Gêmeas conseguem nota para cursar medicina em pelo menos 30 universidades públicas

Com rotina de estudos, Sarah e Samyra Aramuni conquistaram o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, na Universidade Federal do Rio de Janeiro

PUBLICIDADE

Por Laila Nery
Atualização:
Sarah e Samyra conquistaram o segundo e terceiro lugar no ENEM para medicina na UFRJ. Foto: Samyra Aramuni

A medicina sempre foi um sonho para Samyra e Sarah Aramuni, 19 anos. As gêmeas cresceram na cidade Teixeira de Freitas, no extremo-sul da Bahia brincando de bonecas e a disputa era sempre para ver quem seria a médica nas brincadeiras. Agora, esse sonho está muito perto de se tornar realidade. Depois de se decepcionarem com as próprias notas em 2021, as gêmeas, que concluiram o ensino médio em 2020, passaram um ano inteiro estudando dez horas por dia. E o resultado foram notas muito acima das tradicionais notas de corte para medicina. As duas puderam escolher entre trinta universidades públicas. 

PUBLICIDADE

Na idade delas, a mãe, Flávia Aramuni, 45, também tinha o mesmo sonho. Aos dezoito anos ela conseguiu passar no vestibular para medicina, mas um outro sonho se tornou mais importante. Flávia descobriu a gravidez na mesma época que foi aprovada e priorizou os cuidados com a filha mais velha, Ayune. Não se arrependeu, mas vibrou quando as gêmeas conseguiram realizar os próprios sonhos.

“Nossos pais estão muito ansiosos, mais felizes que a gente, meus irmãos já vieram aqui também, fizemos uma festinha à noite entre nós”, Samyra contou ao Estadão que todos os amigos mais próximos e familiares que acompanharam o sonho e viram de perto a rotina de estudos que elas estabeleceram vibraram com a aprovação. Depois das notas imcompatíveis com o sonho no ano anterior, as duas perceberam que não existia uma fórmula fácil para estudar o que queriam. Precisavam dedicar mais tempo aos estudos, já que o plano era ter boas notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

As duas dividem quarto na casa dos pais, onde ainda moram, o que facilitou a rotina de estudos. “Cada uma estudava com a sua própria rotina, do seu próprio jeito, mas a gente sempre se ajudou, podíamos contar com a outra quando tínhamos dúvidas, respeitando as nossas questões individuais”, explicou Sarah, que fez 980 pontos na redação do ENEM por três anos consecutivos. As duas estudaram durante dez horas por dia, até fazer a prova. As boas notas na redação nos anos anteriores não haviam sido suficiente para a aprovação porque as duas tinham dificuldades em outras notas exigidas pelo Enem, que possuem um peso importante para a aprovação em medicina, como matemática e ciências da natureza. Este ano, quase todas as notas das gêmeas estavam bem acima de 700 pontos, o que garantiu as vagas.

“Elas duas vieram ao mundo com um minuto de diferença e quando vi o nome das minhas filhas na lista de aprovados com um centésimo de diferença na pontuação, eu me lembrei disso, não tinha como não lembrar e não me emocionar”, contou Flávia, mãe das meninas. 

Apesar de serem gêmeas, Sarah e Samyra nunca tentaram tomar decisões influenciadas pela outra quando se tratava do que gostavam. Optaram pelo curso de medicina no terceiro ano do ensino médio e focaram nisso, mas deixam claro que foram escolhas individuais. 

Com a mãe desempregada e o pai comerciante, as jovens começaram a fazer planos e ver as possíveis universidades que poderiam cursar enquando ainda estavam no ensino médio, antes de fazer a prova. Elas estudaram no Centro Territorial Estadual de Educação Profissional do Extremo Sul (Ceteps) e, assim como no ensino médio, o ensino superior numa instituição particular não era uma opção. “Pagar uma faculdade particular estava fora de cogitação. Chegamos a pensar em uma bolsa do Prouni, mas a prioridade era uma universidade pública e as duas precisavam passar no mesmo lugar, por conta dos custos. Então, antes do Enem, já sabíamos quais faculdades tinham vagas para duas estudantes e traçamos uma rota com aquelas que ficavam mais perto da nossa cidade. Temos uma lista enorme aqui no meu caderno, está tudo anotadinho”, explicou Samyra.

Publicidade

A mais de 800 quilômetros de Salvador, Teixeira de Freitas fica mais perto do Espirito Santo, de Minas Gerais e até mesmo do Rio de Janeiro do que da capital baiana.

“Fomos listando as universidades federais mais próximas da nossa cidade e que poderiam ser uma opção para a gente, antes de tomar a decisão. O campi da UFBA de Vitória da Conquista só tem uma vaga para medicina por semestre. A vaga seria para apenas uma de nós, então não era uma possibilidade desde o início. Nossa primeira opção foi a Federal de Juiz de Fora, seguida da Federal de São João del-Rei, por fim, escolhemos a Universidade Federal do Rio de Janeiro”, contou Sarah que conquistou o segundo lugar numa das faculdades mais disputadas do Brasil, Samyra ficou em terceiro.

As duas vão contar com a ajuda de familiares e amigos próximos para fazer a mudança nos primeiros dias de abril. As aulas começam no dia 11 do mesmo mês. “Ainda não caiu a ficha, só nós duas sabemos o quanto estudamos e o quanto foi difícil”, comemorou Sarah.