bom-humor, Taíssa respondia: “ainda temos muitas coisas para viver. Você ainda não me ensinou a bordar.”

Hoje, com a casa mais silenciosa, a ilustradora lida diariamente com a saudade e não entende como há pessoas que negligenciam a pandemia. Em capitais como São Paulo e Distrito Federal, por exemplo, as taxas de isolamento seguem baixas, o número de mortes aumenta a cada dia e as aglomerações são constantes.

“Não desejo para ninguém o que a minha família viveu. Não sei o que falta para as pessoas terem dimensão do problema. Fico boba de ver que ainda tem gente que sai na rua sem máscara, sai para encontrar amigos e faz festas”, desabafa. “Se nós, que tomamos cuidado, passamos por uma situação dessa, imagina quem não toma cuidado nenhum”.

Maria José se recuperava de uma cirurgia cardíaca a qual foi submetida no começo de 2020 Foto: Taíssa Maia

As ilustrações de Taíssa com a história completa já tiveram mais de 23 mil curtidas e quase 10 mil compartilhamentos no Twitter. Detalhando com imagens e sensibilidade as expressões faciais dos momentos que antecederam a perda e explicando a forma como vem lidando com o luto, ela explica ao Estadão que a série de desenhos a ajudou a ressignificar a dor que sente. 

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“Tem dias que são mais dolorosos que outros. Minha avó era muito presente na minha rotina”, diz. "Eu sou pega de surpresa pela falta dela com coisas pequenas, do dia a dia, como fazer compras no mercado e perceber que não preciso mais pegar a mesma quantidade do iogurte que bebíamos. Quando lembro dela é com muito carinho. Espero que, com essa série de ilustrações, as pessoas consigam ter dimensão do que é ter a vida completamente afetada por essa doença. Esse vírus é devastador”, afirma.

Confira as ilustrações de Taíssa:

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